
O Money 20/20, mais importante evento global do setor financeiro e de fintechs, transformou neste final de outubro a cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos, no epicentro das discussões sobre o futuro do dinheiro. Reunindo especialistas de diversos países, o encontro anual debate estratégias e tendências que estão redefinindo os pagamentos e serviços financeiros em escala mundial. O evento aborda temas como economia digital, inclusão financeira, inovação em meios de pagamento e segurança das transações.
As lições do evento mostram que as novas fronteiras das finanças digitais não estão apenas na Inteligência Artificial (IA) ou nos criptoativos. Mas, também, na intersecção entre dados, experiência do usuário e compliance contínuo. É esse tripé que vem construindo o caminho para que investimentos, stablecoins (criptomoedas estáveis, atreladas a ativos como dólar, euro, real e commodities) e pagamentos instantâneos alcancem o mainstream.
De maneira silenciosa, os trilhos financeiros estão se tornando invisíveis. A infraestrutura opera nos bastidores, enquanto a atenção se desloca para o que realmente importa. Ou seja, experiências sem fricção, liquidação em tempo real, taxas menores e confiança ampliada.

Como destacou o Money 20/20, essa fluidez só é possível com regulação clara, licenças bem definidas e controles contínuos de identidade e risco. Esse é o alicerce que permitirá a entrada de marcas tradicionais e novas parcerias entre incumbentes e players nativos digitais.
Quatro lições do Money 20/20 para o mercado
1) Open Banking e IA Generativa
A plataforma norte-americana Betterment, consultora e fiduciária independente de investimentos digitais, que ultrapassou US$ 65 bilhões em ativos sob gestão, mostrou que o Open Banking é hoje um habilitador essencial para o crescimento das plataformas de investimento. Com onboarding e funding em minutos, integração via OAuth e visão holística do cliente, a empresa reduziu o tempo e o custo operacional. Ao mesmo tempo, ampliou a qualidade do aconselhamento financeiro.
O uso de IA Generativa (GenAI) aparece como ferramenta de eficiência interna, com copilotos para desenvolvimento e comunicação, e não como substituto total do conselheiro humano. Portanto, Open Banking + UX + governança sólida ainda superam qualquer robô conselheiro.
2) Dados e confiança: o caso do Canadá
A canadense Interac, de transferência de fundos entre contas pessoais e comerciais, junto com a Paramount Commerce, provedora de soluções de pagamento que usa o sistema Interac, apresentou um caso prático de como dados bem utilizados fortalecem a confiança. O insight local do “Moving Day”, quando milhões de canadenses mudam de endereço no mesmo dia, inspirou campanhas segmentadas de e-transfer. Elas se tornaram referência no país.
No combate à fraude, os avanços incluem bloqueio por emissor, categorização de transações P2P (entre pessoas) e prevenção “antes do clique”. A fricção, quando existe, é intencional e usada para reforçar a segurança e percepção de controle do usuário.
A nova Retail Payments Act, do governo canadense, abriu o acesso aos trilhos de pagamentos para entidades registradas, fomentando a concorrência e reduzindo custos, proporcionando experiências mais seguras sem comprometer a conversão.
3) IA pragmática e personalização bancária
Para a FIS, um dos gigantes globais de tecnologia financeira, o futuro do core bancário será orquestrado, não somente automatizado. A empresa enfatizou o papel dos agentes de IA que replicam “funções humanas” e aprendem nuances da jornada do cliente, mas deixou claro que sem uma base sólida de dados estruturados e acessíveis, não há personalização real.
O consumidor já vive uma experiência altamente personalizada no varejo digital. Ele espera o mesmo nível de relevância e contexto das instituições financeiras. A IA, aqui, é meio, não fim.
4) Cripto embutido (e invisível)
O painel conjunto entre as plataformas globais Uphold e Exodus mostrou que o caminho para o mainstream cripto passa por compliance first, UX first. Ou seja, construir infraestrutura com controles e licenças integrados desde o design, facilitando parcerias com bancos e marcas tradicionais, e simplificando processos de autocustódia e suporte para tornar o uso de cripto tão intuitivo quanto um app bancário comum.
Stablecoins já estão representando cerca de 4% do mercado e despontam como trilho natural para liquidações instantâneas e payouts cross-border – liquidações e repasses internacionais em tempo real, com custos menores e previsibilidade, tornando o uso uma alternativa atrativa para empresas globais. Em paralelo, a IA começa a normalizar o cripto no stack corporativo, reduzindo complexidades e integrando-o ao fluxo das finanças programáveis.
Dados, compliance e IA no suporte
Apesar das diferenças de abordagem, os painéis convergiram em uma tese: os dados são os novos pilares competitivos, do antifraude ao marketing, passando pela experiência do usuário.
A compliance contínua deixou de ser um obstáculo e passou, então, a ser um recurso de produto, embutido de fábrica na infraestrutura.
E a IA pragmática, que hoje acelera operações e atendimento, prepara o terreno para uma segunda fase: multiagentes coordenando fluxos de risco, onboarding e aconselhamento financeiro com governança explicável.
O evento como um todo confirmou uma virada de paradigma: a inovação que vence é a que desaparece. Ao se tornarem invisíveis, os trilhos financeiros tornam a experiência intuitiva, segura e acessível, e a tecnologia cumpre seu papel, que é o de deixar o usuário no centro e os sistemas ao fundo. No futuro das finanças, confiança, interoperabilidade e propósito são as palavras-chave.
*Executivo responsável por Receitas (Chief Revenue Officer, CRO) da Azify
 
			 
											 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		