A Mastercard vem apostando na diversificação de negócios, para além do universo de cartões, em uma estratégia para se manter competitiva num cenário de maior concorrência, inclusive com novos métodos de pagamento, como o Pix. Para se ter uma ideia, a linha de serviços — que inclui produtos não relacionados à atividade central de meios de pagamento — representou 35% do faturamento global da companhia. Durante a pandemia, com a queda no consumo, houve momentos em que essas receitas chegaram a contribuir com 70% do negócio.
“Há aproximadamente 15 anos, começamos a tese de diversificação dos nossos negócios, e de lá pra cá isso cresceu muito”, comentou Marcelo Tangioni, presidente da Mastercard no Brasil, em almoço com jornalistas no final da semana passada. “Apesar da relevância, ainda temos coisas para fazer. Nos últimos cinco anos, a empresa investiu US$ 5 bilhões adquirindo 15 empresas, só para fortalecer esse lado de serviços”, exemplificou.
Marcelo assumiu em agosto a presidência do negócio no Brasil — a segunda maior operação da Mastercard no mundo —, depois de ter sido presidente da divisão caribenha da companhia, liderando a estratégia e as operações em 27 ilhas, que compõem o mercado mais diversificado da América Latina.
Leia, a seguir, alguns destaques da fala do executivo:
Novos segmentos
“Hoje temos presença forte em instituições financeiras e fintechs. A próxima fronteira agora é começar a levar nossos serviços para segmentos de indústrias em que a Mastercard eventualmente não é vista como parceira. Não temos ainda definição de segmentos, mas posso citar alguns exemplos como seguradoras, telecom, saúde, varejistas, empresas de consumo. Um exemplo são as tecnologias de prevenção a fraudes, que ajudam também na prevenção à lavagem de dinheiro e a ataques cibernéticos.”
Pagamentos instantâneos e concorrência com o Pix
“A gente acredita muito na concorrência e em dar opções ao consumidor. O movimento do Pix, na nossa visão, é positivo. Óbvio que ele é um concorrente, e isso é natural, mas o boleto e o DOC já eram nossos concorrentes. Quanto mais concorrência, maior é a busca por inovação e eficiência e, consequentemente, redução de custos. Isso é assim em todas as indústrias, e na nossa não é diferente.”
“O pagamento pode e deve ser feito de qualquer forma, seja qual for o trilho. Nós acreditamos muito no pagamento entre contas. Em alguns países do mundo, como na Índia, o pagamento instantâneo entre contas não é novidade. Fomos nós que desenvolvemos a tecnologia de pagamentos instantâneos entre contas no Reino Unido, por exemplo. Já fizemos isso para países nórdicos também e alguns países da Ásia. E agora estamos provendo também a tecnologia de pagamentos instantâneos para os EUA.”
WhatsApp Pay
“Essa operação já existe para pagamento entre pessoas, mas ela não teve aderência de todos os participantes do sistema. Com a funcionalidade de compras sendo autorizada, acreditamos que conseguimos trazer todos os players para dentro do programa. É muito difícil fazer projeção de volumes, mas a expectativa é boa. Do lado de segurança, é exatamente igual a dos cartões. Os dados são todos encriptados. Diria que é um dos diferenciais que temos nesse mundo de pagamentos instantâneos.”
>> Contexto: Há uma semana, a Mastercard recebeu autorização do Banco Central (BC) para atuar no programa Facebook Pay, no arranjo de compra. Ou seja, usuários que têm cartões da bandeira poderão fazer compras pelo WhatsApp, além de transferir dinheiro entre si, funcionalidade liberada em março do ano passado. A Visa também recebeu aval do regulador, em novembro.
Criptomoedas
“Temos algumas frentes nesse mercado de cripto. Falando de segurança, a CipherTrace [empresa de inteligência e segurança de criptomoedas, comprada em 2021 pela Mastercard] é uma das ferramentas que a gente mais comercializa com nossos parceiros porque ajuda desde instituições financeiras até as corretoras a identificar, mapear essas atividades e ajudá-los a entender se essas criptomoedas estão sendo utilizadas de maneira correta.”
“Também temos programas de cartões, que geram essa interoperabilidade entre o mundo de criptomoedas e o mundo ‘fiat’. E a iniciativa mais recente é a parceria com a Paxos, que estamos trazendo para o Brasil. Significa oferecer para bancos e fintechs, até mesmo corretoras, a possibilidade de fazer o chamado ‘buy, hold and sell’, ou seja, fazer compras, gestão e venda dos ativos.”
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