Com a introdução do conceito de “Finternet” pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), a inovação no setor financeiro acaba de ganhar um novo protagonista. Este modelo promete revolucionar a forma como os ecossistemas financeiros são interconectados, assemelhando-se à universalidade e à acessibilidade da internet.
O objetivo é derrubar barreiras entre diferentes serviços e sistemas financeiros, estabelecendo uma arquitetura global que facilite o acesso universal a serviços financeiros através de uma plataforma robusta e padronizada por meio de protocolos.
Atualmente, diversos sistemas financeiros ainda operam com métodos antiquados, os quais são marcados por processos lentos e custosos. Por sua vez, eles dependem de sistemas de compensação tradicionais e infraestruturas de mensageria obsoletas. Isso é particularmente desafiador em economias emergentes e em desenvolvimento. Nessas regiões, a limitação no acesso a serviços financeiros básicos pode impedir o progresso econômico e social, mantendo as populações mais vulneráveis e à margem da economia formal.
Incorporando avanços tecnológicos como sistemas de identidade digital verificáveis e a tokenização de ativos, a “Finternet” surge como uma proposta promissora. A tecnologia tem o potencial de integrar milhões de pessoas aos produtos financeiros para oferecer transações seguras, mais rápidas e de baixo custo. A tokenização, em tese, elimina a necessidade de intermediários nas transações financeiras. Já os ledgers unificados podem conectar diferentes mercados de ativos em uma única plataforma programável.
Fonte: BIS Working Papers No 1178 Finternet: the financial system for the future by Agustín Carstens and Nandan Nilekani
Brasil pode liderar discussões
O Brasil já está pavimentando o caminho para essa transição, com uma agenda evolutiva. Os exemplos incluem o sistema de pagamento instantâneos Pix, o Open Finance e a infraestrutura Drex. Estas iniciativas não apenas demonstram a capacidade de inovação do país, mas também estabelecem um modelo para a adoção global da “Finternet”, posicionando o Brasil como um líder nas discussões e desenvolvimento dessa nova infraestrutura financeira.
Os princípios de design da “Finternet” — que enfatizam a usabilidade, a interoperabilidade e a segurança — garantem que o sistema financeiro possa se adaptar e, assim, evoluir com as mudanças tecnológicas e as necessidades emergentes. Além disso, esses princípios asseguram que o sistema não apenas responda às demandas atuais, como também seja resiliente e capaz de suportar as necessidades futuras.
No entanto, para transformar a visão da “Finternet” em realidade, é necessário superar significativos desafios regulatórios e técnicos. Uma colaboração proativa entre os setores público e privado é essencial para desenvolver uma infraestrutura financeira digital que seja eficiente e acessível a todos. Questões legais e de governança também precisam ser meticulosamente planejadas para assegurar a integridade e segurança do sistema, ao mesmo tempo que se fomenta a inovação no setor privado.
Em suma, a “Finternet” representa uma reestruturação da infraestrutura financeira global, focada em uma inclusão financeira mais ampla e uma economia global mais interconectada e digital. Com uma implementação bem-sucedida, poderemos cumprir a promessa de uma verdadeira inclusão financeira. Esta visão ambiciosa, porém, requer esforços colaborativos entre todas as partes interessadas que regem o sistema financeiro global. E o Brasil pode desempenhar um papel crucial nesse processo transformador.
*Rogerio Melfi é membro da curadoria da ABFintechs.
Este espaço é dos líderes da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs). As opiniões aqui representam a visão da entidade, e não a do Finsiders Brasil.