
Em meio ao hype em torno da Inteligência Artificial (IA), a especialista norte-americana Sandy Carter é uma entusiasta do assunto, mas reconhece os problemas e desafios do uso da tecnologia. Hoje, dos projetos que utilizam IA, apenas 20% deles são bem-sucedidos. A constatação é fruto de uma pesquisa feita com 1,5 mil empresas, além de entrevistas com profissionais e executivos de 465 companhias. Os dados foram apresentados por Sandy em palestra no primeiro dia do Febraban Tech 2025, nesta terça-feira (10/6), e também estão no “AI First, Human Always“, livro lançado por ela em fevereiro deste ano.
Diretora de Operações (Chief Operating Officer, COO) da startup Unstoppable Domains e ex-executiva da AWS (Amazon) e da IBM, Sandy elencou três elementos presentes em todas essas empresas com iniciativas de IA bem-sucedidas: foco no resultado de negócio; dados alinhados ao objetivo; e trabalho ativo com as equipes.
O primeiro aspecto importante, segundo ela, é que os projetos precisam começar com objetivos de negócio claros, e não usar a tecnologia apenas por usar, porque está na “moda”. Sandy exemplificou com um caso do JP Morgan. “O objetivo era reduzir fraudes, não iniciar um projeto de IA. O que fizeram foi construir modelos de IA maduros, treiná-los com dados, eliminar vieses e, com isso, conseguiram reduzir falsos positivos em 50%”, citou ela.
Outro exemplo dado por ela foi da própria Unstoppable Domains, em que agentes de IA passaram a responder por 32% dos chamados de suporte. “Nosso foco nunca foi ‘usar IA’. Era oferecer o melhor atendimento do setor.”
Confiança
O segundo ponto defendido por Sandy é o alinhamento dos dados aos objetivos esperados com um projeto que utiliza IA. A especialista argumentou que é preciso validar os dados. E ela foi além: dados desalinhados não só prejudicam o resultado, como também comprometem a confiabilidade da IA. “Então, minha previsão nesta área é que IA confiável vai se tornar um diferencial competitivo. Minha sugestão é que todos vocês tenham transparência em suas informações e sem vieses.”
Ainda sobre a confiança nos modelos de IA, Sandy comentou sobre um relatório recente da Edelman. De acordo com o estudo, apenas 32% dos norte-americanos confiam na IA, enquanto o Brasil está numa posição intermediária, com cerca de 50% de confiança da população nessa tecnologia.
Para Sandy, a confiança será um fator decisivo para que a IA ganhe escala no setor financeiro. “Você não pode trabalhar com caixa-preta. É preciso saber como o modelo foi treinado e com quais dados”, disse.
‘Economia dos agentes de IA’
A especialista defendeu, ainda, que a adoção da IA exige envolvimento direto das lideranças e uma gestão da mudança nas organizações. Ou seja, a implementação bem-sucedida da IA em um negócio depende de como ela é comunicada, incorporada e compreendida pelas pessoas que vão usá-la ou conviver com ela. Ela contou o caso de uma fábrica na Ásia que implantou jaquetas com sensores de humor. “As equipes que receberam explicações e contexto sobre os dados, que eram anonimizados, aderiram e até sugeriram melhorias. As que não receberam, rejeitaram totalmente. O problema não foi a IA, foi a falta de gestão da mudança.”
A especialista prevê, até 2027, o que chama de “economia de agentes de IA”. Trata-se de um novo cenário em que sistemas de IA atuam como funcionários autônomos, interagindo entre si, com empresas e com pessoas. “Antes pensávamos em B2B [de empresas para empresas] e B2C [de empresas para consumidores finais]. Agora é A2A, agentes para agentes; A2B, agentes se comunicando com empresas; A2C, agentes interagindo com pessoas.”
De acordo com ela, já existem soluções que funcionam como marketplaces de agentes de IA, nos moldes das atuais lojas de aplicativos. Nessas plataformas, é possível “contratar” um agente de IA para ser, por exemplo, seu contador, analista de risco ou consultor de investimento. “Então, qual é o meu conselho para vocês? Crie um agente de IA agora. Nem que seja só para organizar suas mensagens no WhatsApp. Experimente!”, indicou Sandy.