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Por Rubens Neistein*, exclusivo para o Finsiders
A forma como pagamos nossas compras diz muito sobre a relação da sociedade com a tecnologia. Os mais jovens podem não conhecer, mas há pouco tempo era bastante comum preencher talões de cheque na fila do supermercado, por exemplo.
Depois vieram os cartões, primeiro os com tarja magnética, depois os de chip, e agora já falamos do pagamento contactless, isto é, por aproximação. Agora, estamos presenciando o surgimento de um novo modelo de pagamento, que promete revolucionar a própria relação das pessoas com o dinheiro: as criptomoedas.
O relatório fiscal apresentado pela Visa, uma das principais bandeiras de cartões, apresenta indícios de que esse movimento já começou. Os clientes da empresa movimentaram US$ 2,5 bilhões em pagamentos com cartões conectados às criptomoedas apenas entre setembro e dezembro de 2021 (que corresponde ao primeiro trimestre fiscal da organização).
Para se ter uma ideia, esse volume representa 70% de todas as transações com criptos registradas nos 12 meses anteriores. Ou seja, em apenas três meses, o índice já chegou perto de três quartos das transações registradas em um ano inteiro.
Era questão de tempo para que as criptomoedas conquistassem seu espaço como meio de pagamento em diferentes setores da economia. A única divergência entre os especialistas da área era quando isso iria acontecer – há quem defenda que é um movimento a longo prazo e outros que acreditam que já está em curso.
Porém, é uma realidade que cedo ou tarde todos terão que incorporar. Afinal, ainda que os criptoativos sejam vistos como fontes de investimento devido à possibilidade de ganho financeiro em suas negociações, no fundo eles também são… moedas! E, como tal, possuem a funcionalidade de transacionar valores financeiros na troca por produtos e serviços.
Mas o que explica essa explosão de pagamentos com criptomoedas nos cartões Visa – e que certamente ocorre com outros meios? Duas situações são fundamentais para isso. A primeira delas diz respeito à própria trajetória do segmento nos últimos anos. Se no início os criptoativos eram vistos com desconfiança e restritos a um nicho pequeno de fãs de tecnologia, hoje a situação é diferente.
O surgimento de projetos sérios e com bons resultados fez o tema amadurecer, a ponto de o blockchain, que serve de base para a construção dessas moedas digitais, ser apontado como uma tecnologia disruptiva e essencial para diversas soluções.
Essa nova realidade leva ao segundo tópico: o maior incentivo pelo uso das criptomoedas. Agora, as próprias instituições financeiras estimulam seus clientes a adquirirem e utilizarem os criptoativos em suas diversas funcionalidades.
Dessa forma, houve uma disseminação grande para que este conceito entrasse no dia a dia das pessoas. O próprio relatório da Visa indica que 65 plataformas e corretoras digitais fizeram parceria com ela no último ano para emitir credenciais da bandeira.
Além disso, mais de 100 milhões de vendedores que aceitam o cartão passaram a receber pagamentos em criptomoedas. Com uma campanha assim, o tema naturalmente ganha mais espaço e fica em evidência.
O futuro dos pagamentos é digital não apenas pelas ferramentas tecnológicas que os realizam, mas sobretudo pelo próprio formato do dinheiro.
Não à toa, diversos países já planejam a versão digital de suas moedas – incluindo o Brasil. Evidentemente, ainda há um longo trabalho pela frente, uma vez que o número total de usuários de criptomoedas ainda é bem pequeno diante da população adulta global. É preciso criar meios que facilitem o acesso e, claro, estimulem seu uso. Entretanto, a revolução já começou estando as empresas e pessoas preparadas ou não.
*Rubens Neistein é business manager da CoinPayments, processadora de pagamentos em criptomoedas.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado, e não a do Finsiders.
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