Há 10 anos no Brasil, a fintech de pagamentos europeia SumUp, especializada em pequenos negócios, vem construindo um ecossistema de soluções financeiras que tem ganhado novas peças. A empresa acaba de colocar no ar, por exemplo, um recurso que permite integrar, via APIs, as maquininhas com qualquer sistema de gestão e frente de caixa. Em 2024, os planos incluem lançar um cartão de crédito e uma linha de microcrédito.
“Depois desses 10 anos, agora o objetivo é aumentar a maneira como servimos os clientes, com uma expansão lateral de produtos”, afirma Carlos Grieco, CEO da SumUp no Brasil, em conversa com o Finsiders. Há pouco mais de um ano no cargo, o executivo está na fintech desde 2017 e já liderou as divisões de pagamentos e marketing na companhia.
Como uma evolução do seu banco digital, o SumUp Bank, a SumUp vai lançar um cartão de débito e crédito nos próximos meses. Até o fim deste ano, será liberado o débito. No primeiro semestre de 2024, a expectativa é colocar no ar a versão com crédito. “Já conversamos com milhares de clientes e vimos que eles têm necessidade de fazer compras de matérias-primas, nos atacadistas, à vista ou parcelado”, diz o CEO.
Segundo o executivo, um dos diferenciais do cartão será a funcionalidade de rendimento associada ao produto. “O dinheiro pode render até 3 vezes a poupança quando usar o cartão da SumUp”, conta. Hoje, como parte da conta digital, a fintech disponibiliza um plástico com bandeira Mastercard, mas na modalidade pré-paga.
Crédito com cautela
Também no ano que vem, a fintech planeja reforçar sua atuação junto aos pequenos empreendedores com uma modalidade de microcrédito para capital de giro. Assim, a ideia é liberar valores menores, com prazos de pagamento que podem variar de curto a longo, segundo o executivo. O novo produto, aliás, deve beber da fonte do Open Finance para definir melhores taxas aos clientes. “Ainda estamos desenvolvendo isso”, diz Grieco, sem entrar em detalhes.
Dessa forma, o objetivo é que essa nova linha siga o ‘modus operandi’ da fintech nas concessões de empréstimos. “No crédito, sempre operamos de maneira cautelosa. Não escalamos o crédito de maneira rápida, mas de maneira consciente porque vimos histórias do passado que foram bem duras”, enfatiza o CEO. Segundo ele, nos últimos 12 meses, a SumUp emprestou mais de R$ 50 milhões.
‘Milhões de empreendedores’
A expansão do crédito está associada à ampliação do público que a fintech atende. Além dos chamados nanoempreendedores — profissionais autônomos como comerciantes e prestadores de serviços com faturamento de R$ 2 mil/mês —, a SumUp vem avançando em negócios de micro e pequeno porte. São os “pequeninões”, brinca Grieco, que faturam de R$ 10 mil a R$ 20 mil mensalmente. Os microempreendedores individuais (MEIs) — que são mais de 13 milhões no Brasil — também estão na mira da companhia.
O CEO diz que, em uma década no país, a fintech incluiu “milhões de pequenos empreendedores”. Os números da operação brasileira, contudo, nunca foram revelados pela SumUp. Atualmente, a empresa afirma atender mais de 4 milhões de micro e pequenos estabelecimentos em 36 mercados pelo mundo — o Brasil é um dos cinco maiores.
Por aqui, a fintech opera desde 2020 como Sociedade de Crédito Direto (SCD), o que lhe permitiu criar o SumUp Bank. Já no ano passado, conforme o Finsiders revelou à época, teve aval do regulador para funcionar como instituição de pagamento (IP), na modalidade credenciadora.
Parcelado sem juros
Em relação ao tema do momento na indústria, o fim ou não do parcelado sem juros, o CEO da SumUp espera um desfecho “equilibrado”. Na visão dele, é preciso ouvir as entidades de lojistas. “O impacto que terá no comércio, no desemprego, na perda de vendas, será muito grande. E isso não está sendo estimado. Hoje a discussão é como [o parcelado sem juros] está machucando o balanço dos bancos”, observa.
Em reunião no mês passado com representantes de bancos, empresas do setor de pagamentos e do varejo, o presidente do Banco Central (BC) defendeu uma proposta para limitar a 12 prestações o parcelado sem juros, conforme reportaram diversos veículos de imprensa, citando fontes anônimas. “Não deve haver nenhuma limitação. Se queremos criar um mecanismo adicional e alternativo, vamos discutir. Mas restringir o que já foi conquistado para os lojistas e consumidores não é aditivo, e sim destrutivo”, defende Grieco.
Competição
Discussões de rotativo e parcelado sem juros à parte, o setor de pagamentos vive um contexto de acirrada concorrência, uma década depois da lei 12.865, que regulamentou as atividades dos arranjos de pagamento e instituições de pagamento (IPs) no Brasil.
Em 2022, o mercado de cartões no Brasil movimentou R$ 3,31 trilhões, alta de 24,6% em relação ao ano anterior, de acordo com dados da Abecs, que representa as empresas do setor. Para este ano, a entidade prevê que a indústria alcance R$ 3,6 trilhões.
Na disputa pelos pequenos negócios, a lista de players inclui, por exemplo, PagBank (antigo PagBank PagSeguro), Mercado Pago, Stone, InfinitePay, Acqio, Justa, entre outras empresas.
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