O crime organizado atingiu outro patamar, e o uso de instituições de pagamento pelas quadrilhas está ajudando nessa escalada. A visão é do promotor do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), Lincoln Gakiya. “Costumo dizer, de forma simples: melhor do que ter laranjas para lavar seu dinheiro ou montar uma empresa de fachada é você ter o seu próprio banco. É isso que estamos vendo: o crime organizado está montando suas próprias instituições”, afirmou ele, em entrevista coletiva para comentar sobre a Operação Hydra, deflagrada nesta terça-feira (25/2).
A ação tem como objetivo combater a lavagem de dinheiro realizada pelas fintechs 2GO Bank e Invbank que, de acordo com a investigação, têm ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Fundador e CEO da 2GO Bank, o policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior foi preso hoje. Foram cumpridos, ainda, dez mandados de busca e apreensão em endereços nas cidades de São Paulo, Santo André e São Bernardo do Campo.
Para Lincoln, operações como a deflagrada hoje mostram como a engenharia financeira de lavagem de dinheiro se sofisticou no Brasil. “O crime organizado começou utilizando doleiros e, antes, enterravam dinheiro em casas cofre. Hoje, usando brechas legais e muito bem assessorados, esses criminosos estão definitivamente operando no mercado financeiro formal”, disse o promotor.
Fiscalização
O promotor ressaltou a importância de bancos e pagamentos digitais, para ampliar o acesso da população a serviços financeiros. “Mas não podemos, a título de desburocratizar o sistema, enfraquecer os meios de regulamentação e controle”, disse.
Na visão dele, é preciso fortalecer a fiscalização e regulamentação das instituições de pagamento. “Os bancos regulares e grandes fintechs sempre responderam ao Banco Central, CMN [Conselho Monetário Nacional] e Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras]. Então, essas instituições menores também devem cumprir esse papel”, afirmou.
De acordo com os promotores do MP-SP, muitas instituições de pagamento estão atuando como se fossem bancos, inclusive oferecendo crédito. “Estão funcionando como instituições para captação de recursos sem que haja, por exemplo, a fiscalização ou pelo menos a comunicação aos órgãos fiscalizadores, como BC, Coaf etc.”, disse Lincoln. “Elas mantêm e oferecem até um serviço de anonimato para o correntista que vai depositar e manter o dinheiro nessas instituições.”