
O mercado de crédito no Brasil deve ter um ritmo de crescimento mais moderado em 2025. A tendência é que os bancos adotem uma postura mais cautelosa, em meio ao cenário de juros altos no País. A avaliação é de Nicole Lazari, diretora associada da área de instituições financeiras da Fitch Ratings, que participou de evento online da agência de classificação de risco nesta quarta-feira (26/3).
“Os bancos estão mais cautelosos e aprenderam com os desafios dos últimos anos, ajustando estratégias para mitigar riscos”, disse Nicole. De acordo com ela, as instituições estão priorizando operações de crédito com garantia e menor nível de risco, a fim de preservar a qualidade dos ativos.
Endividamento
O desemprego, que atingiu a menor taxa da história em 2024 segundo o IBGE, vem contribuindo para sustentar a capacidade de pagamento dos consumidores, afirmou Nicole. Por outro lado, são pontos de atenção o endividamento das famílias – mais de 48% ao final de 2024, conforme o Banco Central (BC) – e o comprometimento de renda com dívidas – que beira os 27%.
No caso das pequenas e médias empresas (PMEs), ela citou que a situação macroeconômica no País exerce uma pressão negativa. “É um segmento que deve continuar enfrentando desafios importantes. Houve um aumento forte nos pedidos de recuperação judicial, que bateram recorde em 2024”, afirmou Nicole.
Para Raphael Nascimento, diretor da área de instituições financeiras da Fitch, é possível resumir 2024 como um ano de forte expansão do resultado operacional dos bancos. “Os maiores bancos conseguiram aumentar a margem financeira líquida pós-provisões e controlaram despesas”, disse.
Segundo Nicole, apesar dos juros elevados, os bancos digitais em geral mantiveram a expansão de suas carteiras de crédito em 2024, num ritmo mais contido. O crescimento foi puxado principalmente pelo crédito não consignado (sem garantia).
Consignado privado
Raphael também citou o novo consignado privado como uma oportunidade para as instituições financeiras. “É uma oportunidade para os bancos crescerem em volume, com menor risco”, afirmou.
A modalidade foi lançada neste mês pelo Governo Federal e entrou em operação em 21/3. Com exceção da Caixa Econômica Federal, nesta fase inicial, os grandes bancos ainda não estão ativos na oferta do produto.
De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o novo consignado privado já soma mais de R$ 340 milhões em empréstimos. Desde a última sexta-feira (21/3), foram firmados 48.170 contratos, com valor médio de R$ 7.065,14 por trabalhador. As solicitações de crédito, por sua vez, passaram de 8,7 milhões.