As múltiplas oportunidades do Open Finance, na visão da Iporanga

Segundo relatório do fundo de venture capital, agregadores financeiros, scores personalizados e gestão integrada de recursos são alguns ganhos

Lançado pelo Banco Central (BC) em fevereiro de 2021, o Open Banking avançou, passou a abranger mais segmentos com o Open Finance e alcançou 37 milhões de consentimentos e 24 milhões de clientes únicos em julho. Mas os dados podem elevar ainda mais a oferta de valor para consumidores e empresas. É o que mostra o paper “Open Finance – 1.000x Oportunidades”, que acaba de ser lançado pelo fundo de venture capital Iporanga Ventures.

Algumas dessas lacunas poderão ser solucionadas com o desenvolvimento de novos agregadores financeiros, modelos de scores de crédito, gestão integrada de recursos, uso de análise para comparação de despesas e receitas e a criação de serviços B2C e B2B (hoje o grande foco das fintechs). 

“Cada país tem as suas dificuldades, mas o Open Banking é algo que vai se estabelecer. É uma das inovações financeiras transformacionais. Ao colocar o consumidor no centro da sua cadeia, altera a forma como os bancos se relacionam com o seu cliente, encurta o tempo e a distância e faz com que surjam possíveis inovações”, afirma Leonardo Teixeira, general partner da Iporanga, em entrevista ao Finsiders.

Crédito

Como exemplo de inovação, 44% dos pedidos de empréstimos para aqueles que recebem até 5 salários mínimos eram negados pelas instituições financeiras em 2021, de acordo com a Serasa. A partir do Open Finance, esse patamar passou a ser de 18%.

Em 10 anos, o birô de crédito estima que as novas empresas responsáveis por conceder recursos podem acrescentar ao mercado local 4,6 milhões de pessoas e R$ 760 bilhões. Neste sentido, as fintechs podem sair na frente, diz Leonardo. As startups do setor são as primeiras a oferecer uma interface junto ao cliente e uma proposta de valor diferenciada. 

Por mais que novos entrantes tenham despontado nos últimos anos, o setor financeiro ainda é bastante concentrado nas mãos de poucos players. “Temos 80% da base nos 5 maiores bancos. Então, existe a oportunidade de oferecer mais crédito, novos produtos financeiros e mais contas novas”, acrescenta Leonardo.

Oportunidades

Diferentemente do Pix, que foi lançado pelo BC em novembro de 2020 e vem passando por novas fases de acordo com o direcionamento do regulador, o Open Finance funciona com outra lógica, justamente por ser uma infraestrutura, e não um produto em si.

“Cada player tem suas possibilidades e investe de forma diferente em inovação. Eventualmente, cada um vai operar em uma velocidade diferente. Já passamos da fase da dúvida sobre como funciona o modelo. Hoje, o risco é ficar de fora”, diz Leonardo.

As oportunidades em crédito vão muito além da oferta pura e simples. Elas podem reduzir os gastos das pequenas e médias empresas (PMEs), por exemplo. Segundo uma pesquisa da Juniper Research Group, o valor global das transações de pagamentos facilitadas pelo Open Banking tem potencial para chegar a US$ 116 bilhões até 2026, com a substituição dos cartões de crédito e débito.

Ao utilizar um agregador financeiro com o iniciador de pagamento (ITP) para visualizar o saldo em diferentes contas, o cliente passa a ter uma análise consolidada de sua vida financeira, movimento que alguns players já têm adotado.

Em outra frente, as fintechs conseguem desenvolver novos algoritmos de avaliação de crédito com modelo de ‘credit as a service’ (CaaS), atendendo, também, quem ainda não possui relação com os bancos.

Empresas não financeiras

Por outro lado, a abertura para avançar ultrapassa as instituições financeiras. Com a evolução das tecnologias e da regulação no setor, ganha força o movimento de “embedded finance”. Na prática, companhias não financeiras embutem soluções financeiras para explorar uma nova linha de receita e aumentar a entrega de valor para o seu consumidor. 

De acordo com o executivo da Iporanga, seja com conta digital, pagamentos ou mesmo empréstimos, boa parte das empresas de tecnologia devem operar como fintechs no futuro. Isso pode aumentar o nível de competição no setor e beneficiar o consumidor final. “Toda empresa de tecnologia hoje será uma fintech amanhã.”

“No final do dia, é fácil mudar o seu provedor de serviço. Pagamento é uma commodity e isso impõe um desafio, já que o quadro regulatório permite que mais bancos surjam. Se você quer ter um relacionamento com o seu cliente, conhecer ele e ter uma relação mais próxima, é possível. Os dados vão permitir essa aproximação”, diz. 

O paper produzido pela área de research da Iporanga Ventures está disponível no site do VC.

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