Cora levanta US$ 116 milhões, no terceiro round em menos de dois anos

Leonardo Mendes (à esq.) e Igor Senra, fundadores da Cora (Divulgação)
Leonardo Mendes (à esq.) e Igor Senra, fundadores da Cora (Divulgação)

Imagine um dos seus investidores te mandar uma mensagem, dois meses depois da Série A, tentando convencer a já engatar um round Série B. Não consigo imaginar tanto essa cena, até porque o Finsiders não tem investidores (risos).

Mas voltando à história… Foi assim que a Cora — fintech que oferece soluções financeiras para pequenas e médias empresas (PME) — decidiu levantar mais capital para acelerar seus planos de expansão.

“Veio antes do que a gente esperava, e rapidamente conseguimos colocar um round de pé”, conta Igor Senra, cofundador e CEO, ao Finsiders.

Em captação liderada pelo fundo americano Greenoaks Capital (que investiu no QuintoAndar e na Brex, por exemplo), a Cora acaba de receber um investimento de US$ 116 milhões (mais de R$ 600 milhões). Detalhe: é a terceira rodada feita pela fintech em menos de dois anos.

Outra curiosidade: o primeiro cheque, um seed money expressivo de US$ 10 milhões recebido no fim de 2019, foi um round liderado pela Kaszek, com participação do fundo americano Ribbit Capital. Na Série A, os VCs inverteram as posições, e a Ribbit capitaneou a rodada de US$ 26,7 milhões (mais de R$ 150 milhões), anunciada em abril deste ano.

Agora, o Greenoaks Capital — que entrou na Série A — liderou a nova captação, que não só foi acompanhada pelos atuais investidores (Kaszek, Ribbit e QED Investors), como ainda trouxe outros dois novos nomes para o captable: Tiger Global Management e Tencent.

Crédito, crédito e crédito

Com o recurso, a Cora adiciona ainda mais combustível ao tanque, principalmente para ampliar a prateleira de produtos e, claro, acelerar a oferta de crédito. O plano é começar agora o ‘roll-out’ do cartão de crédito, que vinha sendo testado com uma base pequena de clientes desde o fim do ano passado.

A fintech trabalha, ainda, em novos produtos de crédito, como antecipação de recebíveis e capital de giro, que devem ficar prontos até o primeiro trimestre de 2022. Assim como fez com cartão, a intenção é fazer testes e, gradualmente, liberar para uma base maior de clientes.

A ideia é usar funding próprio para dar a largada nas novas modalidades, em vez de ir a mercado captar um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), por exemplo.

“A expectativa é fazer os testes colocando o próprio dinheiro, com risco mais controlado e preço menor. A partir daí, vamos testando para, depois, pensar em abrir FIDCs.”

A Cora também vai aumentar os métodos de recebimento para os clientes, que hoje contam com transações via boleto, TED e Pix. “Queremos incluir recebimento via cartão de crédito”, conta Senra. Atualmente, o Pix — que não tem taxas — é disparado o principal meio de pagamento usado pelas empresas. “Mesmo no boleto, criamos uma forma de o cliente pagar via Pix por meio do QR Code.”

Desde que foi lançada oficialmente, em outubro de 2020, a solução da Cora soma cerca de 140 mil clientes (eram 60 mil em abril) e até o fim do ano a expectativa é ultrapassar 380 mil. Para 2022, a meta é superar 1 milhão, diz o empreendedor.

O ritmo de expansão é célere: a abertura de contas cresce, em média, 40% mensais. Já o volume financeiro transacionado na plataforma registra alta de 60% mês contra mês. “Agora, estamos colocando mais lenha nessa fornalha”, brinca Senra.

Para isso, a fintech vai precisar de gente, por óbvio. Com o novo cheque, a ideia é crescer a equipe em todas as áreas, mas principalmente tecnologia e operações. Hoje com 170 pessoas (eram 60 no final de 2020), o time deve encerrar o ano com 250 funcionários, número que a Cora espera dobrar em 2022.

Neste ano, a empresa abriu a possibilidade de todos os colaboradores se tornarem sócios do negócio. Atualmente, 130 dos 170 funcionários já são acionistas. “É um alinhamento de longo prazo, todo mundo olhando para o mesmo horizonte”, defende Senra.

Não está sozinha…

A visão de futuro da Cora é ser uma plataforma completa de serviços financeiros para as pequenas empresas brasileiras. “Mas para chegar lá, temos que fazer o arroz com feijão, e vamos adicionando produto por produto”, disse o emprendedor, em outra entrevista ao Finsiders.

Com o tanque cheio, a Cora ganha vantagem para disputar um mercado cada vez mais concorrido, com players como BTG+ Businesscuja carteira atingiu R$ 14,4 bilhões no segundo trimestre, alta anual de 142% –, Original, Inter e BS2 — que trouxe o CEO da Rede como novo presidente, o ex-CFO da Cielo para o conselho, e ainda comprou a fintech de antecipação de recebíveis Weel.

Outro competidor é o Linker, que neste ano dobrou o número de clientes e cresceu 4x o volume total transacionado na plataforma. A fintech começou com uma conta digital PJ, lançou o cartão de débito físico e link de pagamentos no ano pasado, e nos últimos meses vem agregando novas funcionalidades. Firmou, ainda, uma parceria com a Company Hero, revelada com exclusividade pelo Finsiders.

Já a Conta Simples, que levantou em junho uma extensão do seed money de US$ 2,5 milhões (cerca de R$ 14 milhões na época) da YCombinator, agora vem se posicionando como uma fintech que reúne, numa plataforma, software de gestão e conta corrente.