A demanda recente por maior qualidade de vida nos condomínios expôs as fragilidades de administração e infraestrutura nesses espaços, resultando na contratação de síndicos com experiência em gestão nos últimos anos. Esse movimento também abriu espaço para startups como o CondoConta, conhecido como o ‘banco dos condomínios’. Até dezembro, a fintech almeja atingir R$ 1 bilhão transacionados na sua plataforma.
Para alcançar o feito, a empresa vem lançando mão de algumas estratégias. No ano passado, em entrevista ao Finsiders, a empresa estava captando um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) de R$ 50 milhões junto à Galapagos Capital. Esse primeiro fundo deve ser liquidado em abril. Agora, a expectativa é anunciar um novo FDIC até maio.
Desde janeiro, o banco colocou à disposição dos clientes o primeiro internet banking exclusivo para o setor e integrou suas operações com o Pix. Dessa forma, movimentou R$ 65 milhões em depósitos entre o começo de janeiro até o dia 10 de março, com crescimento de 28% das transações feitas somente com o sistema de pagamento instantâneo.
“Estamos dobrando a receita a cada ano, mirando o breakeven em 2024”, afirma Rodrigo Della Rocca, CEO e cofundador do CondoConta, em conversa com o Finsiders.
Ter lucro, e não somente ganhar escala, mostra na prática a mudança de realidade para o mercado de tecnologia, inclusive para as fintechs.
Desde o início, em 2019, a startup fundada em Florianópolis (SC) já movimentou R$ 450 milhões. Até maio, deve bater a marca de R$ 500 milhões em transações. E há no pipeline outros movimentos para chegar no valor simbólico de R$ 1 bilhão.
Os planos do CondoConta
O CEO diz que, como 80% dos condomínios brasileiros foram construídos no século passado, até pouco tempo atrás esses espaços tomavam crédito prioritariamente para a instalação de estruturas que pudessem trazer mais eficiência e comodidade, como placas de energia solar, portaria remota, academia e salão de festas. Essa demanda permaneceu até a virada de 2021 para 2022.
De lá pra cá, porém, o clima de instabilidade econômica pesou sobre as famílias e a principal dor dos síndicos passou a ser a inadimplência. Segundo pesquisa junto a 2,7 mil condomínios feita pela APSA, administradora de condomínios, a falta de pagamento das taxas condominiais passou de uma média de 12%, em 2021, para 17% no ano passado.
Na prática, quando há um inadimplente no prédio, o gestor precisa aumentar o valor do condomínio para todos os outros moradores, para equilibrar as finanças do caixa, algo que gera insatisfações.
“O que a gente percebeu, com a mudança de cenário do ano passado pra cá, é que se antes o financiamento liderava a demanda de crédito, para obras como placa solar, agora o aumento [da demanda] é para lidar com a inadimplência”, diz Della Rocca. E isso permeia tanto as classes A e B, como também a classe C e os empreendimentos do Minha Casa, Minha Vida, acrescenta ele.
Por isso, o CondoConta desenvolveu dentro de casa uma solução para resolver o gargalo. Com o “Receita Garantida”, a fintech usa os recursos do FDIC para disponibilizar a receita integral aos condomínios. Então, a dívida e os riscos passam a ser da fintech, que pode oferecer condições de parcelamento e descontos ou até redução de juros e multa — algo que os prédios não conseguem fazer com tanta flexibilidade.
“O síndico está olhando menos para crédito e mais para a receita garantida, que é o crédito recorrente. Mas ele quer garantir isso sem ter que recorrer à justiça e ter problema com os créditos”, explica o CEO.
Um dos motivos do panorama mais duro é o aumento da taxa básica de juros, a Selic, que passou de 2% para 13,75%, entre março de 2021 e setembro de 2022.
Como as pessoas físicas nesses espaços também encontram dificuldades para pagar suas contas, há testes em curso para oferecer linhas de crédito a funcionários, como porteiros, faxineiros e zeladores, além dos próprios condôminos. “Começamos a abrir as portas para os CPFs”, diz Della Rocca, sem muitos detalhes.
Expansão
Neste ritmo, o CondoConta vem ampliando rapidamente o número de condomínios e pessoas físicas na carteira. Ao final de 2021, eram cerca de mil prédios, com 60 mil usuários mensais. Já no final do último ano, superou os 2 mil condomínios, com cerca de 60 mil condôminos.
Apesar de a maior parte dos clientes estar concentrada no sudeste, com São Paulo (SP) na ponta, são as capitais do Nordeste — Recife (PE), Salvador (BA) e Natal (RN) — que apresentam um crescimento em ritmo mais acelerado. “Não é onde a gente tem mais condomínio, mas se continuar assim, [o Nordeste] vai passar São Paulo. O perfil é de um síndico mais novo, que quer aplicar mais produtos digitais”, diz o empreendedor.
Com investidores como Redpoint eventures, Terracotta Ventures, Darwin Startups e Igah Ventures, o CEO afirma que não existe a necessidade de fazer captação neste momento. Em meados do ano passado, o CondoConta fez uma Série A de valor não revelado. E diz que hoje já seria possível dar lucro. “Mas estamos crescendo. No Brasil, são mais de 500 mil condomínios e nós temos 2 mil. Ainda somos uma gota em um verdadeiro oceano”, diz.
Disputa no setor
Apesar do grande destaque do CondoConta, a fintech não está sozinha na disputa de um setor tão promissor. Um dos principais concorrentes é a Superlógica, uma plataforma de gestão financeira que trabalha com condomínios e imobiliárias. Além de garantir a receita dos espaços, a Superlógica também trabalha com crédito, conta digital e seguros.
Outra que disputa espaço no mercado de soluções para condomínios é a CondoLivre, que já teve o caixa reforçado por um aporte de R$ 13 milhões da TAG Investimentos e Vila Velha Corretora. O CondoLivre disponibiliza crédito para os prédios, empréstimos consignados para funcionários e antecipação de recebíveis para fornecedores.
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