CRIME

Fintechs ligadas ao PCC são alvo da PF e do Gaeco em São Paulo

De acordo com a investigação, as duas fintechs constituíram "engenharia financeira complexa para velar os reais beneficiários"

Operação Hydra - PF e Gaeco
Operação Hydra - PF e Gaeco | Imagem: reprodução/site MP-SP

A Polícia Federal (PF) e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), deflagraram nesta terça-feira (25/2) a Operação Hydra, com o objetivo de combater a lavagem de dinheiro realizada por duas fintechs ligadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC).

Os nomes das empresas não foram divulgados oficialmente, mas informações na imprensa mencionam 2GO Bank e Invbank. Fundador e CEO da 2GO Bank, o policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior foi preso hoje. Ele já havia sido detido em outra operação da PF, em Campinas, em novembro do ano passado, de acordo com o portal G1. Mas foi solto ainda em 2024.

Além da prisão de Cyllas, a ação cumpre dez mandados de busca e apreensão em endereços nas cidades de São Paulo, Santo André e São Bernardo do Campo. A Justiça também determinou o bloqueio de valores em oito contas bancárias e a suspensão temporária das atividades econômicas das instituições de pagamento envolvidas.

De acordo com as autoridades, as duas fintechs ofereciam serviços financeiros de forma alternativa às instituições bancárias tradicionais, movimentando valores ilícitos. “Elas constituíram engenharia financeira complexa para velar os reais beneficiários”, afirmou o MP-SP, em nota.

Os alvos

Em seu site, a 2GO Bank se define como “mais do que uma instituição de pagamentos”. Afirma oferecer soluções financeiras e digitais para pessoas e empresas. “Até 2025, atingiremos o status de maior banco digital liquidante de criptoativos do Brasil com a inclusão de mais de 2 milhões de novos clientes”, diz texto na página da empresa. A 2GO é uma Instituição de Pagamento (IP) não sujeita à autorização do Banco Central. Portanto, está fora do radar do regulador.

Além da especialização em cripto, a 2GO Bank vinha se posicionando também com soluções para clubes de futebol e torcidas organizadas, por meio do Banco do Torcedor.

Já a Invbank se intitula um banco digital com soluções financeiras, facilitação, conveniência e gestão de pagamentos. “Atuamos no mercado, utilizando aplicativos móveis para realizar seus negócios por meio da comercialização de produtos e serviços próprios e de parceiros”. No LinkedIn, há apenas três usuários associados à página da empresa, entre eles, André Luiz da Silva, que seria sócio-diretor.

O Finsiders Brasil pediu esclarecimentos a 2GO Bank e Invbank por meio de seus canais oficiais e aguarda retorno.

Delação de Gritzbach

A Operação Hydra é fruto da investigação que começou a partir da delação premiada de Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, assassinado em novembro de 2024 no Aeroporto Internacional de Guarulhos. “O colaborador jogou luz na atuação de fintechs para o branqueamento de bens e valores oriundos de atividades criminosas”, disse o MP-SP.

A ação deflagrada hoje é uma das frentes das investigações feitas pela PF, que mira desarticular esquemas de lavagem de dinheiro por meio das Instituições de Pagamento (IPs). 

Cerco se fecha

Em agosto de 2024, a PF deflagrou a Operação Concierge para desarticular uma organização criminosa suspeita de crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro. De acordo com a investigação, a quadrilha movimentou R$ 7,5 bilhões por meio das fintechs não reguladas T10 Bank e InovePay.

Conforme interlocutores, o caso levou o Banco Central (BC) a acelerar a proposta de regulamentação do Banking as a Service (BaaS). O modelo permite a empresas de diferentes setores oferecerem produtos e serviços financeiros a seus clientes, sem ter a própria licença junto ao BC. A falta de regras padronizadas vem dificultando a fiscalização e supervisão por parte do regulador. O tema está em consulta pública até o próximo dia 28/2.