A maioria dos bancos brasileiros cobra taxas ocultas em remessas internacionais, “disfarçadas de taxas de câmbio”. A conclusão é de um estudo da Wise, plataforma eletrônica de remessas com sede em Londres e atuação no Brasil. Segundo o levantamento, o custo extra pode chegar a 6%. A pesquisa simulou remessa de US$ 200 dólares em sete instituições, em maio e dezembro do ano passado.
Essas taxas ocultas indicam que ainda falta transparência nas operações cambiais. Isso, apesar do novo marco cambial e do ranking sobre custo efetivo total do câmbio do Banco Central.
“A Lei de Câmbio (Lei nº14.286/2021), que entrou em vigor em 2022, trouxe inovações significativas. No entanto, persistem desafios na garantia de uma transparência genuína nos custos de pagamentos internacionais. Isso cria espaço para a ocultação de possíveis margens de lucro, mantendo as taxas inflacionadas”, disse Pedro Barreiro. O executivo é head de Banking da Wise para a América Latina e foi anfitrião da live promovida pela fintech para a apresentação do estudo.
Essa “opacidade” explica por que o Brasil é o segundo país do G20 com o custo mais alto para o envio de dinheiro ao exterior. Na época de divulgacão do estudo, em dezembro de 2022, havia 163 instituições autorizadas a fazer transferências internacionais. Destas, 93 eram bancos – e dos 10 maiores representam 77,7% do volume total de remessas.
O fato é que o câmbio não é tabelado, e cada instituição pode cobrar o que quiser – mas o que a Wise defende é mais “clareza” nessa cobrança, diz Barreiro. Na grande maioria das operações, apenas o IOF aparece.
Tecnologia
“O caminho para reduzir os custos é o uso de mais tecnologia, o aumento da competição e diferentes modelos de negócio”, diz Larissa Arruy, sócia do escritório Mattos Filho, que estava no evento. “Não quero dizer que bancos são o problema, eles têm estruturas muito complexas, custo operacional muito alto, o que naturalmente resulta também em um custo mais alto para o cliente”.
Para Fernanda Garibaldi, diretora-executiva da Zetta, associação que representa empresas de tecnologia que oferecem serviços financeiros digitais, acredita que a hora certa para debater a questão é agora. “A discussão sobre tudo o que a tecnologia trouxe para o mercado tem sido cada vez maior, desde a inteligência artificial até a tokenização de ativos, então é hora de falar também de melhorias nos pagamentos transfronteiriços, na esteira do Pix Internacional que vem aí”.
Para Lucio Hellery Holanda Oliveira, chefe de Subunidade do Departamento de Regulação Prudencial e Cambial do Banco Central também participou do debate online, outro ponto muito importante para o tema das remessas é a questão da simplificação da legislação. “Antes, as regras valiam para as operações independentemente do valor ou do risco. Uma exportação de um bilhão de dólares estava sujeita às mesmas regras de uma remessa de 100 dólares”, recorda. “As instituições autorizadas, como bancos e corretoras, podem adotar critérios próprios para realizar as operações considerando o valor da operação e o risco, em especial naquelas situações que envolvem operações de valores mais baixos com pessoas físicas. A gente já vê um reflexo operações sendo feitas mais rapidamente, com menos burocracia e com menos custos”, acredita.
Bandeira
Ex-Transferwise, a Wise passou um período sem realizar transações do Brasil para o exterior, quando acabou a sua parceria com o MS Bank. Em março de 2021, voltou a funcionar novamente, com as transferências a cargo do banco J.P. Morgan.
A bandeira da transparência é a estratégia escolhida pela Wise, inclusive globalmente, para se diferenciar da concorrência num mercado bastante disputado.
Além dela, tem Avenue, corretora digital norte-americana que tem o Itaú como acionista, a My Account, solução de conta global do Bradesco, a também britânica Revolut e os bancos digitais brazucas como C6 Bank, Inter, BS2 e outros.