O financiamento de startups fundadas por mulheres nos Estados Unidos sofreu um preocupante retrocesso em 2024. De acordo com uma análise da PitchBook, negócios com pelo menos uma fundadora representaram 22,7% do total de investimentos deVenture Capital (VC) no país, uma queda de 1,9 pontos percentuais em relação a 2023. Ainda que o mercado de VC como um todo tenha enfrentado desafios, o impacto foi ainda mais severo para negócios liderados exclusivamente por elas, deixando claro uma persistente desigualdade no setor.
Um dos principais fatores que explicam essa retração é o declínio do financiamento de empresas em estágio inicial. Historicamente, esse segmento tem sido um dos poucos em que a disparidade de gênero é menor, em parte devido à maior presença de investidores mulheres. Porém, com a retração do mercado, os aportes nessa fase se tornaram mais escassos, prejudicando especialmente as empreendedoras que dependem de rodadas iniciais para validar seus modelos de negócio e escalar suas operações. Essa mudança gera um efeito cascata, reduzindo ainda mais as oportunidades de crescimento para startups femininas.
Além disso, é possível observar uma maior concentração de capital em negócios considerados mais seguros, uma tendência típica de períodos de incerteza econômica. Logo, os acionistas estão priorizando organizações emergentes de maior porte e histórico consolidado, que, em sua maioria, têm homens na liderança. Tal comportamento reflete não apenas uma aversão ao risco, mas também um viés estrutural que reforça a predominância masculina no ecossistema de inovação. Sem acesso a capital, empresas fundadas por elas têm dificuldades para competir em um mercado já dominado por grandes players.
Ciclo vicioso
Outro ponto crítico é a baixa representatividade feminina entre os investidores de VC. Como poucas mulheres ocupam cargos decisivos nos fundos, as decisões de alocação de recursos acabam refletindo padrões tradicionais, perpetuando a desigualdade de gênero. Estudos mostram que investidores tendem a apostar em empreendedores que compartilham características e experiências semelhantes às suas, o que favorece fundadores homens em um setor ainda predominantemente masculino. Esse ciclo vicioso dificulta a diversificação do portfólio de investimentos e reduz a pluralidade de soluções inovadoras no mercado.
A queda no financiamento de negócios femininos não é apenas um problema de equidade, mas também uma ameaça à inovação. Não à toa, pesquisas indicam que empresas lideradas por mulheres tendem a apresentar maior retorno sobre o investimento e soluções mais alinhadas às necessidades de diferentes públicos. No entanto, sem um ecossistema mais inclusivo, essas empresas correm o risco de ficar à margem do crescimento tecnológico e econômico. A falta de diversidade no setor de Venture Capital significa menos perspectivas inovadoras e um mercado menos dinâmico e competitivo.
Para reverter esse cenário, é preciso adotar estratégias concretas que promovam a inclusão de mulheres no ecossistema. Isso passa por aumentar a presença feminina em cargos de decisão nos fundos de investimento, estimular programas de mentoria para empreendedoras e criar mecanismos específicos de financiamento voltados para startups fundadas por mulheres. O desafio é grande, mas os benefícios de um mercado mais diverso e equitativo são inegáveis. A inovação não pode ser refém de barreiras estruturais, e garantir que mais mulheres tenham acesso ao capital é um passo essencial para um futuro mais justo e competitivo.
*Co-fundadora da Divibank