Da esq. para a dir.:João Tosin/Celero, Boanerges Ramos Freire/Boanerges & Cia, Linconl Rocha/Pagos, Eduardo Abreu/Visa e Fernando Fontes/Cerc | Imagem: Léa De Luca
Da esq. para a dir.:João Tosin/Celero, Boanerges Ramos Freire/Boanerges & Cia, Linconl Rocha/Pagos, Eduardo Abreu/Visa e Fernando Fontes/Cerc | Imagem: Léa De Luca

Enquanto o Brasil já consolidou o Pix e levou a digitalização ao bolso de praticamente toda a população, o universo das empresas ainda caminha a passos lentos. No B2C, cerca de 60% dos pagamentos já são digitais. No B2B, esse número é inferior a 10% — em um mercado que movimenta quase R$ 6 trilhões por ano.

A informação é de Eduardo Abreu, vice-presidente de Desenvolvimento de Novos Negócios da Visa do Brasil, durante o painel sobre pagamentos B2B no evento “Payment Anyway 2025”, realizado pela Cantarino Brasileiro em São Paulo na segunda-feira (20/10). O executivo destacou que o contraste revela uma oportunidade gigantesca. “No B2C, conseguimos combinar inovação, escala e inclusão. No B2B, há muito espaço para fazer o mesmo — mas com desafios próprios, que exigem colaboração entre players, tecnologia e dados de qualidade”, afirmou.

A sensação de que o B2B “ficou para trás” foi compartilhada pelos demais participantes. Para Boanerges Ramos Freire, presidente da consultoria Boanerges & Cia, o tema só recentemente começou a ganhar a atenção que merece. Ele lembrou que, durante anos, o aspecto financeiro das relações entre empresas era tratado como um mal necessário, e não como parte estratégica do negócio. “Agora começa a surgir uma percepção diferente: há valor nisso”, comentou.

Falta integração…

Na prática, o que falta é integração — entre crédito, informação fiscal e meios de pagamento. Segundo Linconl Rocha, presidente da Pagos, associação do setor, essa junção é o ponto de virada. “Quando conseguimos conectar o documento fiscal, o crédito e o pagamento, temos um repositório poderoso de informações. Isso gera eficiência, reduz risco e abre espaço para crédito digital de verdade”, explicou.

Linconl também chamou atenção para o impacto da reforma tributária, que deve aumentar a complexidade operacional do B2B. “Com o IBS e o CBS, cada pagamento vai precisar carregar dados fiscais e de imposto. O desafio é transformar isso em vantagem, com tecnologia e automação”, disse.

A Cerc, especializada no registro de recebíveis, já enxerga essa convergência como inevitável. O cofundador e CEO Fernando Fontes afirmou que associar documento fiscal, crédito e pagamento é o que dará confiabilidade às operações. “Isso será ainda mais importante com as novas exigências tributárias. O registro organizado de duplicatas e recebíveis é a base para destravar crédito com segurança”, afirmou.

… e dados confiáveis

Mas há um problema anterior: a falta de dados confiáveis sobre o desempenho das empresas. Como destacou João Tosin, cofundador da Celero, o modelo contábil-fiscal atual ainda não gera informações úteis para análise de crédito. “O balanço das pequenas empresas não serve para isso. É preciso enriquecer os dados transacionais, transformando-os em informação gerencial e em P&L de verdade, em tempo real”, disse.

Na visão de João, essa transformação passa por repensar o papel das instituições financeiras no atendimento ao segmento empresarial. “O B2B ainda é tratado com ferramentas adaptadas do B2C. As empresas precisam de parceiros que entendam suas dores — e isso começa pelos dados”, afirmou.

“O mesmo salto que vimos no Pix pode acontecer aqui também”, resumiu Linconl. “Mas vai exigir visão, tecnologia e, principalmente, colaboração.”