Opinião

Embedded Finance em produtos e serviços: o futuro do mercado de consumo - Romulo Pereira

Romulo Pereira *

Imagine esta situação. Você acessa um website e tem interesse em comprar um produto. O valor, no entanto, está alto para o seu bolso, sendo impossível o pagamento à vista. Parcelar pode ser uma solução, porém, inviável, já que você não possui conta bancária ou cartão de crédito. Se esta cena não lhe parece comum, ela se repete para milhões de brasileiros todos os dias. O Brasil é o país dos desbancarizados: uma a cada três pessoas não tem conta bancária. Para a maioria desses casos, o crédito concedido pelos bancos é inexistente, as pessoas precisam esperar meses, muitas vezes anos, para juntar dinheiro suficiente para comprar uma geladeira, máquina de lavar ou trocar de televisão.

Mas, esse cenário tem tudo para mudar. Primeiro, pelo avanço das fintechs, que se expandiram ainda mais com a transformação digital, tendência que ganhou ainda mais força na pandemia. Segundo, porque essas startups de serviços financeiros estão trazendo um conceito já em crescimento lá fora, mas ainda tímido no país: o embedded finance. Nunca ouviu falar?

O termo significa finanças embutidas e, em outras palavras, permite que companhias de diferentes setores – como aquela da cena lá de cima – ofereçam soluções financeiras digitais por meio das fintechs. Quais soluções? Estruturas de pagamentos como carteiras digitais, contas digitais, crédito, enfim, recursos que fazem com que os desbancarizados tenham acesso a serviços e produtos financeiros antes restritos a quem tem uma conta corrente.  

Algumas das marcas líderes mundiais já adotaram o embedded finance, muitas das quais não são marcas tradicionais de serviços financeiros, como a Apple, que lançou o Apple Card e o Apple Pay. E para compras no digital – lembrando que o e-commerce cresceu mais de 73% no país no ano passado – o oferecimento desses serviços transforma o negócio em um ambiente muito mais próspero, seguro e conveniente, afinal, já está tudo lá, em um só lugar.  

É um ganha-ganha. O consumidor pode adquirir o que almeja e passa a ter também o que sempre desejou: inclusão financeira. A empresa, por sua vez, consegue promover suas vendas, sem ter que criar infraestruturas próprias para isso, pois conta com as tecnologias, expertise e licenças regulatórias das fintechs.

O embedded finance, portanto, oferece às corporações – sejam elas de varejo, turismo, escolas, enfim, todos os setores – uma oportunidade de engajar públicos novos e existentes, ao mesmo tempo em que criam fluxos de receita, por exemplo, permitindo que o cliente faça compras diretamente da marca por meio desses pagamentos integrados.

Mas e os bancos? Não oferecem isso? Sim, mas agilidade e rapidez aqui são chave para implementações desse tipo, o que dá às fintechs um diferencial poderoso. Nelas, a tecnologia é avassaladora pois inovação e disrupção fazem parte de seu DNA. O Pix é um bom exemplo. Enquanto algumas estruturas bancárias penaram para rodar a ferramenta de pagamento do Banco Central, as fintechs já estavam prontas para isso.

O oferecimento de serviços financeiros agregados ao produto, venda ou serviço é um caminho sem volta e as fintechs têm tudo para serem protagonistas. Quem comprar ou vender, verá.

*Diretor de produto e customer service da fintech iugu.