Durante a abertura do “15º Congresso de Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo (PLDFT), o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, fez um discurso contundente em defesa do sistema bancário tradicional. E uma crítica direta aos agentes financeiros não bancários que, segundo ele, têm se mostrado vulneráveis e até coniventes com práticas criminosas e golpes financeiros.
“Os bancos não precisam, não querem e não aceitam clientes do crime — nem seu dinheiro”, afirmou, reforçando o compromisso das instituições financeiras com a integridade do sistema. O executivo disse, ainda, que os bancos continuarão “resistindo firmemente” às tentativas de infiltração de recursos ilícitos e alertou para a necessidade de eliminar os “elos fracos” do ecossistema financeiro.
Sem citar nomes, ele mirou principalmente nas novas instituições, como fintechs. “Há uma proliferação de instituições que já se mostraram frágeis e vulneráveis no enfrentamento do crime. Os bancos, supervisionados de forma rigorosa pelo Banco Central, continuarão sendo um escudo contra engenharias financeiras criminosas”, disse.
Contaminação
O presidente da Febraban também destacou que nenhum elo do sistema financeiro pode fraquejar diante da criminalidade. E criticou aqueles que, em busca de crescimento rápido, “negociam a integridade” de suas operações.
“Quem tolera a ausência de mecanismos de compliance e de integridade não pode continuar no sistema financeiro nacional”, afirmou. “Ou agimos assim, ou acabamos nos contaminando, como se estivéssemos todos na mesma lama — e nós não estamos.”
O discurso de Isaac ecoa as operações recentes da Polícia Federal que investigam lavagem de dinheiro e fraudes envolvendo empresas de tecnologia que atuam como intermediários financeiros, plataformas digitais.
O executivo lembrou que, embora a abertura do setor tenha ampliado a concorrência e democratizado o acesso a produtos financeiros, também criou brechas exploradas por criminosos, e que essas falhas precisam ser urgentemente corrigidas.
Bancos e reguladores
“Não há mais espaço para contemporizar com o malfeito na nossa indústria financeira. Os bancos permanecerão ao lado dos reguladores, como o Banco Central e o Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras], no endurecimento das medidas de combate ao crime”, ressaltou.
Para Isaac, a defesa da integridade do sistema não é uma escolha, mas uma obrigação coletiva. Ele pediu que todas as instituições — novas e tradicionais — adotem políticas rígidas de governança e mecanismos de controle, e reforçou a importância da integração entre o setor privado e o poder público.
“Prevenir e combater o crime organizado não é um favor, é uma obrigação. Quem não quer contribuir com a segurança e a integridade do sistema não é bem-vindo ao lado dos bancos.”
Bets
O presidente da Febraban também abordou dois temas sensíveis: a legalização das apostas esportivas (bets) e o uso intensivo de dinheiro em espécie. Segundo ele, ambos os fenômenos aumentam o risco de lavagem de dinheiro e demandam uma atuação coordenada entre bancos, reguladores e autoridades de persecução. “Para que tenhamos uma ideia, no ano passado, houve algo como 210 bilhões de operações financeiras em espécie”.
“Os bancos terão de monitorar todas as operações de pagamento de apostas online e denunciar práticas ilícitas. É preciso agir com vigilância total e intransigência em relação a recursos de origem duvidosa”, afirmou.
Ao longo do discurso, Isaac procurou diferenciar o sistema bancário tradicional das instituições que, segundo ele, “contaminam o ambiente” financeiro com práticas ilegais. “Os bancos não são sinônimos de crime. Ao contrário, o sistema bancário brasileiro é visto no exterior como um ativo nacional, uma alavanca para o desenvolvimento”, disse.
Para o presidente da Febraban, a reputação e a confiança são os pilares que sustentam o crédito concedido à sociedade — hoje superior a R$ 7 trilhões — e o desenvolvimento do país. “Queremos continuar sendo uma alavanca para o desenvolvimento, com integridade e segurança”, concluiu.