Mário Augusto Sá/NG.CASH | Imagem: divulgação
Mário Augusto Sá/NG.CASH | Imagem: divulgação

O crescimento de um novo perfil de empreendedor tem chamado atenção do mercado brasileiro. São founders que estruturaram rodadas de capital ainda antes dos 30 anos e já lideram operações em expansão. O movimento evidencia uma combinação de timing, preparo técnico e capacidade de leitura de mercado. Isso vem encurtando a distância entre primeira validação do produto e acesso a investidores institucionais, mesmo em um ciclo de capital mais seletivo.

A NG.CASH, fintech voltada à geração Z que já captou mais de R$ 300 milhões em investimentos (sendo R$ 150 milhões apenas em 2025), estruturou sua primeira rodada relevante quando o CEO, Mário Augusto Sá, tinha 24 anos. O aporte inicial, superior a US$ 10 milhões, foi liderado por a16z e monashees. E consolidou a fintech no radar global de venture capital ao alinhar tese de mercado com execução. Hoje, a empresa ultrapassa a marca de 8 milhões de usuários e reforça a estratégia de escalar não apenas distribuição, mas retenção e eficiência operacional. 

Para o executivo, o ponto central é chegar ao investidor com sinais inequívocos de aderência do produto e clareza sobre a tese. “Investidor recompensa solidez e foco. Capital acelera quando encontra evidência de uso real, governança bem definida e capacidade de execução contínua”, afirma. Ele destaca que os estágios iniciais não servem para validar hipótese, mas para escalar o que já demonstrou tração mensurável. “Rodadas iniciais não substituem o trabalho de entender o cliente; resolvem o custo de velocidade. Quando há alinhamento estratégico e disciplina financeira, o capital atua como multiplicador e não como atalho.”

Comunidade

Para Nicolas Silberstein Camara, cofundador e CTO da Firecrawl, que captou pela primeira vez aos 23 anos, o elemento central foi a construção de comunidade. Hoje, a startup mantém mais de 8 mil clientes em 70 países e levantou R$ 81 milhões na rodada Série A concluída em agosto. 

“Minha dica para quem quer captar cedo é se conectar com uma comunidade que tenha sinergia com o seu negócio. E focar na experiência do cliente: ouvir, testar e ajustar o produto. Captar cedo vale a pena, especialmente com smart money. Isso porque além do investimento financeiro, você ganha conexões, oportunidades e aprendizados que impulsionam o crescimento da empresa”, afirma.

Aos 24 anos, João Hugo Silva realizou sua primeira captação em Portugal ao fundar a MyCareforce, startup que posteriormente deu origem à Clicknurse, healthtech que conecta profissionais de enfermagem a instituições de saúde por meio da tecnologia. A empresa foi impulsionada por um aporte de mais de R$12 milhões, levantado em 2023 em uma rodada liderada pela Indicator Capital e pela gestora portuguesa Lince Capital. Parte do investimento foi destinada à estruturação da equipe e ao fortalecimento da tecnologia no Brasil.

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Para o CEO das duas operações, mais do que a idade dos fundadores, o que realmente determina o sucesso de uma captação é a qualidade da ideia e a capacidade de execução do time. “Captei no momento em que as variáveis necessárias estavam reunidas: problema, solução e faturamento. Quando esses três elementos se encaixam, a conversa com investidores é mais natural e o processo flui com mais confiança”, explica. Por isso, João acredita que o timing ideal para captar está muito mais ligado à maturidade do negócio e à clareza da proposta do que à fase da vida do empreendedor.

Calendário

Mário Marcoccia, CEO da Compra Rápida, realizou sua primeira captação aos 25 anos, em uma rodada de R$ 18 milhões liderada pela Olive Tree Capital, com participação dos fundos Liquid 2 e Soma Capital. Para ele, mais importante do que apenas buscar validação dos fundos é identificar ativamente o investidor certo para o seu negócio. E, claro, alguém que agregue à trajetória da empresa e demonstre seriedade no processo.

“Também é fundamental conhecer bem o processo de captação, organizar um calendário consistente de reuniões e treinar o pitch com outros founders antes de apresentá-lo aos fundos. Captar cedo vale muito a pena, porque traz mais tranquilidade para a operação, permite focar na definição do PMF e na formação de um time de qualidade, aumentando as chances de sucesso da empresa”, destaca Marcoccia.

*Jornalista, sócio e CEO da Ovo Comunicação.