Jose Luis Vargas*
Tema sempre relevante e em destaque, a economia tem dado sinais de incerteza em quase todas as regiões do mundo. O Brasil, por exemplo, atravessa um período marcado por vários desafios nessa área: de acordo com dados recentes, 70 milhões de brasileiros estavam inadimplentes em janeiro. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o contingente de desempregados é de 9 milhões de pessoas, e a expectativa do sistema financeiro é que os juros não caiam tão cedo.
Por isso, este é um momento oportuno para uma reflexão sobre como as incertezas econômicas impactam de maneira importante a forma como as instituições financeiras tomam decisões e ofertam seus produtos e serviços.
Em geral, dependendo do país da região, temos observado uma certa desaceleração nas receitas e originação de empréstimos. Com taxas de juros altas como medida para conter a inflação, a exemplo do que ocorre no Brasil, o acesso a crédito tende a diminuir porque agora ele está mais caro.
Grandes bancos estão mais cautelosos do que nunca e várias instituições internacionais estão saindo de certos mercados ou se concentrando em regiões mais lucrativas e menos arriscadas. No entanto, continuamos a ver a evolução das fintechs, avançando, mesmo diante dos desafios atuais enfrentados pelas empresas de tecnologia. Nesse contexto, elas estão mais cautelosas e rigorosas em suas políticas de crédito para evitar grandes prejuízos em tempos incertos, mas continuam facilitando o acesso ao crédito, principalmente para perfis que não são bem atendidos pelos bancos tradicionais.
Desta forma, as instituições financeiras precisam encontrar maneiras de crescer de forma sustentável e eficiente, usando a tecnologia para gerenciar melhor os riscos e oferecer produtos de crédito e novos serviços financeiros aos consumidores. Em vez de focar na aquisição de usuários, as fintechs, por exemplo, têm de aproveitar sua atual base de clientes para crescer organicamente.
Como diz o ditado, a necessidade é a mãe de todas as invenções. Continuamos sob a pressão da inflação e da desaceleração da economia, o que impulsiona a inovação, como as fintechs têm mostrado repetidamente.
Historicamente, os bancos adotam uma abordagem mais conservadora, enquanto as fintechs tendem a aceitar mais facilmente os novos riscos para cobrir as lacunas que as instituições financeiras mais avessas ao risco deixarão expostas.
O modelo “Compre agora, pague depois” (BNPL) é um excelente exemplo dessa inovação. A tendência é que continuemos a ver o mercado crescer e se expandir para segmentos adicionais/adjacentes, particularmente na América Latina, onde grande parte da população continua sem acesso a serviços bancários, sendo desbancarizada ou sub-bancarizada.
Com o recente boom das inovações trazidas pelas fintechs, o caminho natural para este momento é que o foco seja deslocado para eficiência e gerenciamento de riscos, incluindo mais processos e tecnologia para lidar melhor com fraudes, verificação de identidade e avaliar a credibilidade.
As fintechs já provaram que são ótimas quando se trata de criar produtos que preencham uma lacuna e atraiam novos consumidores, mas para continuar a crescer em tempos incertos, precisarão se concentrar obrigatoriamente em tecnologia, ferramentas de dados e análises avançadas para garantir uma gestão de risco saudável e estimular uma inovação contínua.
*Vice-Presidente Executivo para a América Latina da Provenir