RESULTADOS

Bancos aumentam lucro em trimestre difícil para a economia real

Não foram só os bancos que aumentaram lucros. De todas as principais fintechs do país, as duas que ainda não haviam conseguido o "breakeven" chegaram lá

Imagem: Pexels/ Adrianna Calvo
Imagem: Pexels/ Adrianna Calvo

Por que será que os Bancos aumentaram os lucros em um trimestre difícil para a economia real?

Banqueiro é aquela pessoa que empresta o guarda chuva pra você quando está sol, e pede de volta quando começa a chover.

Essa frase, de autoria atribuída ao escritor Mark Twain (há controvérsias…), se aplica perfeitamente ao que aconteceu no Brasil nesse último trimestre. Os bancos aumentaram lucros, apresentando resultados acima dos esperados, enquanto a economia real patinava. O IBGE acaba de divulgar aumento na taxa de desemprego em oito Estados. E atividade econômica recuou em março: 0,34%, segundo o IBC-BR do Banco Central. O volume de pedidos de recuperação judicial aumentou 4% no trimestre, atingindo mais de 4,2 mil companhias, segundo a consultoria RGF & Associados.

Com pessoas desempregadas, empresas vendendo menos e inflação alta, o que fazer a não ser pegar um empréstimo? Seja comprando no cartão, na esperança da vida melhorar no mês seguinte; seja contratando um crédito pessoal ou um capital de giro.

Queda da Selic?

Mas, tem mais. A queda da Selic também beneficia primeiro os bancos, para depois chegar na ponta. Ou seja, há um período em que os bancos aumentam os lucros. Além disso, o programa Desenrola permitiu às instituições recuperarem muitos dos créditos dados como perdidos. E, também, quanto mais digitais os bancos ficam, mais custos cortam. Ou seja, mais ganham.

O Nubank, que já está mais para bancão do que para fintech, foi um dos que registraram lucro maior no trimestre que passou, atingindo US$ 379 milhões. E uma das alavancas do aumento do lucro foram as receitas com empréstimo pessoal. A inadimplência aumentou também, mas não proporcionalmente, indicando que o Nu está cobrando muito pelos empréstimos, e pagando pouco pelos depósitos. O roxinho também se orgulha de dizer que seu custo é muito mais baixo do que a de um banco tradicional, com agências. Emprega apenas 5 mil funcionários para atender 100 milhões de clientes.

Os outros

Mas, não foi somente o Nu que se deu bem no trimestre anterior. O período foi particularmente importante para todas as principais fintechs do país. Dessas, as duas que ainda não haviam conseguido o “breakeven” conseguiram: C6 Bank e Creditas. Ou seja, elas também como os bancos aumentaram lucros.

E se foi bom para os menores, para os grandes, então, foi um passeio. Mesmo com custos mais altos. Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander, as quatro maiores instituições brasileiras, apresentaram resultados melhores que o esperado pelos analistas. No consolidado, foi R$ 26,2 bilhões, 12% a mais em 12 meses. Já na Caixa, o salto foi ainda maior: 49%, para R$ 2,9 bilhões.

Conta salário

Para Gueitiro Genso, especialista em pagamentos e finanças – foi presidente da Previ e do PicPay – uma das explicações para a boa performance dos bancos grandes são os direitos de gestão de folhas de pagamento. Isso, as fintechs não conseguiram tirar dos “incumbentes”, nem mesmo com o advento da portabilidade.

“Somados, os cinco maiores bancos do Brasil têm cerca de R$ 15 bilhões de saldo a amortizar nas contas salário”, diz. Esse dado mostra que a estratégia de processar a folha de pagamento das empresas, especialmente dos Estados e municípios,  continua a ser muito importante para a estratégia de varejo dos bancos.