OPINIÃO

Vertical "is the new black": por que o futuro das fintechs será setorial, não genérico

O crescimento do mercado vertical das fintechs cria soluções financeiras sob medida para setores específicos.

Imagem: Canva
Imagem: Canva

Em meio à proliferação de carteiras digitais, plataformas de pagamento e soluções genéricas voltadas para empresas de todos os setores, um novo movimento vem ganhando força no ecossistema financeiro brasileiro: a ascensão das fintechs verticalizadas, que oferecem estruturas sob medida para segmentos específicos da economia, como saúde, logística, agro, eventos e educação.

Essas fintechs apostam em arranjos fechados de pagamento — modelos em que a emissão, o credenciamento e a liquidação ocorrem dentro de um único ecossistema. Com isso, eliminam intermediários, aceleram transações, reduzem custos e, principalmente, entregam mais controle e personalização para as empresas.

O mercado já entendeu que não adianta oferecer um cartão corporativo genérico esperando que todas as empresas se adaptem a ele. O valor está no oposto: criar uma estrutura que nasce do fluxo real de cada setor e resolve suas dores operacionais de forma nativa.

A proposta das fintechs verticalizadas não é simplesmente competir com os grandes bancos ou com as soluções horizontais como Clara, Jeeves e Brex, que oferecem pacotes padronizados para qualquer CNPJ. A ideia é mergulhar nas particularidades de um setor e moldar os produtos financeiros a partir da operação.

Fábio Montanari/Montanari Tecnologia | Imagem: LinkedIn

Infraestrutura que nasce da dor

Em setores como eventos, por exemplo, há uma série de fricções recorrentes: desde o pagamento emergencial a fornecedores durante a madrugada até a gestão de orçamento por etapa do projeto. Nesses casos, um arranjo fechado com conta digital, cartão corporativo e adquirência integrada permite controlar verbas, automatizar reembolsos e garantir a conciliação contábil em tempo real.

Não é sobre dar limite no cartão — é sobre permitir que um cliente de logística antecipe o pagamento do frete logo após a entrega ser confirmada via sistema de rastreamento. Ou que uma clínica médica faça o split do valor da consulta entre médico, plataforma e taxa de administração, tudo de forma automática.

A especialização também permite que essas soluções evoluam mais rápido do que os produtos generalistas, uma vez que não dependem do roadmap de grandes instituições financeiras. Em vez disso, constroem inovação com base nos feedbacks operacionais do dia a dia — e entregam resultados tangíveis.

Enquanto as soluções horizontais brigam por espaço em prateleiras lotadas, as verticais criam novas prateleiras. São menos concorridas e mais aderentes. E quando você domina o ciclo completo do pagamento — da emissão à liquidação —, você domina também a experiência do cliente, a margem e a inovação.

Tendência vertical se consolida

Com a busca por eficiência em alta e a pressão por margens maiores, empresas têm repensado sua infraestrutura financeira, especialmente em setores com alto volume transacional ou grande complexidade operacional. A tendência é que o modelo de fintech como infraestrutura — e não apenas como produto — se torne dominante nos próximos anos.

Setores como o de T&E (viagens aéreas, terrestres, locação e eventos corporativos) movimentaram cerca de R$ 30 bilhões em 2024, sendo aproximadamente R$ 15 bilhões apenas em eventos corporativos. Desse total, apenas 5% são pagos atualmente via cartão de crédito, o que representa uma oportunidade latente de mais de R$ 14 bilhões em digitalização. E com projeção de crescimento, a estimativa é que o setor alcance R$ 50 bilhões em até cinco anos.

Quem conhece a dor real, cria valor real. Essa é a lógica. Não estamos mais no momento de escalar um único modelo para todo mundo. O futuro é sob medida. Vertical é o novo black.

Não por acaso, algumas verticais já movimentam cifras expressivas — e a Montanari projeta alcançar R$100 milhões em faturamento até 2027, refletindo o potencial desse modelo especializado. 

*CEO da Montanari Tecnologia