Atualmente, os créditos de carbono representam uma ferramenta essencial na luta contra as mudanças climáticas, mas o mercado enfrenta desafios – como os avanços regulatórios e casos de greenwashing. Ainda assim, para o Chief Business Officer (CBO) da Future Carbon, Pedro Plastino, o Brasil está em posição privilegiada para liderar a corrida em busca de projetos de preservação e restauro florestal.
A Future Carbon entendeu que, para acelerar o caminho para a descarbonização rumo a um futuro Net Zero, era preciso estruturar uma política de governança robusta para garantir integridade ao liderar esta trajetória.
Confira a entrevista na íntegra:
Qual é o maior desafio no mercado de carbono hoje?
O maior desafio hoje é, do lado da demanda, entender qual a finalidade dos créditos de carbono para as empresas. Algumas estão em compromissos voluntários, enquanto outras seguem acordos regulatórios. Eles precisam definir o que consideram como integridade e qualidade de um crédito.
Como qualquer mercado em crescimento, ainda estamos definindo esses padrões de integridade e qualidade. Estamos na adolescência deste mercado, trabalhando para que as empresas, tanto em aspectos regulatórios quanto voluntários, compreendam claramente essas definições.
No lado da oferta, enfrentamos o problema dos ‘Carbon Cowboys’ que manipulam dados para gerar mais créditos, muitas vezes de forma irregular. Estamos em uma fase de discernir os bons dos maus créditos, o que implica uma diferenciação clara na liquidez e no preço entre créditos de alta e baixa integridade.
Esse processo ainda não é claro, e o mercado de oferta às vezes não consegue se definir devido à complexidade das informações e às variações na integridade dos créditos disponíveis.
Qual é o potencial do Brasil no mercado internacional? Como o país é visto?
O Brasil é uma potência, a Arábia Saudita dos créditos de carbono, devido à nossa riqueza natural e às fontes de energia limpa. Somos a 9ª maior economia do mundo, e temos potencial para dominar até 50% do mercado de crédito de carbono.
Apesar desse potencial, enfrentamos desafios de integridade que precisam ser superados. As empresas brasileiras estão começando a comprar mais créditos de carbono, especialmente as grandes do setor de petróleo e gás e energia. Temos que melhorar nosso ambiente regulatório para fortalecer esse mercado.
Recentemente, ações como a operação Greenwashing da Polícia Federal, que desmantelou uma organização criminosa envolvida no mercado, mostram que ainda há problemas de integridade. Essas ações são inicialmente vistas como negativas, mas são benéficas a longo prazo pois ajudam a limpar o mercado.
Visto como uma potência com desafios de integridade, o cenário está melhorando, e isso é benéfico para o Brasil a médio prazo.
Por que decidiu trabalhar na área? O que te motivou?
O que me motivou a entrar no mercado de carbono foi a oportunidade de trabalhar com um propósito maior. Preservamos a biodiversidade da floresta e impactamos positivamente o clima e a vida das pessoas.
Uma frase que um grande amigo me disse e que incorporei na minha vida é: ‘Temos nosso ativo ambiental para resolver nosso passivo social.’ Isso significa gerar renda e riqueza preservando a floresta, ativando cadeias de bioeconomia e mudando a vida das pessoas.
Além disso, quero mostrar que o Brasil pode destravar esse potencial. Na Future, montamos uma governança séria para trazer integridade e liderar a nova economia global de baixo carbono.
Minha geração é a primeira a sentir os efeitos das mudanças climáticas e a última que pode fazer algo a respeito. Isso foi quase um chamado para mim, uma convocação como ser humano, brasileiro e jovem dessa geração.
*Jornalista, sócio e CEO da Ovo Comunicação