Zetta quer replicar modelo de registradoras de recebíveis para o consignado privado

No último dia do Fintouch 2023, evento anual da ABFintechs, a Zetta revelou uma agenda de sete pontos que negocia com o governo e com o legislativo. A Zetta é uma associação criada por Nubank e Mercado Pago para defender as fintechs.

Além da portabilidade de salários, crédito e benefícios como o PAT, a associação sugere que o modelo das centrais registradoras de recebíveis seja replicado para salários dos trabalhadores da iniciativa privada.

“O crédito consignado privado é pouco explorado no Brasil; ampliar o seu uso vai ajudar a baixar as taxas de juros”, diz Rafaela Nogueira, Public Policy Manager no Nubank e economista-chefe da Zetta. Segundo ela, os trabalhadores com carteira assinada em empresas privadas são 21% da população, mas só 6% recorre ao crédito consignado. A situação difere da que ocorre com servidores públicos.

“A logística do consignado privado é complicada, é preciso fazer acordos bilaterais entre o banco e a empresa. Copiar ideia da registradora de recebíveis para centralizar liberta o trabalhador da dependência do departamento de RH. E a dívida vai junto quando ele muda de emprego”.

Sete propostas

Mas esta é apenas uma das sete propostas nas quais a Zetta está trabalhando para promover a “aceleração econômica e desenvolvimento”, que Rafaela revelou em sua apresentação. Todas, obviamente, visam garantir maior acesso das fintechs a mercados ainda dominados pelos bancos incumbentes. Assim, a Zetta entende que a concorrência seria estimulada e os juros baixariam.

Recentemente, a Zetta divulgou uma pesquisa comprovando a tese de que as fintechs têm ajudado a aumentar a concorrência e a baratear os custos para os clientes.

Em julho, a nova diretoria da entidade antecipou ao site parceiro Finsiders algumas dessas ideias.

Outra frente defendida pela associação é o Pix salário. “O Banco Central é muito fã dessa ideia, mas sua implantação requer um momento político favorável”, diz a economista. Estudo da Zetta revelou que da forma como é hoje, a portabilidade de salário é muito burocrática, demorada e desconhecida pela maioria dos clientes. “É um instituto falido”.

“Criar uma chave Pix exclusiva para portabilidade de salário resolveria o problema”, acredita. “A pesquisa mostra que se fosse tão simples quanto um Pix, 70% dos clientes usariam a portabilidade – não só de salário, mas também de crédito.”

Em relação a este segundo ponto, outra sugestão da Zetta, também inspirada na experiência internacional, é incluir o saldo de cartões de crédito na portabilidade.

ID digital única

A quarta proposta é criar identidade digital única para permitir acesso universal a dados – principalmente de bases públicas. “Esta hoje é uma grande barreira de entrada, os incumbentes têm anos e anos de dados acumulados, e nem o Open Finance vai resolver essa assimetria sozinho”, diz Rafaela.

Em quinto lugar, a Zetta defende a portabilidade e interoperabilidade do PAT, “na esteira do decreto 11.678/2023“. Rafaela diz que a ideia ainda é “um filho sem pai”, mas deve virar lei até 2024: “Hoje o pagamento fdo PAT está na mão de poucos players, com a mudança novos entrantes devem trazer taxas menores, mais lojistas vão aceitar, e o consumidor vai poder escolher onde receber o beneficio”.

Os pontos 6 e 7 são sugestões à reforma tributária sobre consumo (PEC 45/19): a associação quer regime especifico para os setores financeiro, assim como na reforma tributária da renda.

Segundo a Zetta…

  • Metade dos que têm conta em banco entendem que a portabilidade é difícil – e que os bancos dificultam
  • A cada 10 solictações de portabilidade de salários, só metade sai
  • 16% da população bancarizada já tentou fazer portabilidade de crédito ou de salário
  • 60% não sabe o que é portabilidade
  • 70% faria se fosse tão simples quanto um Pix