Os investimentos em fintechs brasileiras no primeiro semestre deste ano somaram US$ 1,4 bilhão, queda de 71% em relação aos US$ 2,4 bilhões do mesmo período do ano passado. Apesar disso, o co-fundador da Distrito, Gustavo Araújo, acredita que o setor continuará sendo um dos mais atraentes para investidores.
“O Brasil tem um dos sistemas financeiros mais modernos e sofisticados no mundo, e um Banco Central extremamente aberto a inovações. Ao mesmo tempo, pelo tamanho do mercado, as oportunidades de inclusão financeira e sofisticação são enormes. Por isso, as fintechs devem seguir liderando o ranking de investimentos em startups por muito tempo”, acredita.
Para ele, o ano de 2021 foi extremamente atípico para as startups de modo geral, que receberam US$ 9,7 bilhões em investimentos. No primeiro semestre deste ano, foram US$ 2,9 bilhões – queda de 44% em relação ao mesmo período do ano passado. A Distrito chegou a prever que 2022 quebraria o recorde, chegando a US$ 10 bilhões de aportes nessas empresas de tecnologia, mas agora está revendo as estimativas. “Mesmo que haja alguma surpresa positiva, não vamos chegar perto do recorde do ano passado”.
Exceção à regra
As rodadas de investimento nas startups mais novas do ecossistema – chamadas anjo, pré seed e seed – foram uma exceção à regra: o volume em dólares cresceu 86%, apesar da quantidade de negócios ter diminuído 22%. Isso significa que o tíquete médio ficou maior. Segundo Araújo, há duas explicações: 1) tem muito investidor anjo no Brasil; e 2) a aversão ao risco começa de cima para baixo, ou seja, as maiores empresas são as que sofrem primeiro.
De fato, houve uma queda forte nas cotações das empresas de tecnologia nas bolsas – vide Stone e Nubank, para citar apenas duas brasileiras -, e agora, o impacto chegou às startups “late stage”, as que estão mais próximas do IPO (abertura de capital na bolsa): queda de 68%.
Aliás, o cenário de aversão a risco (que vem sendo chamado também de “seca” ou de inverno”) vai obrigar as startups a postergarem planos de ir a mercado, diz o executivo. No Brasil, Ebanx, PicPay e Creditas estão entre elas. “Elas terão de cortar custos e perseguir o breakeven”, diz. Algumas delas, como a Loft e Vtex, já começaram pela parte mais fácil: demitindo. “Também veremos um movimento de downround, que vai penalizar investidores – mas ainda assim, penaliza menos do que uma falência”.
Para o segundo semestre, o presidente da Distrito acredita que espera uma correção dos valuations das startups “early stage”. “Os investidores estão mais seletivos, não se contentam mais apenas com crescimento exponencial, querem ver crescimento sustentável”. Há dinheiro em caixa, mas os juros altos representam uma alternativa segura – por isso, as oportunidades de investimento de risco estão sendo avaliadas mais criteriosamente.
Compra e venda
Em relação a fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês), a queda foi de 7% – e aqui também as fintechs se destacam, com 22 das 110 operações. “A correção dos preços está abrindo a oportunidade de aquisição para startups crescerem comprando outras”, diz. De fato, o perfil mudou bastante e no primeiro semestre, startups representaram metade dos compradores. A compra por parte de empresas caiu da faixa de 60% nos anos de 2010 a 2020 para 23% neste ano.
Na AL, a queda foi de 23%, diz Sling
De acordo com levantamento da Sling Hub publicado pelo Finsiders, no semestre,119 fintechs na região receberam, somadas, US$ 3,1 bilhões, resultado 23% menor do que o captado no mesmo período do ano passado. Mesmo com o recuo, nos seis primeiros meses de 2022, as fintechs representaram 45% do volume de investimentos em startups latinas.
No total, em junho, as startups na América Latina levantaram US$ 734 milhões em um total de 103 rodadas de captação, no pior resultado desde fevereiro de 2021. A cifra é 76% menor na comparação anual e 10,5% inferior ante maio. Já no semestre, o volume de investimentos caiu 17% ano contra ano.
A atividade de fusões e aquisições (M&A) envolvendo startups na América Latina também desacelerou em junho. Ao todo, foram 16 operações, 13 no Brasil. No mesmo mês do ano passado, esses números eram 25 (Latam) e 22 (Brasil), de acordo com a Sling Hub.
No ecossistema de fintechs, um dos destaques foi a compra do Kokpyt pela Toro Investimentos, do Santander – notícia publicada em primeira mão pelo Finsiders e depois confirmada pelo banco.
*Com Danylo Martins, do Finsiders