A BEE4, plataforma de negociações de ações tokenizadas de empresas emergentes, obteve autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para estender para junho de 2024 seu prazo no sandbox do regulador. O primeiro prazo, de 12 meses, acabava neste mês. Assim, neste segundo ano de operação, vai não apenas lançar novos tokens de ações – há três empresas previstas por enquanto -, como implantar avanços no seu modelo de negócios. E um dos pontos principais é fechar acordos com corretoras para distribuição dos tokens. Dessa forma, começará a pavimentar o caminho para deixar a distribuição, no futuro, e se concentrar nas outras áreas do negócio. A notícia é do portal parceiro Blocknews.
As três empresas previstas para lançamento de ações tokenizadas são de segmentos como cadeia distribuição de alimentos e tecnologia. A BEE4 opera com empresas com faturamento de até R$ 300 milhões ao ano, o que a torna uma alternativa à bolsa B3, onde estão as de maior porte. O processo começa na Beegin, plataforma de captação de recursos para empresas e que é do Grupo Solum, o mesmo que opera a BEE4 com a Finchain e a Nuclea (ex-CIP). Depois da captação, os investidores terão direito a ações e quem quiser tokenizar as suas e vender no mercado secundário, faz isso na BEE4.
Sobre acordos com corretoras, Patrícia Stille, CEO da BEE4, afirmou ao Blocknews que já fechou acordo com uma de grande porte e está definindo uma segunda. Hoje, a startup atua só com canal próprio para distribuição. Dessa forma, está buscando casar o investidor do varejo com o institucional, “que ancora preço e traz a racionalidade (nas avaliações e transações) do que a empresa (listada) oferece”, afirma a executiva.
Além disso, ao trabalhar com corretoras, passa para terceiros a função de fazer aquisição de clientes largamente. Ainda não há prazo para a empresa passar toda a distribuição para terceiros. Com isso, no futuro, a transação pode chegar pela corretora, o cliente pode operar no home broker e ter a ação tokenizada em sua carteira na corretora, diz a CEO. “Agora, é foco em corretora, adaptação do projeto de tecnologia, virar a chave e tracionar”, completou.
O plano da BEE4 inclui também ter consultores que ajudem as empresas a fazerem o pedido de oferta de ações. Assim como os distribuidores, podem originar negócios para a plataforma, apresentando clientes que identificaram com qualificação técnica para tokenizar ações. “Já estou recebendo pedidos de empresas como corretoras, escritórios de advocacia e bancos de investimentos para serem consultores”, afirma Patrícia.
Patrícia diz que o primeiro ano teve como foco montar a operação. Mas, a BEE4 também lançou três captação de três empresas que crescem rapidamente todos os anos. Segundo ela, os investidores são, na maioria, gente que está entrando agora no mercado, os first movers e 30% é qualificado. Para atrair investidores, uma das estratégias é um trabalho forte como a mídia de finanças e na mídia social, além de informar quem já investe na Beegin.
O primeiro deles foi o da clínica de fertilização Engravida, que captou R$ 4,2 milhões em 2022. Houve 170 investidores iniciais e agora há 320 detentores do token. Segundo Patrícia, desde então a empresa passou de uma para cinco clínicas. Houve 9,2 milhões de acões tokenizadas e já houve um grio de 1,5 milhão, ou seja, em torno de 15% do chamado free float, o que “é bem bom”, diz a executiva.
O segundo foi o da Mais Mu, de snacks saudáveis. A empresa fechou uma captação de R$, 4,6 milhões no início de maio, com cerca de 600 investidores. As ações que foram tokenizadas devem entrar em negociação no mercado secundário da BEE4 em breve. A terceira captação está em andamento é da Plamev Pet, de planos de saúde e assistência para animais domésticos. O valor até agora é de R$ 4,37 milhões – o máximo será de R$ 6,4 milhões – e a expectativa é fechar a captação até em meados deste mês.
Com o real digital, Patrícia afirma que a BEE4 poderá fazer operações de entrega por pagamento (DVP) atômicas. A nova versão da moeda brasileira que o Banco Central está criando para liquidação de operações entre instituições financeiras e entre grandes empresas e essas instituições vai permitir operações rápidas e seguras.
Hoje, a troca de titularidade das ações tokenizadas na BEE4 é dentro da blockchain Quorum. Mas a liquidação acontece no formato tradicional. “Os mercados são capilares. Se houver disponibilidade de recursos em conta, a liquidação poderá acontecer na hora”, afirmou. “Nos próximos anos, pode ter boa janela para mudança.
A BEE4 é um negócio que transita entre o mercado tradicional e o de cripto, tendo a tecnologia de registro distribuído (DLT) como meio. Um dos exemplos disso é que a empresa trabalha com um escriturador, que mantém o registro de transações e propriedades das ações – o ledger. No caso, é a Oliveira Trust, que é um nó na rede. Depois de fazer todas as checagens e registros no livro, a empresa avisa que pode começar um novo ciclo de negociações.
“Há quem diga que DLT substitua tudo. Há varias abordagens. A gente acredita que o melhor dos mundos é você conseguir fazer os dois mundos conversarem, o tradicional e a tecnologia nova, que é meio. Não adianta ir de zero a 100 e tirar gente do mercado. Tem regulação, responsabilidades. Isso converge em segurança. Na nossa visão, ao invés de tirar o escriturador, a ideia é empoderá-lo como um nó. No limite, ele controla lastro. É uma figura importante para nosso modelo. O que a gente substitui é o depositário, que é a BEE4, mas precisamos fazer adaptações”.
De acordo com a CEO da BEE4, um dos desafios com os quais a startup se depara é com a ambientação dos participantes num negócio que usa DLT. A rede hoje tem três nós: a empresa, a Oliveira Trust e a Nuclea, que vai entrar na liquidação. “É preciso que os participantes tenham exposição e convivam com isso para fazer com faça parte dos processos deles. Acho que o importante é um bom trabalho de faseamento, de prancheta e das coisa acontecerem no tempo certo.