FUTURO

IA preditiva vai melhorar segurança do sistema financeiro, diz Campos Neto

Em evento da Nu Asset e do InvestNews, o ex-presidente do Banco Central e agora executivo do Nubank também defendeu a autonomia do BC

Roberto Campos Neto/Nubank
Roberto Campos Neto/Nubank | Imagem: Danylo Martins

A capacidade preditiva da Inteligência Artificial (IA), ao identificar padrões e antecipar riscos, vai melhorar a segurança do sistema financeiro como um todo. A visão é de Roberto Campos Neto, vice-chairman do Nubank e ex-presidente do Banco Central (BC). Para ele, a tecnologia já está disseminada em processos operacionais no mercado de investimentos e vem ganhando força na área de consultoria (advisory) a clientes. Ainda assim, ele enxerga desafios para a movimentação de recursos ser automatizada com IA.

“Quando eu participo dos fóruns internacionais, existe uma certa restrição que a movimentação de dinheiro entre contas e investimentos seja feita com IA. Porque são modelos que a gente ainda tem pouca capacidade de entender o que está por trás da decisão que foi tomada. Então, nessa parte ainda tem um caminho pela frente”, disse Campos Neto, por videoconferência, em evento realizado nesta quinta-feira (4/9) pela Nu Asset, gestora de fundos do banco digital, e pelo InvestNews, portal de notícias que pertence à instituição.

Quase lá…

Na interação entre as instituições e os clientes, Campos Neto vê modelos avançando, o que traz mais eficiência para o processo de advisory. Mas ainda há muito a evoluir, disse ele. “Em algum momento, as pessoas vão achar que o atendimento via agente [de IA] é melhor do que uma pessoa do outro lado do telefone. A gente não está lá ainda. Os números mostram claramente que as pessoas ainda preferem interagir com um humano do outro lado.”

Entusiasta de inovação e tecnologia, o executivo traçou um prognóstico de evolução “exponencial” com o desenvolvimento da IA e de outras tecnologias no setor financeiro. “Vamos entrar num processo exponencial, com mais abertura de dados, mais capacidade de processamento de dados e mais investimento em IA. É um processo com início lento, mas exponencial e transformativo daqui pra frente”, disse Campos Neto.

Para o ex-presidente do BC, o Open Finance no Brasil está “ficando maduro” e vai permitir uma maior portabilidade de produtos e serviços financeiros, assim como está aumentando a competição e diminuindo a assimetria de informação. “Mas ainda não vimos os efeitos do Open finance, eles ainda virão”, afirmou. Já a tokenização de ativos possibilita ganhos de eficiência, e ajuda no controle de riscos e no funding (fonte de recursos), disse Campos Neto. “Para mim, a intersecção principalmente entre dados abertos e tokenização é poderosa.”

Autonomia do BC

Ainda durante sua fala, Campos Neto reafirmou seu apoio à independência do BC, classificando-a como “uma conquista muito importante para os brasileiros”. O ex-presidente da autarquia explicou que a autonomia institucional é fundamental para a eficácia da política monetária, proporcionando “custo mais baixo de se atingir as metas” devido ao aumento de credibilidade da instituição. “Você tem mais credibilidade no Banco Central, então o seu canal de política monetária fica mais forte, o que significa que o custo de atingir suas metas é mais baixo”, disse.

O executivo alertou ainda para os riscos de ataques à autonomia da instituição, argumentando que isso enfraquece o mecanismo de transmissão da política monetária e pode exigir intervenções mais agressivas. “O que acontece é que nós enfraquecemos o canal de política monetária, o que faz com que a gente tenha que fazer um movimento maior, às vezes nos juros, para atingir o mesmo objetivo”, explicou Campos Neto, concluindo que interferências na autonomia são “piores, no final das contas, para todos”.

O sucessor de Campos Neto, Gabriel Galípolo, vem defendendo a aprovação da PEC 65/23 no Congresso. A Proposta de Emenda Constitucional busca garantir autonomia financeira à autarquia. “É essencial que a gente consiga avançar nessas agendas [institucionais] para que o Banco Central não sofra e seja vítima das próprias entregas”, afirmou ele, em evento recente.