Após dois anos, banco digital N26 anuncia saída do Brasil

Fintech alemã disse que a decisão é parte de sua nova estratégia global de focar em mercados-chave na Europa

Dois anos depois de desembarcar no Brasil, o banco digital alemão N26 está encerrando suas atividades no país. De acordo com a empresa, a decisão vem por uma mudança na sua estratégia global. Agora, a ideia é dar foco para mercados-chave na Europa. A instituição atua em 24 mercados naquele continente.

“Nosso maior propósito sempre foi trazer maior saúde financeira para os brasileiros. Esperamos que nossos esforços em priorizar o bem estar dos clientes, com um pouco menos de fin e um pouco mais de care, tenham sido bem sucedidos. Torcemos para que vocês continuem buscando serviços e produtos que escutem vocês e que colaborem para que vocês tenham hoje, e no futuro, uma melhor relação com o dinheiro”, disse a instituição em post no Linkedin.


Ainda que parte dos consumidores seja desbancarizada, o N26 chegou no Brasil em um momento de maior competição entre os bancos digitais: o Nubank atingiu 85 milhões de clientes no país, e o Inter, perto dos 30 milhões. Sem falar nos chamados ‘bancões’ e suas fintechs. Em outras palavras, o banco digital alemão chegou atrasado.

À época da aterrissagem no país, a fintech contava com 200 mil inscritos em uma fila de espera. E apostava na dificuldade do brasileiro em lidar com o dinheiro para decolar. Tanto é que tentou ganhar espaço com o conceito de ‘fincare’. “A gente entende que focar em saúde financeira é o próximo horizonte”, disse Eduardo Del Guerra Prota, general manager Brasil do N26 ao Finsiders, na ocasião.

A mudança de rumo na fintech acontece, também, ainda durante o chamado ‘inverno das startups’. Um mês antes de anunciar sua operação brasileira, o banco alemão tinha feito uma Série E de US$ 900 milhões, a um valuation de US$ 9 bilhões. Na Alemanha, valia apenas menos que o tradicional Deutsche Bank. Hoje, a realidade é outra. Captações deste calibre são raras e bem mais criteriosas.

Ensaios

O desembarque no Brasil foi anunciado em 2019, porém o plano ficou em compasso de espera. No fim do ano seguinte, a companhia recebeu autorização do Banco Central (BC) para operar como Sociedade de Crédito Direto (SCD), licença de fintech que permite conceder crédito com recursos próprios. Até que, quase um ano depois, a empresa resolveu divulgar sua chegada oficial, ainda com lista de espera.

Desde então, o N26 aumentou a equipe local, chegou a ter mais de 100 funcionários, mas em julho deste ano fez 20 demissões. Na época, a empresa negou que deixaria o Brasil ou estaria à venda. Nos últimos meses, inclusive, a fintech elevou o capital de sua SCD cinco vezes, conforme despachos publicados pelo BC no Diário Oficial da União.

Agora resta saber quais serão os impactos da saída do N26, num mercado que ficou saturado, exige especialização e, sobretudo, muita grana.

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