Danillo Branco*
O momento é inevitável: precisamos discutir a taxa de renovação dos consentimentos do Open Finance. O tema já foi uma dor para o ecossistema inglês, onde o prazo máximo de autorização era de 90 dias, uma grande trava na adoção do Open Banking. No Brasil, aproveitamos a lição e já iniciamos o processo com um prazo máximo de 12 meses. Mas não foi o suficiente. Em pouco mais de dois anos da jornada brasileira, os números não parecem tão empolgantes.
Segundo Edilson Reis, CIO e diretor-executivo do Bradesco, “a taxa de renovação dos consentimentos no Open Finance é de apenas 4%”. A discussão, levantada em um painel na última Febraban Tech, traz a impressão de que o Open Finance não tem funcionado no país. Afinal, o usuário final já deveria ter sentido os benefícios dos consentimentos – o que não aconteceu afinal.
De forma simplificada, podemos considerar que os benefícios percebidos pelo cliente e o esforço necessário para realizar a renovação são as alavancas fundamentais desse processo. Para entender o patamar de renovação atual, é importante analisar não uma foto, mas o filme inteiro. Ou seja, entender o momento em que os primeiros clientes do Open Finance compartilharam os dados nos ajuda a identificar oportunidades – e vislumbrar um futuro diferente.
Um ano atrás
Ao final do primeiro semestre de 2022, tínhamos quase cinco vezes menos consentimentos do que hoje, algo próximo a 6,5 milhões. Aconteceram os primeiros lançamentos de PFMs (Personal Finance Managers). BB, Next e BTG passaram a conectar contas. Do ponto de vista tecnológico, o sistema era mais instável. Ainda havia acertos de implementação, ajustes em APIs, ligações entre instituições para entender os bugs. Muitas parcerias foram necessárias para nos trazer até aqui em 2023.
Ao analisar os times que produziam os primeiros casos de uso, também contávamos com outro cenário em termos de maturidade. A chegada de novos dados demandou uma curva de aprendizado dentro das instituições – que, aliás, ainda não foi superada, mas que já mostrou avanços substanciais em todas as frentes. E claro, houveram também as campanhas e ofertas. O ecossistema tinha a necessidade de ‘pedir os dados’, mas ainda não deixava claro os benefícios das jornadas. O que vemos hoje, é o resultado da falta de engajamento dos grandes bancos e incumbentes. Depois de 12 meses, ficou claro que talvez os clientes não tenham tido nenhum benefício. Afinal, o Open Finance existe para colocar o cliente, e não as instituições, no centro do processo. E isso não aconteceu.
Um problema ou uma oportunidade?
É fundamental entender que os grandes bancos e instituições financeiras “engatinham” na criação de produtos e soluções. O usuário que compartilha os dados ainda não sente os benefícios do ecossistema porque eles ainda estão sendo criados. PFMs não funcionaram bem, comparadores de crédito não parecem assim tão eficientes. Ainda não existe um grande caso de uso para o usuário final, o cliente ainda não está no centro. Mas isso é uma oportunidade.
O consentimento e o compartilhamento dos dados abre espaço para que pequenas empresas, fintechs e startups criem soluções mais personalizadas, atingindo nichos que as grandes instituições financeiras não conseguem enxergar. “Diminuir a assimetria” entre grandes e pequenos é um dos compromissos do Open Finance. E o compartilhamento de dados é o que torna isso possível.
Certamente os clientes de hoje terão mais benefícios do que os early adopters do ecossistema. Isso faz parte do jogo, afinal todos os players precisam de grandes volumes de consentimento para criar jornadas. Mas no final, ganha quem conseguir criar as melhores soluções – para o cliente, claro.
*CEO da Finansystech