Com o crescimento das fintechs, os grandes bancos brasileiros precisarão repensar suas estratégias digitais. A conclusão é do mais recente estudo da Fitch Ratings sobre o tema. Por outro lado, a agência acredita que, neste momento, as fintechs ainda não ameaçam o perfil de crédito do setor bancário, que deve continuar dominado por grandes bancos tradicionais e altamente concentrado.
Os grandes bancos do Brasil enfrentam crescente competição de empresas que fogem de seu tradicional — e às vezes rígido — modelo de negócios. Para reforçar sua presença no ambiente digital, alguns bancos têm adquirido ou criado parcerias com bancos comerciais locais que se mudaram para o segmento de bancos digitais ou de pagamentos online nos últimos anos. No entanto, instituições com altos custos operacionais precisarão se adaptar rapidamente às novas tecnologias, especialmente se quiserem atrair clientes ávidos por produtos mais avançados tecnologicamente. Uma rede de agências pequena, porém moderna, pode ser mais eficiente em termos de custo no longo prazo, pois elas e seus funcionários representam a maior parte da base de custos de varejo de um banco grande. Boa parte dessas despesas poderia ser cortada via automatização.
A alta penetração da internet móvel está mudando o comportamento do consumidor em benefício das Fintechs à medida que ele ruma para canais somente digitais. Um crescente número de startups (a maioria no segmento de crédito P2P e de pagamento digital) está acessando clientes não atendidos pelas instituições tradicionais. No Brasil, há cerca de 150 Fintechs. Essas companhias estão crescendo e ampliando suas operações, tirando vantagem de espaços deixados por bancos mais conservadores devido ao ambiente operacional desafiador dos últimos anos.
A Fitch acredita que a regulação terá papel fundamental para determinar a taxa de sobrevivência e de competitividade das Fintechs no Brasil. Como a indústria é relativamente jovem, o quadro regulatório local ainda não está consolidado, o que tem permitido o crescimento do número de empresas, que não estão sujeitas à forte e complexa regulação do setor bancário.
O Banco Central implementou uma série de regras para instituições de pagamento não-bancárias e meios de pagamento em 2013, mas algumas diretrizes ainda não são claras. A regulação de empréstimos P2P é inexistente. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estabeleceu um Centro de Inovação de Tecnologias Financeiras para monitorar o desenvolvimento e a aplicação das Fintechs no mercado acionário. Uma supervisão mais rígida pode aumentar as demandas regulatórias e os custos operacionais do setor, o que afetaria o modelo de negócios de algumas companhias, hoje baseado de custos muito baixos. Por outro lado, políticas claras podem ajudar o desenvolvimento de Fintechs no país.
Essas empresas sempre terão vantagem em decorrência de sua agilidade e da oferta de alternativas mais customizadas e convenientes. Porém, enfrentam grandes desafios, como obter escala, lidar com a competição de grandes bancos, com mais disponibilidade de capital e cultura tecnológica mais bem estabelecida, desenvolvimento regulatório e a busca por funding a custos competitivos. A ausência de uma estrutura de liquidez adequada, de distribuição, escala e expertise regulatória, além de uma cultura de gestão de risco, pode consolidar o setor, com os grandes bancos incorporando as Fintechs de nicho a suas complexas estruturas.