A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, anunciada por Donald Trump na segunda-feira (20/1), cria um cenário complexo para o Brasil. O País vai sediar a COP30 este ano. A avaliação é de Werner Grau, sócio da área ambiental de Pinheiro Neto Advogados. “A decisão de Trump pode afetar o financiamento de ações de combate às mudanças climáticas, gerar um ‘efeito cascata’, com a saída de outros países do Acordo, além de ter potencial impacto nas relações bilaterais do Brasil com EUA”, resume o advogado.
Apenas quatro países não eram signatários do acordo, destaca Werner: Irã, Líbia, Iêmen e Eritreia. “A decisão de Trump em si não é surpresa, devido à sua postura e aos embates internos sobre a questão ESG nos EUA. O inusitado é a quem o país se alinha ao sair do Acordo. Há um desalinhamento de posturas”.
O sócio da área ambiental de Pinheiro Neto lista três possíveis efeitos da saída dos EUA do Acordo de Paris.
Entenda:
- Durante a COP29, realizada no ano passado em Baku (Azerbaijão), foi fixada uma meta anual financeira em financiamento climático para nações mais pobres, a ser atingida até 2035. Em paralelo, há uma ambição para elevar esse montante a US$ 1,3 trilhão no mesmo horizonte. “Os EUA são um player importantíssimo na questão de recursos financeiros. Com o país fora do acordo, esta meta pode ficar em xeque”, diz Werner.
- Após a decisão do presidente dos EUA, pode haver um “efeito manada”. Ou seja, a saída de mais países que já estavam questionando os termos do acordo ou insatisfeitos, mas, com a adesão de todas as maiores economias desenvolvidas, permaneciam nele, afirma o especialista.
- Os EUA têm papel condutor forte na geopolítica global. Então, o país que assumir protagonismo na discussão de questões climáticas – papel que se espera do Brasil – pode ter suas relações negociais com a economia norte-americana impactada. “Por sermos o único país cuja maior fonte de emissão de gases de efeito estufa não é a queima de fósseis, mas sim o desmatamento, essa circunstância pode nos levar a uma condição de protagonismo. Pode gerar um desgaste de relacionamento com os EUA”.
*Jornalista, sócio e CEO da Ovo Comunicação