Milton Luiz de Melo Santos*
Com a publicação do Relatório de Economia Bancária do Banco Central, referente ao ano de 2021, diversas análises têm sido feitas sobre as expressivas transformações que podem ser observadas no Sistema Financeiro Nacional.
A atual diretoria do BACEN vem liderando uma bem-sucedida agenda de iniciativas estruturadas em cinco dimensões: Inclusão, Competitividade, Transparência, Educação e Sustentabilidade. Certamente, este é um conjunto de medidas extremamente arrojadas para regular a concorrência, promover a democratização financeira – um ponto extremamente sensível para a autoridade reguladora – e fomentar a evolução tecnológica.
Dentro deste contexto, destacamos o aprimoramento e a extensão do arcabouço normativo e legal das instituições e dos arranjos de pagamentos, a criação de novos tipos de instituições financeiras (como as Sociedade de Crédito Direto-SCD e as Sociedade de Empréstimos entre Pessoas-SEP), o lançamento do sistema de pagamentos instantâneos (Pix) e a regulação e implementação do Open Finance.
Todas essas iniciativas, quando combinadas com o significativo movimento da digitalização da sociedade (segundo estudo da Febraban, 70% das transações bancárias são realizadas pelo mobile ou internet banking em 2021), foram responsáveis pela notável (e rápida) transformação do nosso sistema financeiro e permitiu consolidar, inclusive, a atuação de novos players digitais como fintechs, bigtechs, grandes varejistas, Telecom etc.
O segmento de crédito, tanto para PJ, quanto para PF, tem despertado interesse especial de fintechs e bancos digitais, que ganham cada vez mais relevância na democratização do crédito e participam ativamente das inovações recentes, como o Cadastro Positivo e o Open Finance. Segundo dados da SERASA, em 2021, o crédito concedido por essas instituições alcançou a cifra de R$ 55 bilhões, alta de 1045%, quando comparado a 2016, ano em que essa série começou a ser divulgada.
A crescente digitalização dos serviços financeiros, turbinada pela entrada de mais de 300 fintechs de crédito e de meios de pagamento, juntamente com o maior protagonismo das cooperativas de crédito, tem contribuído para ampliar a oferta de crédito fora do circuito bancos convencionais, promovendo sua descentralização , como demonstrou o referido Relatório do BACEN, quando informa que no ano de 2021 os cinco maiores bancos detinham 81,4 % das operações de crédito, contra 81,8 % no ano anterior.
Essa é uma estrada que ainda tem muito a ser percorrida no caminho da democratização de acesso ao crédito em nosso país. Os bancos tradicionais ainda têm a vantagem competitiva de possuírem uma grande base de clientes e forte presença de marca.
A competição entre os agentes financeiros tradicionais e as novas instituições, financeiras e de pagamento digitais, com certeza tem proporcionado um ambiente repleto de soluções e inovação. O maior beneficiado, espera-se, será o cliente que terá acesso a uma gama de serviços em plataforma única, com soluções mais completas, inclusivas, financeiramente viáveis, convenientes e com as melhores experiências para o usuário.
Que venham os novos caminhos desta jornada, de inovar e transformar o mercado financeiro e bancário no Brasil.
*Economista e CEO da ACCREDITO SCD