Depois de dois anos muito difíceis, as fintechs brasileiras mudaram de estratégia. Com menos apetite dos investidores, cortaram custos (e funcionários), e passaram a usar mais os próprios recursos e intensificar parcerias. O foco, agora, não é mais crescer a qualquer custo – e sim o lucro.
A conclusão é da pesquisa Fintech Deep Dive 2024, realizada em parceria pela PwC e ABFintechs. O levantamento ouviu 59 fintechs entre 18 de junho e 9 de agosto. Pela primeira vez desde que começou a ser realizada, a pesquisa mostrou que mais da metade das fintechs (51%) já atingiu o breakeven. No ano anterior, o percentual era de 43%. Em relação ao uso de capital, 78% disseram depender apenas de recursos próprios. No ano anterior, esse percentual era 52%.
“Ainda mais cautelosas, as empresas estão priorizando a sustentabilidade financeira”, diz a pesquisa. “As fintechs estão ajustando suas estratégias para priorizar a automação, a integração com parceiros e a personalização de serviços, enquanto mantêm operações enxutas e sustentáveis”, disse em nota Willer Marcondes, sócio da Strategy& e líder de consultoria em serviços financeiros da PwC.
No entanto, o otimismo com 2024 é patente, com mais de 55% das fintechs prevendo dobrar de tamanho. Em 2023, 43% alimentavam a expectativa. E a realidade ficou bem próxima, com 37% conseguindo aumentar as receitas em mais de 100%.
E, apesar de privilegiar o uso de recursos próprios, as fintechs não desistiram de captar. Ao contrário: 44% almejam investimento entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões. No ano anterior, o percentual era de 24%. Em 2023, 31% delas receberam investimentos, dos quais 46% foi aportado por “anjos”.
Clientes, tecnologias e parcerias
A pesquisa revelou ainda duas outras estratégias que vêm sendo adotadas pelas fintechs em busca de equilíbrio.
Uma é o foco crescente no mercado B2B (business-to-business), que aumentou de 40% para 64% em dois anos. “O segmento que combina B2B e B2C (business to-consumer) tem apresentado uma queda contínua, o que indica uma concentração maior no atendimento exclusivo a empresas”, diz a pesquisa. O foco no atendimento à pessoa física (B2C) teve uma leve recuperação.
Em relação às parcerias, é uma evolução resultante da adesão ao Open Finance, que tem levado as fintechs a se conectarem mais estreitamente. “A complexidade desse processo envolve alinhar tecnologias, processos e interesses de diversos players, o que demanda coordenação estratégica”, segundo a pesquisa. Por outro lado, ao superarem esse desafio, as fintechs conseguem oferecer soluções mais inovadoras e abrangentes, “ampliando seu alcance e sua competitividade no mercado.”