Kanastra simplifica 'backoffice' de investimentos alternativos e atrai fintechs

Fundada em janeiro de 2022, a startup aposta em tecnologia para automatizar a infraestrutura de produtos como FIDCs, FIPs, CRIs e CRAs

“Se seu backoffice te coloca em apuros, corra para as montanhas”. Esse é o slogan da fintech Kanastra, que também poderia ser “corra para a Serra da Canastra”. Isso porque o parque no sudoeste de Minas Gerais foi uma inspiração para a dupla de economistas Gustavo Mapeli e Manuel Netto encontrar um nome para o negócio fundado em janeiro de 2022. 

Brincadeiras à parte, a Kanastra nasceu com a proposta de simplificar e automatizar o ‘backoffice’ para produtos alternativos, como FIDCs, FIPs e veículos de securitização, como CRIs e CRAs. Para isso, a empresa desenvolveu uma solução com tecnologia proprietária que provê serviços de gestão, administração, securitização e bancarização. 

“As fintechs, por exemplo, vão ao mercado de capitais para levantar estruturas como FIDCs e se deparam com uma fragmentação de prestadores de serviços, como gestor, administrador, custodiante, agente de cobrança e outros. E os incumbentes não têm tecnologia. Nós verticalizamos esses serviços regulados”, aponta Manuel Netto, cofundador da Kanastra, em entrevista ao Finsiders.

A startup obteve licenças junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para atuar como gestor e administrador, além de operar como securitizadora. Em paralelo, a empresa recebeu autorização do Banco Central (BC) para funcionar como uma Sociedade de Crédito Direto (SCD). E vai atrás de aval para poder atuar como custodiante e escriturador.

As fintechs, aliás, são um dos principais perfis de companhias que buscam a Kanastra. Não à toa, das 70 operações atuais, 20 estão no segmento, revela o fundador. Nos próximos 12 meses, a expectativa é mais do que dobrar a quantidade total de operações, para 150 — das quais, 40 devem ser ligadas a fintechs. Atualmente, a lista de clientes inclui nomes como Creditas, Adiante, Credix, Credmei e Solfácil

Impulso aos FIDCs

É comum as fintechs recorrerem aos FIDCs como instrumento de funding. Entre outros motivos, trata-se de uma maneira de tirar o risco do balanço, assim como pulverizá-lo em diferentes “bolsos”. Esse, inclusive, é um dos elementos que tendem a ser impulsionados com as mudanças previstas na nova regulamentação dos fundos de investimento publicada em dezembro de 2022 pela CVM.

Conforme as novas regras — que entram em vigor em 2 de outubro —, o público em geral poderá investir nos FIDCs. Até então, os veículos eram restritos a investidores qualificados (com mais de R$ 1 milhão em investimentos) e profissionais (mais de R$ 10 milhões). Para especialistas, a novidade pode levar esse tipo de fundo a outro patamar. 

Manuel Netto e Gustavo Mapeli, sócios-fundadores da Kanastra. Foto: Paulo Vitale/Kanastra
Manuel Netto e Gustavo Mapeli, sócios-fundadores da Kanastra. Foto: Paulo Vitale/Kanastra

Em agosto, o patrimônio líquido (PL) dos FIDCs bateu R$ 380,9 bilhões, alta de 19,6% em relação ao mesmo mês de 2022, de acordo com dados da Anbima. Apesar do crescimento nos últimos anos, essa classe representa menos de 5% do PL total da indústria de fundos no Brasil, hoje em R$ 8 trilhões. 

“Adoraria dizer que será uma mudança de chave do dia para noite, mas não acho que será assim. Vamos ter de passar por um processo de educar o investidor de varejo e o canal de distribuição sobre o que é a estrutura de FIDC, como analisar os riscos, qual a exposição da carteira. É um veículo complexo”, observa o cofundador da Kanastra.

Flexibilidade

No caso da fintech, explica Netto, o sistema foi construído para funcionar com diferentes estruturas. A tecnologia, cita ele, permite rodar tanto uma CCB para financiamento de painéis solares, quanto operações com garantia como home equity, ou ainda modalidades como recebíveis de cartão, desconto de duplicatas, ‘buy now, pay later’ (BNPL). 

Um exemplo recente ajuda a ilustrar como a fintech está atuando em diferentes operações. Um consórcio formado pela Kanastra e pelas empresas Limine DTVM (distribuidora) e Tróchia (de gestão e recuperação de ativos) acaba de vencer uma licitação para administrar o primeiro FIDC estruturado por um Estado brasileiro, o FIDC Cohab Minas.

A ideia é beneficiar famílias que adquiriram uma unidade habitacional com a companhia em mais de 570 municípios do Estado de Minas Gerais. A expectativa é que a carteira reúna mais de 43 mil contratos de financiamento ativos. A taxa de inadimplência atual é de cerca de 68%.

Crescimento de 500%

Em crédito privado, a Kanastra atende também investidores de fundos que alocam em estruturas desse tipo. Entre as casas no portfólio estão nomes do calibre de Itaú Asset Management, Pátria e XP

Já no mundo dos FIPs, tem como clientes, por exemplo, os chamados ‘search funds’ — veículos criados por investidores para buscar e comprar um negócio com potencial de crescimento. “Dos 13 ou 14 ‘search funds’ no Brasil, diria que 40% a 50% estão conosco.”

Com crescimento de 500% em 12 meses e hoje uma equipe de mais de 90 funcionários, a Kanastra levantou no primeiro semestre uma rodada seed de US$ 13 milhões, liderada por Valor Capital e Quona

A captação teve a participação de investidores como QED Investors, Actyus, Collaborative, Crestone, Grão, Endeavor, Clocktower, Latitud e Norte Ventures. O aporte contou, ainda, com fundadores de outras fintechs, como Creditas, CERC, Pomelo e Hashdex.

Mercado

Novata no ramo, a Kanastra chega para competir, principalmente, com incumbentes e nomes tradicionais, a exemplo de BRL, Oliveira Trust e Singulare.

Já no rol de “desafiantes” da indústria, um exemplo é a Vórtx que, ao contrário da Kanastra, não opera com gestão, estruturação e securitização. Outro caso é a Virgo, um ecossistema de serviços e soluções financeiras para o mercado de capitais.

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