"Em 2023, só vamos olhar para projetos diferentes, ideias disruptivas, times excepcionais", diz sócia do Antler, Carol Strobel

“Queremos investir só em projetos diferentes, ideias disruptivas, times excepcionais; gente apaixonada por resolver um grande problema real, não pela solução criada”. A dica é de Carolina Strobel, sócia do Antler, uma plataforma global de venture capital que já investiu em mais de 700 empresas, que entrou no Brasil em 2022. Depois do “inverno” do ano passado, quando os investimentos minguaram, as portas não se fecharam – mas a hora agora é de cautela, reflexão e busca pela eficiência.

A Antler é um dos maiores investidores globais em empresas em estágio pre-seed, que não foram muito afetadas pela retração dos investidores. “O momento está difícil para startups do late stage, que já estavam queimando caixa”, diz Carol.

Na sua visão, os investidores mais experientes vão aproveitar a oportunidade de investir no que faz sentido, e conseguir participações iguais com tíquetes médios menores; e as startups vão ter que aproveitar o momento para se diferenciar: “A pior coisa que podemos fazer para startups é dar mais dinheiro do que ela precisa.”

Em outras palavras, chega de almoço grátis.

A investidora diz, ainda, que receber seis vezes o valor que investiu pode parecer muito mas, a longo prazo e com tanto risco, para valer a pena tem que ser pelo menos 10 vezes o valor do fundo.

Outra tendência que ela enxerga para este ano é a de fusões e aquisições – no ano passado, elas caíram 20% (de 250 para 200), mas agora comprar startups volta a ser uma opção para corporações crescerem, em vez de construir do zero. “Para startups, também é uma solução: nem todas nascem para ser unicórnio, ao contrário – 90% é comprada”, diz.

Balanço do ano

Carol participou da live realizada com Gustavo Gierun, CEO e co-fundador da Distrito, para apresentar e comentar o balanço dos investimentos realizados por fundos de venture capital em startups brasileiras no ano passado.

Segundo o levantamento, foram US$ 4,45 bilhões (55% a menos que em 2021) em 755 operações. A queda ocorreu após a explosão em 2021, devido ao movimento global de queda das taxas de juros para estimular a economia na pandemia da Covid 19.

As fintechs ainda lideram o ranking, com US$ 1,73 bi em 2022 – metade do que havia sido em 2021; Neon e Creditas foram as duas maiores do ano, com US$ 300 milhões e US$ 260 milhões; a Cerc ficou com o terceiro lugar no ranking entre as maiores rodadas de investimento no segundo semestre no ano passado, com US$ 100 milhões. Em M&A, as fintechs também dominam com 23%.

Apesar da queda do valor médio dos negócios, principalmente no segundo semestre, não houve ruptura na disponibilidade de recursos – mas os fundos se tornaram mais seletivos, lembra Gierun.

Segundo ele, “2021 produziu um tipo de empreendedor mal acostumado; agora, está havendo uma mudança de mindset: sai crescimento a qualquer custo, entra crescimento sustentável – e os fundos estão observando como o mercado está se adaptando”.