FUTURO

2030: o ano em que esquecemos o Excel

Hoje, isso soa quase como um exagero, mas era real. Em 2025, usávamos ferramentas do século passado para tomar decisões num mundo que já se movia em tempo real.

Imagem: Adobe Photoshop
Imagem: Adobe Photoshop

É estranho pensar que, em 2025, o setor financeiro ainda era comandado por planilhas. Naquela época, milhares de analistas, CFOs e controllers dependiam do Excel para entender o que havia acontecido — não o que viria a acontecer.

Hoje, em 2030, isso soa quase como um exagero, mas era real. Usávamos ferramentas do século passado para tomar decisões num mundo que já se movia em tempo real. O volume de dados crescia exponencialmente, e ainda assim as empresas insistiam em rotinas manuais, fórmulas frágeis e análises lentas. Foi nesse cenário que a Inteligência Artificial (IA) e o low-code começaram a virar o jogo.

A mudança não veio de uma hora para outra. Em 2025, alguns pioneiros já testavam modelos de IA para prever cenários financeiros e simular impactos macroeconômicos. Lembro bem de quando um CFO comentou: “Hoje, posso perguntar à IA o que acontece com nosso EBITDA se o dólar subir 15% no próximo trimestre, e recebo a resposta em minutos — com plano de ação incluso.” Aquilo parecia “mágica”. Atualmente, é o básico.

Lucas Felisberto/Jitterbit Latam| Imagem: divulgação

O Gartner projetava que, até 2027, 75% das aplicações seriam desenvolvidas com plataformas low-code ou no-code. Essa previsão não só se confirmou — como foi superada. O low-code se tornou a linguagem dos negócios. Foi a ponte que conectou a visão estratégica ao poder de execução. Times de finanças, marketing e operações passaram a criar seus próprios fluxos, painéis e soluções, sem esperar por ajuda dos profissionais de TI. O resultado? Agilidade real. Inovação constante.

Insights financeiros

A pesquisa “Insights sobre serviços financeiros”, do KPMG Global Tech Report, reportou que 58% dos executivos admitiram que as grandes falhas cometidas nos sistemas de TI empresariais — fundamentais aos processos, interrompiam o dia a dia dos negócios semanalmente. E esse cenário de depender dessas equipes única e exclusivamente, foi devastador.

Casos como o do JP Morgan, que economizou centenas de milhares de horas com IA jurídica, além de estarem criando neobancos nativos digitais; da Siemens, que antecipava riscos de crédito com precisão superior aos modelos tradicionais; ou da Unilever, que fez projeções de padrões de consumo com semanas de antecedência usando algoritmos treinados internamente — todos serviram de alerta. A transformação era possível. E estava ao alcance.

Mas o verdadeiro divisor de águas foi a força de trabalho humana. O que separou aqueles que evoluíram junto com os processos, daqueles que ficaram pra trás apegados aos modelos tradicionais não foi o acesso à tecnologia — foi a disposição para romper padrões e transformar a mentalidade.

Ainda sobre o Report da KPMG, 74% das organizações de serviços financeiros disseram que planejavam seguir investindo em inovações, ao invés de concentrarem força e desperdiçarem tempo nas tecnologias legadas. E ainda, 92% das instituições revelaram que os investimentos em IA foram lucrativos nos 24 meses decorrentes.

Os líderes financeiros que prosperaram na última década foram os que abandonaram o apego aos processos enraizados na cultura organizacional e abraçaram a experimentação. Eles passaram a agir como product managers: entendendo dores, testando hipóteses, validando MVPs financeiros em ciclos curtos, investindo no que realmente vale a pena. Aprenderam a falar a linguagem da tecnologia e a fazer da IA uma aliada, não uma ameaça.

Inteligência integrada

Hoje, os relatórios são gerados de maneira totalmente independente e autônoma. As reuniões de fechamento deram lugar aos painéis atualizados em tempo real. Os indicadores não precisam mais de interpretações: eles oferecem recomendações automáticas, com análises preditivas de risco e projeções sob medida. A inteligência integrada aos processos virou padrão. Já a planilha, virou uma peça de museu.

Não é que o Excel tenha desaparecido completamente. Mas seu protagonismo dentro das organizações morreu. E, com ele, a cultura de decisões baseadas no que deu errado no passado.

Em 2030, o setor financeiro é rápido, adaptável, orientado por dados e protagonizado por times que captaram a mensagem essencial: a tecnologia não substitui humanos. Ela remodela pensamentos para potencializar comportamentos e, consequentemente, resultados. E quem não muda, fica pelo caminho.

A boa notícia? Ainda dá tempo para reescrever a sua história.

*Vice-presidente de Vendas & Sucesso do Cliente na Jitterbit Latam