Artigo: O potencial impacto do Pix Garantido sobre os cartões de crédito

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Por Gastão Mattos*, exclusivo para o Finsiders
O uso do Pix em transações tanto comerciais quanto entre pessoas físicas no Brasil tem avançado significativamente desde que ele entrou em operação, em novembro de 2020. Como sistema de quitações instantâneas, a modalidade logo se tornou o tipo de transferência bancária mais utilizado no país.

Dados do Banco Central (BC) evidenciam essa evolução: a quantidade de transações mensais com Pix quadruplicou entre março de 2021 e março de 2022, saltando de 392,6 milhões para 1,6 bilhões. Agora, o BC acena com uma opção que deverá provocar novos movimentos no mercado de meios de pagamento: o Pix Garantido.

Ainda sem data de lançamento confirmada, esse tipo de Pix tem por objetivo prover uma alternativa ao uso do cartão de crédito à vista ou parcelado. Ele possibilitará ao consumidor pagar via Pix uma transação de crédito, aprovada pelo banco emissor, mas para ser liquidada em data futura.

Gastão Mattos, CEO da Gmattos Consultoria (Divulgação)
Gastão Mattos, CEO da Gmattos Consultoria (Divulgação)

Na iminência da novidade, analistas da indústria de pagamentos já traçam panoramas sobre eventuais avanços e recuos no mapa das modalidades aceitas pelo mercado.

Se, até hoje, temos percebido que o Pix disputou territórios com o débito, especialmente no comércio eletrônico, há a expectativa de que o Pix Garantido possa conquistar adeptos entre o público-alvo dos cartões de crédito.

Mas é preciso uma análise mais aprofundada, e sob vieses diversos, para entender se de fato o novo modelo de Pix pode representar uma ameaça ao cartão, que, aliás, é a forma de pagamento eletrônico mais usada pelos brasileiros ao fazer compras, tanto em lojas físicas quanto no comércio online.

Inicialmente, precisamos destacar que, para funcionar, o Pix Garantido precisará da cobertura de crédito do banco emissor e, portanto, da gestão de um risco envolvido. O banco certamente cobrará da loja pelo serviço.

Na modalidade crédito à vista (1 parcela), o custo pode ser menor, ou similar, em relação ao observado no cartão de crédito. Porém, no parcelado (2 ou mais vezes), a loja desejará antecipar o recebimento, como faz com o cartão, e a taxa a ser paga por ela nesse caso não deverá ser diferente da praticada na antecipação via cartão, com a diferença de independer do adquirente e ser cobrada diretamente pela instituição bancária.

Ferramentas de relacionamento

Para o consumidor, por sua vez, as penalidades de atraso ou inadimplência na modalidade Pix Garantido devem ser semelhantes àquelas verificadas no cartão de crédito. Este, por sinal, é uma forma consolidada de pagamento que carrega outros benefícios associados à cadeia de valor completa e complexa envolvendo bandeiras e o próprio banco emissor.

Entre as vantagens ofertadas, estão acesso a salas VIPs, promoções, isenções de custos e seguro-viagem. Além disso, para os consumidores de maior poder aquisitivo, milhagens e outros programas de incentivo são fortes argumentos para o cliente manter sua preferência pelo uso de cartões de crédito.

De momento, o certo é que se faz necessário moderar o tom da suposta calamidade que o Pix Garantido poderia significar para o cartão de crédito.

Basta observarmos o que tem ocorrido na relação entre a modalidade Pix instantâneo e o cartão de débito. No online, tem se confirmado um caráter predatório de uma sobre o outro, como mostram estudos da consultoria Gmattos, mas isso não tem se materializado nas transações físicas.

Uma das principais adquirentes do mercado estimou recentemente que o potencial do Pix seria o de tomar, no máximo, 5% do volume do débito nas transações presenciais.

Uma perspectiva positiva para o mercado de meios de pagamento é o do predomínio da coexistência entre modalidades. Para os compradores em geral, espera-se que a multiplicação de alternativas na hora de pagar suas contas proporcione, no todo, o aumento da base do público consumidor no país, distribuindo as diferentes ofertas de acordo com as particularidades de cada demanda.

*Gastão Mattos tem mais de 30 anos de experiência na indústria de pagamentos eletrônicos. CEO da consultoria GMattos, o executivo foi CEO da Braspag, VP de marketing da Visa, diretor da Credicard, entre outras companhias.

As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado, e não a do Finsiders.

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