Com Série A, Cora coloca gasolina no tanque para oferecer crédito

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Em outubro do ano passado, num papo informal, Igor Senra, fundador e CEO da Cora, me disse: “Ano que vem será o ano do crédito para a gente”. Agora o empreendedor não está apenas animado com a perspectiva de crescimento, mas com gasolina no tanque para acelerar essa expansão.

Nesta semana, a fintech — que oferece soluções financeiras para PMEs — fechou uma Série A de US$ 26,7 milhões (mais de R$ 150 milhões) liderada pelo fundo americano Ribbit Capital (investidor de Nubank, Brex e Guiabolso, entre outros) — que já investia na Cora. O round foi acompanhado por Kaszek Ventures, também já presente no captable da startup. Juntaram-se a eles dois novos nomes fortes em venture capital: QED Investors e Greenoaks Capital. 

No fim de 2019, a Cora tinha recebido um seed money vultoso para um cheque desse tamanho: US$ 10 milhões, numa rodada liderada pela Kaszek, com participação da Ribbit. Agora os fundos inverteram as posições.

“A gente capta quando entende que tem oportunidade à frente do que quando precisa de dinheiro”, diz Senra ao Finsiders. O primeiro aporte captado em 2019 daria fôlego para a operação até o ano que vem, mas a oportunidade de imprimir um ritmo mais acelerado de crescimento levou ao fechamento do novo round. E detalhe: num processo rápido — algo como 20 dias.

Leonardo Mendes (à esq.) e Igor Senra, fundadores da Cora (Divulgação)

Os recursos serão destinados para crescimento, tecnologia, operação e novos produtos de crédito. “Queremos começar a dar crédito com nosso próprio balanço. Já estamos fazendo um pedaço dos testes, mas agora vamos conseguir destinar um valor maior para esses testes iniciais em crédito”, diz o empreendedor.

Entre os produtos a serem testados estão: antecipação de boleto, cartão de crédito e uma espécie de conta garantida para ajudar no fluxo de caixa das empresas. O primeiro que deve ser lançado é o cartão, até porque a fintech começou os testes em 2020, com uma base pequena de cem clientes — hoje, ampliou esse número para algo como 200 a 250 clientes. A previsão é colocar o produto na rua ainda no primeiro semestre, diz Senra.

Perguntado sobre os principais diferenciais do cartão de crédito, o empreendedor é taxativo: “tem uma feature boa chamada crédito”. Algo que as pequenas empresas no Brasil, historicamente, têm dificuldade de acessar em grandes bancos. Hoje, o público principal atendido pela Cora é formado por pequenos negócios com faturamento anual de até R$ 5 milhões.

“No universo que atendemos, estamos falando de 9 milhões de empresas. O cliente que escolhe a gente quer ter experiência incrível, seja para recebimento de boletos, seja transferência via Pix. Hoje não cobramos nada. O que faz o cliente ficar é qualidade e clareza do app.”

Não à toa, mais da metade dos negócios que usam os serviços da fintech só têm conta lá, ou seja, concentram suas movimentações financeiras na Cora. São advogados, contadores, consultores, empresas de treinamento, entre outros perfis de negócios que prestam serviços profissionais. A base atualmente soma mais de 60 mil clientes. A expectativa é chegar a 380 mil até o fim do ano.

A startup lançou oficialmente sua conta digital e o cartão em outubro de 2020, assim que recebeu a licença do Banco Central (BC) para operar como o banco 403.  Além da conta digital, a fintech oferece cartão de débito com bandeira Visa, Pix sem taxas, além de ferramentas de gestão e de automatização do processo de cobrança.

“A empresa pode mandar alertas, antes de o boleto vencer, para o cliente, por e-mail ou WhatsApp”, explica Senra. A visão de futuro da Cora é ser uma plataforma completa de serviços financeiros para as pequenas empresas brasileiras. “Mas para chegar lá, temos que fazer o arroz com feijão, e vamos acrescentando produto por produto”, diz. A equipe, que terminou 2020 com 60 pessoas, já está em 110 funcionários e esse número deve mais do que dobrar até dezembro.

Fundada por Senra e Leonardo Mendes, ambos ex-Moip, a Cora vem se fortalecendo num mercado que tem ganhado novos concorrentes. Criado pelos ex-executivos de bancos, Ingrid Barth (ex-JP Morgan e Neon), David Mourão (ex-Itaú e Vinci Partners) e Daniel Benevides (ex-Neon), o Linker começou com uma conta digital PJ, lançou o cartão de débito físico em 2020 e uma ferramenta de link de pagamentos, o LinkerPay. Captou um seed money em dezembro do ano passado, conforme antecipou o Finsiders à época.

A Conta Simples, de Rodrigo Tognini (ex-Stone), também levantou uma rodada seed em 2020 de US$ 2,5 milhões, em aporte liderado pelo Quartz, veículo de Venture Capital cujo um dos investidores é a família de José Galló, charmain da Renner. A rodada teve participação dos fundos FJ Labs, Big Bets, Domo Invest, AbSeed e dos ex-sócios da XP Marcelo Maisonnave, Eduardo Glitz e Pedro Englert.

As fintechs não estão sozinhas na disputa por uma fatia desse mercado. Outros nomes, como Original, Inter, BS2 (que acaba de contratar um novo CEO, by the way), Neon (com foco no MEI, principalmente) avançam com oferta para capturar as pequenas e médias empresas do pais.

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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.

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