Rodrigo Petroni*
É fato indiscutível que a pandemia do novo coronavírus trouxe uma série de contratempos e frustações para todos. Vidas foram perdidas, o desemprego despontou, quadros de depressão e ansiedade em decorrência do isolamento social foram agravados e planos precisaram ser adiados em prol da saúde. No entanto, como diz a retrospectiva da TV Globo, “o mundo parou, mas a história seguiu”. Quando deixamos de lado a parte ruim de 2020 e tentamos equilibrar a balança analisando com otimismo outras situações que ocorreram no ano, percebemos que a história não só seguiu, mas houve uma verdadeira revolução.
Além de algumas empresas estarem divulgando que vão aderir ao home office permanente mesmo após o fim da crise, por exemplo, o varejo passou por uma grande transformação com os comerciantes operando lojas online para continuar no mercado e fazer o negócio ter alguma renda. Destaco também a completa aceitação das carteiras digitais e o uso dos QR Codes pelos brasileiros, que criaram familiaridade com a tecnologia durante as lives musicais, alternativa de entretenimento que possibilita a arrecadação em espécie, de alimentos ou itens para hospitais e instituições de caridade em combate à Covid-19.
Estima-se que existem mais de 600 carteiras digitais disponíveis para uso no Brasil. Muitas delas, além de se tornarem populares após patrocinarem os shows digitais, também ficaram em evidência por oferecerem benefícios como o cashback, que devolve um percentual da compra feita para os consumidores. Para se ter uma ideia, as e-Wallets, como são chamadas, devem chegar a 28% do total dos pagamentos no mundo em 2022, segundo um estudo da Bain & Company, consultoria de gestão global. Não à toa, startups têm apostado no setor para expandir sua área de atuação e conquistar um público cada vez maior.
Apesar dos métodos de pagamentos tradicionais como dinheiro físico, cartão de crédito e débito, cheques e boletos ainda serem extremamente relevantes no país, o sistema financeiro está vivendo um processo de digitalização muito forte. Se hoje 61% dos usuários de smartphones no país diz usar uma das opções de e-Wallets disponíveis no mercado, conforme levantamento da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), o Pix e o Open Banking devem estimular ainda mais o setor, uma vez que as pessoas passarão a realizar transações entre diferentes instituições e não apenas entre correntistas e clientes do mesmo aplicativo.
Os brasileiros perderam o medo dos pagamentos digitais e esse é um dos maiores feitos da pandemia. Por permitirem transações rápidas e seguras e dependerem somente de um celular, os novos métodos também são inclusivos e colocam os desbancarizados – cerca de 45 milhões de pessoas que não mexem na conta bancária há mais de seis meses ou que optaram por não ter conta em banco, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – na economia nacional. De uma forma ou de outra, pelo menos em relação à transformação digital nos serviços financeiros, todos nós saímos ganhando.
*Rodrigo Petroni é CEO e cofundador da UPM2, startup paulista que oferece soluções de mobile payment para desburocratizar transações por meio de QR Code.