CRIME ORGANIZADO

Facções manipulam fintechs e cripto é o novo doleiro, alerta PF

Troca de informações entre instituições financeiras e forças de segurança é fundamental para combater atividades ilícitas, dizem especialistas

Roberto Biasoli/Polícia Federal
Roberto Biasoli/Polícia Federal | Imagem: print de tela

Facções criminosas estão se aproveitando das fintechs e da expansão dos criptoativos para avançar em suas atividades ilícitas. A avaliação foi feita por Roberto Biasoli, coordenador-geral de Repressão a Drogas, Armas, Crimes contra o Patrimônio e Facções Criminosas da Polícia Federal (PF), durante o 2º Congresso de Prevenção e Repressão a Fraudes da Febraban nesta quarta-feira (12/3).

“Temos visto organizações criminosas manipulando essas instituições. Os criptoativos são o novo doleiro”, disse Roberto. Ele enfatizou que o trabalho conjunto entre as forças de segurança e o setor bancário tem permitido avanços significativos. “Ainda temos muito que aprender, mas trabalhando juntos, ensinamos um pouquinho e aprendemos muito.”

De acordo com o porta-voz da PF, as informações fornecidas pelo setor bancário são essenciais para compreender os esquemas de facções criminosas e desarticular suas operações financeiras ilícitas. “Nosso trabalho depende de informação, a matéria-prima da polícia é informação”, afirmou. Segundo Roberto, apenas em sua área, foram sequestrados R$ 2,1 bilhões em bens e valores ilícitos em 2024.

Para Rodney da Silva, diretor de Operações Integradas e de Inteligência da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Diop/Senasp), é fundamental a cooperação entre os setores público e privado para aumentar a eficiência no combate às fraudes e aos golpes financeiros. Trata-se de um problema que vem ganhando proporções cada vez maiores com a evolução de sistemas de transações instantâneas, como o Pix

Uma das iniciativas em estudo, segundo Rodney, é a possibilidade de instituições privadas, como os bancos, poderem atuar como colaboradoras da inteligência nacional de segurança pública, criando um canal fluido de troca de informações. “A iniciativa privada pode nos ajudar muito. Muitas instituições bancárias e empresas de transporte de valores, por exemplo, têm estruturas de inteligência que podem colaborar no enfrentamento ao crime organizado”, afirmou.

Colaboração

Nesse sentido, Rodney destacou o projeto “Segue Bank”, uma plataforma da Senasp que visa a troca segura de informações entre o setor bancário e os órgãos de segurança. O objetivo é permitir que as instituições financeiras acessem sistemas de inteligência da Senasp mediante credenciamento rigoroso. Em contrapartida, os bancos compartilham dados relevantes para investigações criminais. “Estamos revisando o escopo das nossas plataformas para garantir um fluxo mais eficiente de informações”, explicou ele.

A preocupação com fraudes bancárias também se estende ao uso das chaves Pix como ferramenta para crimes financeiros, citou Rodney. Segundo ele, há uma demanda por padronização nas respostas das instituições financeiras a transações fraudulentas, visto que cada banco tem seus próprios protocolos. “O ideal seria criar um protocolo único para essas respostas, permitindo a ação uniforme das forças de segurança”, defendeu.

Eduardo Tavares Puente, superintendente de Segurança, Inteligência e Risco Operacional do Itaú Unibanco – moderador do painel -, também destacou a aproximação entre o setor bancário e os órgãos de segurança. “Em 25 anos de atuação no setor, nunca vi a Febraban tão próxima das forças policiais, do Ministério da Justiça, entre outros órgãos de segurança”, disse.