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IA pode acelerar personalização, mas tecnologia ainda 'alucina'

Apesar dos ganhos com a tecnologia, CIOs dos maiores bancos do país veem desafios de ética, segurança e privacidade no uso da inteligência artificial

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Imagem: Divulgação
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Em meio aos desafios de Ć©tica, seguranƧa e privacidade que permeiam o uso de inteligĆŖncia artificial (IA), os grandes bancos no Brasil veem na tecnologia uma oportunidade para acelerar a tĆ£o falada ā€˜hiper personalização’. As instituiƧƵes tambĆ©m vĆŖm treinando seus profissionais para se tornarem cada vez mais ā€˜agentes biĆ“nicos’ no relacionamento com os clientes. Ɖ o que apontam os executivos-chefes de tecnologia (CIOs) dos maiores bancos do paĆ­s, durante painel no 34Āŗ Febraban Tech.Ā 

AlĆ©m de oferecer os produtos e serviƧos mais adequados a cada cliente, o plano Ć© tambĆ©m se antecipar ao que os consumidores querem. Isso vai desde um crĆ©dito mais barato a uma carteira de investimentos mais customizada, passando por avisos de que a pessoa tem pontos de um programa de fidelidade prestes a expirar 

FuncionĆ”rios ‘biĆ“nicos’

O Bradesco, por exemplo, soma quase 2 mil gerentes em sua rede de agĆŖncias que utilizam IA generativa (GenAI) por meio da BIA, a IA do banco. De acordo com Edilson Reis, CIO da instituição, a ferramenta tem classificação 4 de 5 e nĆ­vel de acurĆ”cia das respostas da ordem de 90%. ā€œNa prĆ”tica, vocĆŖ consegue transformar os funcionĆ”rios em ā€˜funcionĆ”rios biĆ“nicos’. Cria uma padronização nas respostas aos clientes.ā€

Marisa Reghini, vice-presidente de negócios digitais e tecnologia do Banco do Brasil (BB), tambĆ©m enxerga a IA transformando a relação com os clientes por meio de uma maior personalização dos serviƧos. A executiva dĆ” como exemplo um novo modelo de agĆŖncia, inaugurada hĆ” trĆŖs meses pelo BB. ā€œĆ‰ uma agĆŖncia que junta o fĆ­sico com o digital. Ali tem muita IA envolvidaā€, define. ā€œTem um robĆ“ na hora de tirar a senha e o holograma da nossa presidenta para receber os clientes. E no atendimento, alĆ©m dos funcionĆ”rios presencialmente, tem os remotos em cabines.ā€

Para Ricardo Guerra, CIO do Itaú Unibanco, num futuro próximo, o avanço da tecnologia permitirÔ entender, por meio de GenAI, quem é exatamente aquele cliente, o que pensa, quais interações jÔ teve com o banco e as propensões a determinados produtos.

ā€œNo limite, a tecnologia vai criar agentes que sĆ£o espelhos das pessoas. E tudo vai acontecer de forma fluĆ­da, podendo comeƧar numa interface e terminar em outra, e os próprios devices vĆ£o mudar ao longo do tempo.ā€

No BTG Pactual, a utilização de IA vem permitindo avanƧar na ā€˜hiper personalização’ da oferta de investimentos, principalmente. Em meio Ć  diversidade de produtos, a tecnologia tem facilitado o trabalho dos assessores na abordagem ao seus clientes. ā€œQuando hĆ” novos produtos ou campanhas, o assessor nĆ£o consegue ligar para todos os clientes. A IA ajuda nessa customização, respeitando o suitability, claroā€, exemplifica Christian Flemming, CTO e CPO do banco.

GovernanƧa, Ć©tica e ā€˜alucinaƧƵes’

Apesar dos avanƧos recentes, os executivos dos ā€˜bancƵes’ levantam as preocupaƧƵes em relação aos riscos no uso da IA no contato direto com os clientes. ā€œEstamos na prĆ©-história da IA ainda. Tem questƵes de Ć©tica e privacidade, inovação versus complianceā€, aponta LaĆ©rcio Lemos de Souza, vice-presidente de tecnologia e digital da Caixa EconĆ“mica Federal.

ā€œA superfĆ­cie de ataques ciber tambĆ©m aumenta exponencialmente, precisamos trabalhar bem para saber se defender.ā€

Na visĆ£o de Marisa, do BB, ainda serĆ” preciso discutir muito sobre a governanƧa dos dados e a Ć©tica da IA, assim como os riscos de ā€œalucinaçãoā€ da tecnologia, isto Ć©, quando os modelos cometem erros. ā€œE tambĆ©m vamos precisar conversar mais sobre o uso de GenAI em ciberseguranƧa, para o bem ou para o malā€, aponta a executiva. 

Atualmente, dizem os executivos, a maior parte das aplicaƧƵes de IA pelos bancos nĆ£o ocorre na ponta, ou seja, no relacionamento direto com os clientes. A tecnologia vem sendo usada, em especial, para melhorar processos, aumentar eficiĆŖncia operacional e, claro, reduzir custos. ā€œO que me tira o sono Ć© o uso responsĆ”vel da inteligĆŖncia artificial porque naturalmente a IA vai fazer parte da vida das pessoasā€, aponta Ricardo, do ItaĆŗ.

Para Edilson, do Bradesco, a IA nĆ£o Ć© uma ā€œbala de prataā€ que resolverĆ” todos os problemas do mundo. ā€œPara alguns assuntos, a IA tradicional Ć© a mais apropriadaā€, diz o executivo. Por exemplo, a BIA permitiu que mais de 800 mil clientes do banco fizessem R$ 55 milhƵes em transaƧƵes via Pix nos cinco primeiros meses de 2024. ā€œNesse caso, nĆ£o quero que ela [a IA] seja criativa. EntĆ£o, Ć© uma questĆ£o de qual modelo vamos usar em cada caso.ā€