E-ctare prepara o "terreno" para ser uma techfin no agro

A E-ctare está ampliando sua atuação para ser uma provedora de tecnologia e serviços no mercado de crédito para o agronegócio

Bem ao estilo mineiro, o empreendedor Marcell Salgado prefere fazer o que precisa ser feito, sem tanto alarde. É assim que tem sido a trajetória da E-ctare, startup fundada por ele e seus sócios há seis anos, em São Sebastião do Paraíso, município na divisa entre Minas Gerais e São Paulo.

De um aplicativo de cotação de preço de café em tempo real, o negócio evoluiu para uma carteira digital — uma espécie de “PicPay do agro”, como o fundador definiu em entrevista ao Finsiders em 2021. Agora, a empresa se prepara para uma nova “safra”. Na prática, a E-ctare está ampliando sua atuação para ser uma provedora de tecnologia e serviços no mercado de crédito para o agronegócio.

“Nascemos como agtech, nos tornamos fintech e agora estamos caminhando para ser uma techfin”, diz o CEO e cofundador da E-ctare, em conversa exclusiva com o Finsiders.

Conforme conta o empreendedor, o plano é ter uma plataforma integrada até o fim do ano, com o objetivo de atender originadores do crédito (por exemplo, agroindústrias e cooperativas), bem como quem concede os recursos.

“O que enxergamos é que o crédito privado, por exemplo, vendedores de insumos, não sabem emprestar dinheiro para o agronegócio, e têm vontade de fazê-lo. Ou seja, existe uma dor que precisa ser sanada”, aponta Marcell. “Queremos participar disso. Então, vamos fazer esse papel de conectar as pontas”, emenda ele, sem revelar detalhes sobre a nova frente de atuação.

Seu objetivo, contudo, não é pivotar o modelo de negócio. Tanto é que as soluções oferecidas aos produtores rurais na sua carteira digital E-ctare Pay, como pagamentos, transferências e antecipação de recebíveis, continuarão sendo disponibilizadas nesta nova fase da companhia. “Tudo será incorporado na nova solução”, enfatiza Marcell.

Crédito

O empreendedor conta, ainda, que a E-ctare atingiu em 2022 um marco importante em sua história — R$ 1 bilhão em volume financeiro. “Se tudo correr como está, podemos fazer mais R$ 2 bilhões este ano”, diz Marcell.

Ele lembra que, em setembro do ano passado, a empresa captou R$ 50 milhões em uma emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), coordenada pelo Banco Alfa — a instituição, aliás, já tinha assinado um cheque para a startup em 2021.

Da esq. para a dir., Fred Amaral (diretor de produtos), Paulo Viola (COO) e Marcell Salgado (CEO), da E-ctare. Foto: Divulgação
Da esq. para a dir., Fred Amaral (diretor de produtos), Paulo Viola (COO) e Marcell Salgado (CEO), da E-ctare. Foto: Divulgação

“Trabalhamos no desenvolvimento de ferramentas para acompanhamento do processo, desde a originação até a liquidação do crédito. O que nos fez enxergar algumas oportunidades”, conta o CEO. “Percebemos que a ferramenta servia não apenas para controle das nossas próprias operações, mas de qualquer operação no mercado”, completa.

Reforços

Na pavimentação da nova fase, a E-ctare vem reforçando a equipe, com a contratação de peças-chave para algumas posições de liderança. Trouxe, por exemplo, Paulo Viola, que foi CFO e COO da Agrosmart. O executivo, que ingressou na E-ctare há cerca de um ano, atualmente é chief operating officer (COO) da startup.

Quem está se juntando à empresa também é Fred Amaral, que co-fundou e foi CEO e CIO da Dock. Ele ocupará a direção de produtos na E-ctare, conta Marcell. “Nossas soluções estavam desconectadas, e agora esse novo ambiente vai fazer essa conexão entre as pontas. E o Fred vem para amarrar tudo isso e nos ajudar no desenvolvimento do novo produto que esperamos lançar até o fim do ano.”

Leia também:

Tecnologia facilita acesso a crédito no agronegócio

Agrolend recebe autorização do BC e se torna financeira

O dinheiro digital como fomentador do agronegócio

Agfintech Traive levanta US$ 10 milhões com braço de VC da BASF