P2P

EmCash planeja nova captação de CRI para ampliar oferta a construtoras

A operação resolve um problema de alavancagem para as construtoras, dizem os sócios. O valor da nova rodada ainda não foi definido

Márcio Nunes (esq.) e  Guilherme Maia/EmCash
Márcio Nunes (esq.) e Guilherme Maia/EmCash | Imagem: divulgação

A EmCash, fintech mineira fundada em 2019 por Márcio Nunes e Guilherme Maia, está se preparando para a segunda rodada de captação de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) em parceria com a securitizadora Opea. A primeira operação, que em abril levantou R$ 125 milhões, já financiou cerca de 3 mil imóveis para mutuários com renda até R$ 3,8 mil mensais, compradores de imóveis da construtora MRV.

O objetivo desta nova captação é atender a uma gama mais ampla de construtoras e incorporadoras, diversificando seu portfólio de clientes e aumentando a escala das operações. O valor ainda não foi definido, “mas será maior do que o primeiro”, segundo os sócios.

“Nosso desejo é criar recorrência dessas operações, expandir para outras construtoras. Já temos cerca de 40 clientes no pipeline, o que mostra o potencial da nova rodada”, acredita Márcio​.

O interesse das construtoras, segundo os sócios, reside no fato de que essa fórmula resolve um problema de caixa para elas: o financiamento da entrada dos imóveis, conhecido no setor como “pró-soluto”. Esse valor, que representa cerca de 20% do valor total dos imóveis, não é coberto por financiamentos tradicionais como o Minha Casa Minha Vida (MCMV). Isso representa um desafio para muitos compradores e construtoras.

“Financiar essa entrada com recursos próprios impacta o fluxo de caixa e o balanço financeiro da construtora, por isso desenvolvemos uma estrutura que permite às empresas aumentar sua capacidade de financiamento sem comprometer seus recursos”, explica Márcio.

“Essa operação na origem do pró-soluto foi pioneira e trouxe muito interesse de outras construtoras, querendo entender como foi feita. Estamos agora trabalhando para diversificar essa operação para diferentes portes de construtoras. A MRV é a maior do País, especializada em imóveis para a baixa renda dentro do programa MCMV do Governo Federal”, acrescenta Guilherme.

Transportes e consignado

O modelo de negócio da EmCash é B2B2C, ou seja, eles não emprestam diretamente aos clientes finais, mas estruturam operações para empresas parceiras financiarem seus clientes, funcionários e/ou fornecedores.

No caso da parceria com a MRV, os CRIs emitidos são garantidos por Cédulas de Crédito Bancário (CCBs) da fintech. Essas CCBs, por sua vez, têm lastro nos financiamentos imobiliários. Segundo Márcio, os CRIs pagam juros de IPCA mais 11% ao ano, enquanto as CCBs cobram IPCA mais 1% ao mês. Os prazos vão até 60 meses.

A parceria com a MRV foi um dos principais motores de crescimento para a EmCash. Antes de financiar a entrada dos imóveis, oferecia crédito para kits de acabamento vendidos pela construtora.

Mas nem só do mercado imobiliário vive a EmCash. A fintech desenvolve produtos financeiros para outros setores, como transporte e logística. A fintech identificou que muitos pequenos prestadores de serviço, como caminhoneiros autônomos e pequenos frotistas, enfrentam dificuldades para acessar crédito. Em resposta, a EmCash criou linhas de crédito específicas para essas necessidades, oferecendo desde capital de giro até financiamento para renovação de frotas.

“Trabalhamos muito próximos das transportadoras para entender suas dores e desenvolver soluções que realmente atendam ao seu ecossistema. Criamos operações de crédito para prestadores de serviço dessas empresas, possibilitando desde a compra de caminhões novos até capital de giro,” explica Guilherme. Além disso, a EmCash também atua no segmento de crédito consignado, oferecendo empréstimos customizados para funcionários de empresas parceiras, ajustando as taxas de juros ao perfil de cada funcionário​.

“Como serviço”

A EmCash, portanto, atua como uma fintech as a service, desenvolvendo soluções financeiras personalizadas para seus parceiros – construtoras, transportadoras ou de outros ramos interessados em oferecer soluções financeiras ao seu ecossistema.

Em maio de 2020, a EmCash recebeu aprovação do Banco Central para operar como Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP), um modelo de peer-to-peer lending (P2P). Com a aprovação, a EmCash se tornou a sexta empresa no Brasil a operar nessa modalidade, e a primeira em Minas Gerais.

Em 2021, a EmCash firmou um acordo com a B3 para criar uma conta de gestão de carteira. Isso permitiu que a fintech registrasse seus investimentos diretamente na plataforma da B3, oferecendo maior segurança e transparência para os investidores.

Concorrência

O setor de fintechs P2P ainda é pequeno no Brasil. Além da EmCash, apenas outras 11 fintechs, entre elas Nexoos e IOUU oferecem alternativas de crédito para pequenas e médias empresas dentro desse modelo.

Essas fintechs permitem que investidores se conectem diretamente com tomadores de crédito, muitas vezes oferecendo taxas de juros mais baixas em comparação aos grandes bancos. As plataformas P2P surgiram como uma alternativa para empresas que buscam capital de giro e investimentos.

O setor ainda enfrenta desafios, como a necessidade de aumentar a confiança dos investidores e melhorar as ferramentas de avaliação de risco. Mas, mesmo menor do que os segmentos de SCD e IPs, a competição no setor de SEP está aumentando, com muitas delas buscando nichos específicos e soluções para se diferenciar.