Pesquisas recorrentes junto aos clientes bancários revelam que poucas pessoas estão familiarizadas com o conceito e funcionamento do Open Banking.
Estes estudos apresentados por algumas consultorias mostram uma pequena evolução da comunicação ao longo do projeto. Algo em torno de 90% a 85% dos brasileiros informaram um desconhecimento ou um entendimento equivocado sobre o assunto.
Estes estudos, em geral, relacionam com preocupação que este patamar de falta de informação se traduz em futuras dificuldades de adesão e incertezas quanto ao uso e sucesso do Open Banking no Brasil.
De fato, os poucos cidadãos que revelam já entender o Open Banking também se sentem receptivos a compartilhar os seus dados e, consequentemente, inclinados a aderirem ao projeto. Predisposição naturalmente inversa daqueles que não conhecem como o processo funciona, ou o que de fato significa o Open Banking.
Isso leva à conclusão lógica, porém precipitada, de que o domínio da dinâmica de funcionamento deste ecossistema é fundamental para motivar as pessoas a aderirem. Na verdade, isto não faz o menor sentido. O baixo nível de conhecimento não será um obstáculo real para o sucesso do Open Banking.
Explico. Acima de tudo é importante entender que como o Open Banking está em sua fase de construção. É natural, assim, que não haja uma popular familiarização.
Mais ainda: dado o estágio incipiente do projeto, é necessário considerar que aqueles que conhecem o assunto são invariavelmente os que, de alguma forma, se encontram mais próximos e familiarizados com os mecanismos da indústria financeira, operam de forma mais ativa no mesmo. Eles estão, direta ou indiretamente, mais envolvidos com o processo de transformação do mercado e, desta forma, têm maior compreensão das limitações e capacidade de visualização das oportunidades que a inovação pode proporcionar a indústria.
Naturalmente estes clientes mais bem-informados e próximos do mercado — que de forma ‘latu sensu’ chamarei de ‘especialistas’–, tendem a serem os primeiros candidatos a usuários. Mas o inverso não é necessariamente verdadeiro.
Felizmente ninguém precisa dominar ou entender o funcionamento dos mecanismos do Open Banking para usá-lo.
O Open Banking, acima de tudo, possui um complexo arcabouço regulatório e uma infraestrutura tecnológica que está sendo construída e opera no ‘back-stage’, conectando as instituições financeiras participantes para viabilização de novos serviços e soluções integradas.
Portanto, é normal que haja dificuldade do público em geral de abarcar o entendimento do mecanismo e protocolos envolvidos responsáveis pela viabilização operacional deste ecossistema. Além disso, o projeto do Open Banking possui um escopo de atuação muito amplo.
Para sua viabilização, foram abertos diversos grupos de trabalho (GTs) técnicos, conforme a necessidade de evoluir e definir as especificações de cada disciplina envolvida (escopo de dados, padronização das interfaces, segurança, infraestrutura, compliance etc.).
E, na estratégia de implantação, foram divididas diversas fases e sub-etapas que se desdobraram de forma simultânea, visando amenizar e tornar gradativo o esforço crescente de viabilização de toda a infraestrutura.
Ou seja, de fato não é trivial o entendimento de toda a sistemática e governança do projeto mesmo para quem participa de perto de algumas atividades dele. E, sinceramente, isto é realmente totalmente dispensável.
A exemplo dos serviços de utilities, como luz e telefonia, ou mesmo providos por plataformas web ou de streaming, que dependem de diversas integrações de serviços complexos envolvendo várias empresas, suas funcionalidades são entregues de forma conveniente por meio da simples conexão pelas tomadas da sua casa ou rápida contratação digital.
Estes serviços também não dependem que os usuários sejam ‘especialistas’ e entendam como ocorre todo o processo de estruturação da infraestrutura para viabilizar a entrega dos serviços até as suas residências. Apenas que visualizem e experimentem os benefícios.
Da mesma forma, o Open Banking também estará disponível para todos aqueles que simplesmente enxergarem a utilidade e benefícios, ou seja, que de fato simplifiquem sua vida financeira.
A adesão dos clientes ao Open Banking depende basicamente do desenvolvimento de soluções atrativas e convenientes pela indústria, que ofereçam melhoria aos seus clientes, e, portanto, convençam o público que compartilhar os seus dados lhe trazem vantagens compensadoras.
O Open Banking tem uma capacidade enorme de gerar novos modelos inovadores, permitindo aos clientes terem uma visão ampla e integrada de suas posições financeiras, assim como comparações facilitadas das ofertas dos produtos do mercado, e identificação de oportunidades. Isso permite tomadas de decisões mais inteligentes e eficientes.
Além disso, ao proporcionar aos clientes a eliminação de barreiras de saídas (que com o consentimento e portabilidade dos seus dados podem escolher que plataforma que desejam se relacionar) o Open Banking de quebra aumenta a competição exigindo cada vez mais que os agentes financeiros tenham soluções e plataformas mais convenientes e atrativas aos seus clientes para buscar fidelizá-los e retê-los.
Este poder, materializado em ofertas e novos serviços, é que promoverá o gradativo interesse e crescente adesão a este novo e poderoso ecossistema.
A própria evolução para o Open Finance já denuncia a trajetória revolucionária que este novo ambiente de inovação deverá proporcionar para o benefício da sociedade.
Aderir ao Open Banking terá o mesmo apelo de qualquer funcionalidade de internet ou rede social, no qual o receio inicial de compartilhar os dados é compensado pela reciprocidade recebida por meio dos benefícios tangíveis oferecidos e, principalmente, pela confiança nas plataformas envolvidas.
Por outro lado, não se trata de um ‘big bang’ ou transformação mágica, mas sim um processo de transformação e disrupção gradativa na medida em que o mercado irá aprendendo e explorando novas oportunidades, o que, por sua vez, irá se traduzindo em novos serviços inovadores com maior atratividade para a sociedade, em evolução contínua.
Este cenário possibilita agregar cada vez mais valor para todos os envolvidos, tanto para a indústria quanto para a sociedade em geral.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos colunistas, e não a do Finsiders.
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