MERCADO DE CAPITAIS

O que os investidores querem dos FIDCs de fintechs? Três experts dão suas dicas

Para aproveitar o cenário de alta liquidez e demanda por ativos estruturados, fintechs precisam seguir alguns passos

Dinheiro, crédito
Dinheiro, crédito | Imagem: Adobe Stock

As fintechs de crédito têm uma oportunidade valiosa para captar recursos no mercado de capitais, aproveitando um cenário de alta liquidez e demanda por ativos estruturados. A opinião é de um trio que sabe o que diz. Thais Dias, vice-presidente de Debt Capital Markets (DCM) do Itaú BBA; Felipe Pretz, head de DCM & Structured Finance do BV; e Edgard Erasmi, CEO da Polígono Capital. Eles participaram de evento realizado nesta terça-feira (17/9) pela fintech Kanastra.

Apesar do otimismo, os especialistas deram um aviso. Segundo eles, o sucesso depende de uma preparação cuidadosa, da escolha dos parceiros certos e de uma estrutura flexível. Este último ponto é fundamental para permitir à fintech ajustar sua estratégia conforme o mercado evolui.

Edgard, da Polígono, afirmou que há muito capital disponível e que a oferta de crédito estruturado é menor do que a demanda. “Os investidores estão ávidos por boas oportunidades, o que permite às fintechs negociar condições mais favoráveis”. Ou seja, o ambiente é propício para as que estão buscando financiamento para ampliar suas operações de crédito.

Thais, do Itaú BBA, também compartilhou do otimismo e lembrou que o mercado brasileiro de capitais tem crescido significativamente nos últimos anos, especialmente no segmento de fintechs. “Estamos vendo uma forte demanda por crédito estruturado, o que abre espaço para fintechs que precisam levantar recursos para financiar seu crescimento”, disse.

Planejamento e preparação

A preparação e a escolha do momento certo para captar são fatores críticos para o sucesso da operação.

Para Felipe, do BV, o momento ideal para a fintech buscar recursos no mercado de capitais é quando sua operação já está funcionando de forma estruturada e com potencial claro de escalabilidade. “Se a fintech ainda está testando seu modelo de crédito ou não tem clareza sobre sua capacidade de escalar, pode ser melhor adiar a captação”, aconselhou.

O planejamento antecipado foi a recomendação central de Thais. Ela afirmou que fintechs que se preparam com antecedência conseguem organizar melhor suas estruturas, o que aumenta as chances de captar em boas condições. “É importante começar a estruturar a captação antes que a necessidade seja urgente, garantindo assim um processo mais eficiente e seguro”, destacou.

O que estão buscando

Outro ponto discutido no painel foi o que os investidores estão valorizando no momento da alocação de recursos. Thais explicou que os fundos de crédito e bancos estão mais seletivos e atentos aos detalhes das operações. “Investidores querem fintechs que tenham processos de concessão de crédito bem definidos e que ofereçam garantias robustas”, disse.

Além disso, Felipe mencionou que investidores buscam fintechs que já tenham demonstrado capacidade de execução e que possam escalar suas operações de forma sólida. “Fintechs que conseguem apresentar um modelo de negócio viável, escalável e com um histórico consistente terão mais facilidade para captar”, afirmou.

A escolha do parceiro certo

A escolha dos parceiros de captação também foi um tema central. Edgard reforçou que a fintech precisa selecionar parceiros que possam contribuir não apenas com capital, mas com expertise e suporte estratégico. “Um bom parceiro vai além de apenas fornecer recursos; ele ajuda a fintech a estruturar seu negócio e a desenvolver uma estratégia de longo prazo”, explicou.

Thais acrescentou que a flexibilidade na estruturação da captação é fundamental. “O mercado muda rapidamente, e é importante ter parceiros que compreendam essas mudanças e estejam dispostos a ajustar as condições conforme a fintech evolui”, disse. Essa flexibilidade pode ser um diferencial importante para fintechs em estágios iniciais ou em momentos de rápida expansão.

Os especialistas esperam que o mercado de capitais continue aquecido nos próximos meses, com grande demanda por ativos estruturados e alta liquidez. Thais afirmou que o mercado está receptivo a novas emissões, especialmente no setor de fintechs, e que a expectativa é de que esse cenário se mantenha favorável para as captações. “Estamos otimistas com o mercado de capitais no Brasil. As fintechs que se estruturarem adequadamente vão conseguir captar recursos em condições muito favoráveis.”

Como funciona a captação no mercado de capitais?

A captação de recursos no mercado de capitais pode ocorrer de diversas formas, mas uma das mais comuns para fintechs de crédito é a criação de fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs). Nesse modelo, a fintech reúne recursos de diversos investidores que compram cotas do fundo, e esses recursos são usados para conceder crédito. Em troca, os investidores recebem uma remuneração baseada nos juros cobrados dos clientes da fintech.

Outra alternativa é a emissão de debêntures, em que a fintech vende títulos de dívida para investidores, que são remunerados com juros sobre o capital investido. Felipe, do BV, explicou que o FIDC é especialmente adequado para fintechs em fase de crescimento, pois oferece a flexibilidade necessária para financiar suas operações de crédito.