Embora ainda incipientes, os veículos de corporate venture capital (CVC) começam a ganhar força no Brasil. Atualmente, cerca de 72% dos programas de CVC estão na fase inicial (foram criados entre 2020 a 2022), segundo relatório produzido pela Valetec Capital com base de dados da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap).
Outros 15,2% se encontram na fase de expansão (entre 4 a 6 anos de vida), desenvolvidos entre 2017 a 2019. Já apenas 12% estão na chamada etapa de resiliência (a partir de 7 anos de existência) e, portanto, foram criados até 2016.
Aos poucos, porém, isso começa a mudar. Com o maior interesse das mega corporações em fortalecer seus negócios e enfrentar os novos entrantes, 13 empresas de capital aberto lançaram seus fundos de CVC somente em 2022, com R$ 3,04 bilhões em capital disponível.
Grande porte
Ainda, as empresas que investem no setor são players consolidados. Para se ter ideia, 80,8% das companhias analisadas têm receita anual líquida acima de R$ 1 bilhão. As faixas mais expressivas de faturamento são as das que faturam acima de R$ 100 bilhões (19,5%), entre R$ 5 bilhões e 10 bilhões (19,5%) e de R$ 1 bilhão a R$ 5 bilhões (19,5%). Por outro lado, a participação das empresas com faturamento de até R$ 1 bilhão não é nada dispensável (19,5%).
Hoje, o tamanho do orçamento para investimentos dos CVCs está mais concentrado nas faixas R$ 50 milhões a R$ 120 milhões (17,6%) e de R$ 120 milhões a R$ 200 milhões (17,6%). Portanto, o budget entre R$ 50 milhões a R$ 200 milhões alcança 35%.
Têm destaque, ainda, os veículos na faixa dos R$ 200 milhões a R$ 500 milhões (23,5%) e os que investem até R$ 50 milhões (20%). Outros 11,8% estão na fase de estudo.
Conforme os dados da pesquisa da Abvcap, em comparação com a mesma pesquisa de 2021, os CVCs com mais de R$ 100 milhões registram aumento de 37,6 pontos percentuais, enquanto aqueles veículos com orçamento abaixo de R$ 50 milhões tiveram uma queda de 14,4 p.p..
“Pode-se constatar que a chegada de grandes fundos começa a alterar a dinâmica de CVC praticada anteriormente”, aponta o documento. “Ao comparar o tamanho e a fase de maturidade do CVC, concluímos que a maior parte dos novos CVCs se concentra na faixa entre R$ 50 milhões e R$ 120 milhões; já os mais antigos, em fase de resiliência, se concentram em valores a partir de R$ 120 milhões.”
Setores e regiões
Na divisão por setores da empresa matriz, o mais forte é o industrial (manufatura, químicos e materiais avançados, com 22%. Depois, surgem energia (geração, transmissão e distribuição, com 17,1%; saúde (farmacêutica, médico hospitalar e diagnóstico), com 12,2%. E, ainda, serviços (consultoria de negócios e jurídica, educação, turismo, imobiliária), que desponta com 12,2%, e tecnologia (hardware e software), com outros 9,8%.
Em menor escala, estão serviços financeiros, que tem 7,3%; telecom, com 4,9%; e varejo, aparecendo com outros 4,9%).
Quanto o assunto são as regiões dos aportes, 32,4% dos CVCs concentram todos os seus investimentos no Brasil, mesmo com 82,5% das empresas sediadas no país. As demais multinacionais se encontram em território brasileiro, mas possuem sede na Europa (10%), América Latina (5%) e Estados Unidos 2,5%).
A maior parte dos CVCs (64,7%) investe em toda a América Latina. Mais da metade (52,9%) aposta suas “fichas” na América do Norte. Outros 32,4% aportam recursos em empresas na Europa e 23,5%, em negócios na Ásia. Em menores proporções, aparecem Oceania (11,8%) e África (5,9%).
CVCs no mundo
Em âmbito global, 60% dos programas de corporate venture capital possuem mais de US$ 100 milhões para investir em startups, segundo informações consolidadas pela Valetec a partir de dados da Global Corporate Venturing. Mais precisamente, 27% têm entre US$ 51 milhões e US$ 100 milhões, 20% abaixo de US$ 50 milhões e, 17%, entre US$ 101 milhões e US$ 200 milhões.
A maior parte (26%) dos respondentes diz ter entre US$101 milhões e US$ 300 milhões de ativos sob gestão, seguido por menos de US$ 50 milhões (21%) e, entre US$ 51 milhões e US$ 100 milhões (19%). Apenas uma pequena fração (9%) conta com mais de US$ 1 bilhão.
Os setores mais comuns entre as empresas-mãe são indústria (35%), energia, recursos naturais e utilities (26%) e tecnologia da informação (24%). Enquanto metade dos investimentos são realizados no setor de transporte, mobilidade e logística (50%), seguido por TI, energia por TI (43%), energia (41%), indústria (41%) e serviços financeiros (30%). Na sequência, estão varejo (29%) e agtechs e foodtechs (28%).
Na preferência de investimento, 92% dos fundos estão de olho no early-stage (Séries A e B). Uma parcela menor (53%) afirma olhar também para a Série C, enquanto 48% está atento ao seed. No geral, 58% das empresas entrevistadas dizem que a equipe de CVC está envolvida com a atividade de M&A da corporação.
Por sua vez, 33% responderam que não atuam em projetos de fusões e aquisições e apenas 9% não têm uma divisão de M&A na companhia. Mais da metade (57%) dos respondentes ainda não adquiriu nenhuma startup do portfólio, e 34% comprou entre uma e cinco. Para 4% das corporações, há a expectativa de adquirir pelo menos uma quando o portfólio estiver mais maduro.
O relatório da Valetec está disponível para download na página da empresa.
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