Prestes a completar dez anos no Brasil, a fintech de pagamentos europeia SumUp desenhou sua estratégia sempre com foco no que chama de nanoempreendedores — profissionais autônomos como comerciantes e prestadores de serviços que faturam, em média, até R$ 2 mil por mês. Do ano passado para cá, a empresa vem ampliando sua atuação para capturar também pequenos negócios, com receita mensal de até R$ 60 mil.
“Queremos nos consolidar nesse segmento, sem deixar de atender os micro e nanoempreendedores”, afirma Carlos Grieco, CEO da SumUp no Brasil, em entrevista ao Finsiders. Segundo ele, o público de pequenas empresas vem crescendo e hoje já representa a maior parte da receita da fintech no mercado brasileiro. O executivo não revela nem o tamanho dessa participação, nem quanto a SumUp fatura no país.
“O que posso dizer é que essa frente está se consolidando como a nossa principal área de expansão de receita. Já conseguimos transformar essa linha de negócios em principal fonte de receita e agora a ideia é continuar expandindo, com produtos que realmente atendam às necessidades das pequenas empresas”, explica o CEO, que está no cargo há cerca de cinco meses.
A entrada no mercado de pequenos negócios é uma estratégia não apenas para fisgar um novo público, mas também fidelizar os atuais clientes, que cresceram e precisam de outras soluções financeiras. “Quando os empreendedores ficam maiores, começam a ter ponto físico, normalmente têm aluguel e funcionários para pagar. As necessidades mudam”, exemplifica Carlos.
Inicialmente, a SumUp vai dar foco para pequenas empresas com ponto físico, e a ideia é expandir para companhias que estão no ambiente online neste ano. Hoje, a fintech já oferece a ferramenta de link de pagamento e a intenção é evoluir o portfólio ao longo do segundo semestre. “Queremos ampliar essa oferta para estar nas lojas estabelecidas como um gateway de pagamento.”
Ecossistema
Em meio a um ambiente cada vez mais competitivo, inclusive pelas pequenas empresas, a SumUp aposta em um ecossistema de soluções financeiras e de pagamento. Além das maquininhas de cartões, a fintech oferece link de pagamento, conta digital, antecipação de recebíveis, empréstimos e ‘tap on phone’ — tecnologia que transforma smartphones em terminais de pagamento.
Para clientes que optam por receber suas vendas na conta digital, o dinheiro entra em até 1 hora, inclusive aos fins de semana e feriados. Também é possível aceitar pagamentos via Pix nos leitores de cartão. “O ‘pagamento instantâneo’ é um dos principais elementos de diferenciação e é poderoso para os clientes”, destaca Carlos. Em crédito, a SumUp informa ter concedido mais de R$ 38 milhões.
Apesar da diversificação no portfólio de produtos e serviços, a fintech continua investindo em novos modelos de maquininhas, com tecnologias desenvolvidas dentro de casa, inclusive hardware. Em 2022, lançou a Solo, uma maquininha que aceita Pix, link de pagamento e boleto, e tem tela touch-screen (sensível ao toque).
Neste ano, a empresa também vai trazer para o mercado local o POS Lite, uma espécie de tela registradora, integrada a uma maquininha de cartão da fintech. A solução está em testes com os primeiros clientes, conta o CEO. Com a solução, os empreendedores poderão criar um catálogo de produtos e registrar os pedidos de seus clientes em poucos cliques. Também poderão registrar seus pagamentos e emitir recibos. “Vamos acabar com aquele computador cheio de cabos dos estabelecimentos.”
Fundada em 2012 em Berlim, a SumUp atende mais de 4 milhões de donos de micro e pequenos negócios em 35 mercados — o Brasil é um dos cinco maiores, ao lado de Alemanha, Inglaterra, França e Itália. Desde sua criação, a fintech já levantou cerca de US$ 2 bilhões, incluindo captações de equity e dívida, conforme dados do Crunchbase. Na última rodada, anunciada em junho de 2022, foi avaliada em 8 bilhões de euros (US$ 8,5 bilhões).
Presente no país desde 2013, a empresa recebeu em março de 2020 a autorização do Banco Central (BC) para operar como uma Sociedade de Crédito Direto (SCD), o que lhe permitiu criar o banco digital SumUp Bank. Já no ano passado, conforme o Finsiders revelou, teve aval do regulador para funcionar como instituição de pagamento (IP), na modalidade credenciadora.
Mercado
Concorrência é o que não falta na indústria de pagamentos, especialmente entre players que miram pequenas empresas. A lista inclui nomes como PagSeguro, Stone, Mercado Pago, InfinitePay (da CloudWalk), Acqio, Justa, entre outras. Todas tentam “beliscar” o bolo ainda dominado por Cielo e Rede.
Em 2022, o mercado de cartões no Brasil movimentou R$ 3,31 trilhões, alta de 24,6% em relação ao ano anterior, segundo dados da Abecs, que representa as empresas do setor. Para 2023, a entidade projeta um ritmo menor de expansão para a indústria, com um crescimento entre 14% e 18%.