Opinião

Em breve, tudo vai se resumir a Whatsapp e Facebook - Roberto Marinho Filho

Roberto Marinho Filho *

A grande difusão de telefones celulares no país, país em que o número de aparelhos supera o de habitantes em mais de 20 milhões, esconde uma série de limitações do uso diário desta tecnologia por parte dos brasileiros. Como exemplo, podemos citar que grande parte do consumo de dados móveis está em celulares pré-pagos, sob o uso de pessoas com orçamento limitado e pré-estipulado. Além disso, a maioria dos aparelhos é de baixo custo e não possui configurações e nem memória suficiente para baixar aplicativos cada vez mais elaborados e pesados.

Soma-se a isso uma questão comportamental. O brasileiro, incluindo a parcela de alta renda da população, não gosta de utilizar apps complexos e que requeiram maior tempo de manuseio, limitando o uso deles para atividades específicas como pedir comida ou solicitar um meio de transporte. O maior período de retenção em aparelhos móveis está no uso de aplicativos de mensagens instantâneas, tal como o Whatsapp, e redes sociais, principalmente Instagram, Facebook e Tik Tok. É ali que usuário gosta de estar e é onde ele se sente confortável. Logo, é ali que ele precisa ter acesso a serviços essenciais.

O melhor exemplo mundial desta tendência é o app chinês We Chat. Não muito difundido no Brasil, onde o Whatsapp reina absoluto, o aplicativo já é muito mais do que uma plataforma para troca de mensagens; é o local onde os usuários resolvem quase todas as suas pendências do dia, inclusive pagando contas e fazendo transações financeiras. O caminho que o We Chat percorreu foi o de simples mensageria até a inclusão de produtos e serviços, transformando-o em uma espécie de shopping center. O app concentra 95% das transações financeiras dos chineses.

Já no Brasil, existe um movimento contrário. Bancos digitais e serviços de pagamento estão investindo cada vez mais em suas próprias plataformas, tentando criar dentro delas marketplaces, além de tentarem agora criar um ambiente social, com interação entre as pessoas. Este é um movimento fadado ao fracasso simplesmente porque visa tirar o usuário de seu habitat natural, já consolidado, que é o das redes sociais tradicionais.

O passo em falso das instituições financeiras e grandes lojas é imperdoável do ponto de vista mercadológico, pois decorre de uma extrema falta de visão e incapacidade de leitura dos hábitos do cliente. Por outro lado, há quem esteja fazendo a análise correta e dando os passos certos para dominar ainda mais o mercado. O Facebook, por exemplo, iniciou neste ano um discreto movimento de unificação de marcas em seus principais apps, além de começar a fundir alguns de seus serviços, como o Messenger e o Instagram. Em breve, entrará em operação o marketplace do Whatsapp e o Facebook Pay. A companhia de Mark Zuckerberg percebeu há muito tempo que poderia atrair o máximo de serviços possíveis, principalmente os financeiros, para dentro de suas plataformas e, no futuro, de sua plataforma unificada

Os usuários querem tudo no mesmo lugar, o cadastro, a compra, o pagamento e a entrega. Qual o sentido de um banco dizer que faz a abertura de conta pelo Whatsapp e pedir depois para o cliente ir na agência para assinar contrato? Neste sentido, o PIX surge como uma verdadeira revolução. O usuário terá agora sua vida transformada pela praticidade em fazer transações, somente com o número de telefone ou email da outra pessoa. Mas, mais uma vez, o cliente vai querer fazer isso pelo seu app de mensagens, a sua ‘casa’ dentro do celular.

Este é o futuro que, quem ignorar, pode ser engolido.

*Roberto Marinho Filho é CEO da Conta Zap