Pois é, enquanto uns choram outros vendem lenços. Como sempre acontece em negócios, haja o que houver, sempre há ganhadores e perdedores.
E não está sendo diferente no caso da falência do Silicon Valley Bank.
O primeiro ganhador já saiu: o HSBC, que comprou a filial do SVB na Inglaterra por um valor simbólico (uma libra). Como normalmente acontece, os maiores bancos costumam se fortalecer nesses momentos.
Mas, não é só. Se de um lado as startups e outros correntistas do SVB podem demorar a reaver seu dinheiro – o governo americano garantiu, mas ainda não está claro – outros se aproveitam da situação.
Segundo apurou o PitchBook, credores e todos os tipos de instituições financeiras vem abordando as startups com propostas de empréstimos de emergência ou com ofertas para comprar seus depósitos do SVB – com um grande desconto. “Muitos terceiros chegaram com termos predatórios bastante flagrantes”, disse Chris Farmer, fundador da empresa de risco SignalFire . “A Jefferies , por exemplo, estava disposta a pagar 70 centavos de dólar.”
E tem mais. Lá fora, Mercury e Brex, aqui Trace, Remessa Online, Wise e outras fintechs de transferências internacionais já estão comemorando (anunciando) a oportunidade de fazer agora o que o SVB fazia.
Entre os perdedores, além das startups, bancos regionais nos Estados Unidos (que já vem sofrendo queda nos preços das suas ações). A Moodys rebaixou a nota de risco de seis bancos americanos: First Republic Bank, o Western Alliance Bank, o Zions Bancorp, o Intrust Financial, o Comerica e o UMB Financial.
Wall Street bancará o resgate?
Segundo a imprensa americana, uma fonte do Tesouro, que não quis se identificar, afirmou que os recursos para pagar os depositantes do Silicon Valley Bank que tem mais de US$ 250 mil (portanto, que não são segurado) serão bancados por Wall Street e não pelos contribuinte.
Como assim?
O Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) usará dinheiro do Deposit Insurance Fund (DIF).
O DIF faz parte do FDIC e é financiado por taxas trimestrais cobradas de instituições financeiras seguradas pelo FDIC, bem como juros sobre fundos investidos em títulos do governo.
Atualmente, o DIF tem mais de US$ 100 bilhões. Resta saber se serão suficientes.
O que temos até agora:
Fatos:
- O SVB era o 16º maior banco do EUA no final de 2022, segundo o Federal Reserve: US$ 209 bilhões em ativos e US$ 175 bilhões em depósitos
- O SVB emprestou US$ 6,7 bilhões para startups em 2022
- Parte dos problemas do SVB ocorreram pelo descasamento entre ativos e passivos, provocado pela alta dos juros -os dos títulos americanos subiram de 0,5 a 4,5% no ano passado, o que passou a atrair o dinheiro dos investidores que até então vinham apostando em startups, fazendo a fonte secar.
- O SVB vendeu US$ 21 bilhões de titulos públicos em carteira na quarta-feira dia 8/3, e US$ 2,3 bilhões em ações que tinha em tesouraria para cobrir esse descasamento
- O movimento assustou, e os clientes da instituição correram para sacar mais de US$ 40 bilhões de depósitos na quinta dia 9/3
- Em 28/2 o valor de mercado do SVB era de R$ 17 bi; no dia 10/3, US$ 6,3 bi
- O governo americano decretou intervençao com falência do banco em 10/3
- O Deposit Insurance National Bank of Santa Clara assumiu a operação e nomeou o Departamento de Proteção Financeira (FDIC) para pagar depositantes com até US$ 250 mil
- O Fed anunciou em 12/3 uma nova linha de crédito de US$ 25 bilhões em financiamentos para apoiar bancos em crise
- No mesmo dia o Fed disse também que vai garantir os depósitos de todos os clientes – acionistas e detentores de alguns títulos de dívida do banco e a liderança da instituição ficarão de fora.
- Mais dois bancos quebraram: Silvergate e o Signature (os dois principais bancos para empresas de cripto)
- As startups recebiam pelo SVB recursos investidos por fundos de venture capital do Vale do Silicio
- Nubank, C6, Inter, PagBank, Agibank, Original, Warren, Neon e Hashdex foram os primeirios a avisar que nao tem dinheiro no SVB
- O departamento de Justiça dos EUA e SEC anunciaram que estão investigando o colapso
Dúvidas:
- Quantos bancos mais vão quebrar
- Como essas falências já decretadas podem abalar a confiança dos investidores e a sobrevivência do ecossistema de inovação, no Brasil e no mundo
- Em que medida má gestão e fraudes contribuíram para a falência?
- Como ficarão as taxas de juros, nos EUA e aqui
- Como o fim do SVB afetará o financiamento das startups brasileiras?
- 90% do dinheiro off shore delas estavam no SVB e, segundo a fintech Trace Finance, esse valor somaria US$ 3 bilhões
- Será o fim de um ciclo que começou em 2011, quando o Marc Andressen (da empresa de investimentos Andressen Horowitz) afirmou que o software comeria o mundo?
- O que acontecerá com os empréstimos do SVB?
- Em que medida o relaxamento das regulamentações bancárias, sancionadas pelo ex-presidente Donald Trump em 2018, influenciaram a falência?
- O atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu regulamentação bancária mais rígida, mas resta saber se, quando e como