Depois de encerrar as parcerias de crédito com varejistas e a operação de consignado nos Estados Unidos, o banco mineiro Bmg vendeu mais uma das startups do seu portfólio, a iCertus. A fintech, fundada por Fabio Ieger, recebeu investimento minoritário do BMG em 2022. A informação é de Flávio Pentagna Guimarães Neto, vice-presidente de Sustentação de Negócios. Ele falou com o Finsiders Brasil após sua apresentação nesta quinta-feira (18/9) no evento “AGF Day, realizado em São Paulo. Segundo ele, fa decisão faz parte das ações dentro da reestruturação estratégica que começou em 2023, para recolocar o ‘trem de volta aos trilhos’.
Em 2025, o Bmg definiu como prioridades a expansão de canais, a integração digital da jornada do cliente e o aumento da oferta de produtos. O plano prevê crescimento da rede de lojas Help!, que deve alcançar cerca de 900 unidades até o fim do ano, frente às 849 atuais. Além das lojas, que funcionam em modo de comissionamento, o Bmg tem 24 agências próprias e uma rede de 30 mil correspondentes bancários.
Primeiro, o produto
O banco digital, que já foi símbolo de dispersão de esforços na época do IPO (2019), mudou de papel. “Antes a prioridade era abrir contas, hoje é oferecer produto primeiro. Só depois o cliente abre conta”, explica. Com isso, as novas contas já nascem rentáveis.
A instituição, que vinha acumulando resultados negativos, decidiu abrir mão de operações que “não faziam sentido” e focar nos produtos core — consignado, cartões atrelados à folha e seguros. O resultado é uma transformação que já aparece tanto no balanço quanto na percepção do mercado.
A mudança começou com a chegada da nova gestão, em 2023, sob comando de Félix Cardamone como CEO. “A primeira medida foi no custo, porque receita é incerta, mas despesa é imediata”, lembrou Flávio. O banco reduziu drasticamente sua estrutura, abandonou parcerias com grandes varejistas que consumiam margem em vez de gerar retorno e redesenhou a política de crédito, tornando-a mais conservadora. Segundo o VP, a transformação já aparece tanto no balanço quanto na percepção do mercado.
Sinergias
Em 2024, o resultado foi positivo, mas “acima de zero não é suficiente”, nas palavras do executivo. O objetivo passou a ser entregar retorno sobre patrimônio (ROAE) acima de 10% de forma recorrente. Esse patamar foi alcançado no segundo trimestre de 2025, quando o banco reportou lucro líquido de R$ 125 milhões e ROAE de 14,3%, frente aos 10,8% registrados no mesmo período de 2024. O índice de produtos por cliente também segue em alta: subiu de 1,96 no segundo trimestre de 2024 para 2,25 em 2025, avanço de 15%.
A carteira de crédito total atingiu R$ 24,7 bilhões em junho de 2025, com perfil fortemente concentrado em consignado, que é de cerca de 70% do portfólio. Já a carteira de consignado nos EUA caiu 37,6% em um ano e deve desaparecer dos balanços em breve. O espaço aberto serve para reforçar a expansão em produtos de maior sinergia com a estratégia, como antecipação de FGTS e, mais recentemente, o novo consignado privado.
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E a iCertus?
A iCertus não foi a única startup da qual o banco Bmg se desvencilhou recentemente. “Ficamos apenas com duas ou três que faziam sentido, que tinham fit com nosso negócio”, disse Flávio. A própria área de investimentos em startups agora é tocada por meio de uma gestora de Venture Capital “com cabeça de Private Equity“ Hiker Ventures. A gestora, por sua vez, é da Araújo Fontes – uma das investidas que ficaram no portfólio do Bmg.
A saída foi cercada de idas e vindas, com direito a acusações recíprocas e ameaça de judicialização, segundo fontes do mercado que preferem não se identificar. O Bmg não comenta, mas teria considerado complicado ser sócio minoritário sem poder de voto – por isso, a opção pelos investimentos com poder de veto (a “cabeça” de Private Equity) por meio da Hiker.
Fabio Ieger confirma que recomprou a empresa – não só do Bmg, mas de 18 sócios, entre eles a Bossa Invest (que também tem participação do Bmg). “Hoje concentro mais de 80% das ações e reassumo o comando como CEO e acionista majoritário”. Mas diz que não pode revelar o valor. “Assinei um acordo confidencial sujeito a multas pesadas”, afirma.
Sobre o futuro da fintech, ele conta que está iniciando uma nova fase. “Criamos a nossa própria IA, chamada Jall – Juntos Alcançaremos o Lucro e a Longevidade, com a visão de apoiar o pequeno empresário no crescimento da sua empresa.”
Parcerias
Segundo Fabio, na área comercial, a iCertus está agora com duas frentes estratégicas. Uma delas é a parceria com o Governo do Rio Grande do Sul. “Relançamos oficialmente o programa +Gestão RS, em parceria com o Estado, e já temos mais de 90 prefeituras conveniadas. O projeto disponibiliza de forma gratuita todos os módulos do ERP para todo o estado, democratizando a gestão para milhares de micro e pequenas empresas gaúchas”, disse. A outra é a parceria com o Sebrae Nacional. “Estamos atuando via o programa Sebrae Conecta, levando a solução de gestão com IA a milhões de micro e pequenas empresas em todo o Brasil, e desenhando uma ação em conjunto para o Brasil todo.”
O empreendedor diz ainda que mantém a parceria com o BTG Pactual para conta digital, com diversos FIDCs para antecipação de recebíveis. “Em breve, vamos anunciar uma nova parceria para meios de pagamento e maquininhas de cartão. Nosso propósito é simples e direto: ajudar a pequena empresa a prosperar.”
