Opinião

Inovação financeira e tecnológica nos pagamentos nos EUA e no Brasil

Wilian Domingues*

Os sistemas de pagamento sempre foram os pilares silenciosos de qualquer economia. No entanto, os Estados Unidos e o Brasil têm abordado suas infraestruturas de pagamento de maneiras distintas.

Sabemos que os Estados Unidos são amplamente reconhecidos como uma potência econômica mundial, mas paradoxalmente, sua infraestrutura de pagamentos é percebida como desatualizada e ineficiente. A chegada do FedNow, lançado pelo Federal Reserv em julho de 2023 simboliza um salto significativo no campo das inovações financeiras e tecnológicas. Mais tarde você entenderá que ele poderá ser chamado de PIX by USA.

Aspecto Financeiro

Por muito tempo o sistema bancário norte-americano baseou-se em métodos como ACH (Automated Clearing House – uma rede para transferências bancárias eletrônicas), que são nos finalmente cheques e redes de cartões. A questão é que a latência na liquidação desses sistemas tornou-se um obstáculo financeiro e operacional. O FedNow não apenas promete liquidar transações quase instantaneamente, mas também integra uma variedade diversificada de formas de pagamento, como B2C, B2B e P2P.

O aumento das fintechs e aplicativos como CashApp e Venmo davam um indicador que haveria mudanças, mas no final vimos que essas empresas ainda operavam nos trilhos ACH.  O desafio da modernização dos pagamentos sempre foi em adotar novas tecnologias sem que houvesse a possibilidade de comprometer a estabilidade. Embora o ACH seja “lento”, ele sempre foi estável.

O FedNow, operando 24/7 e com uma abordagem “push-only”, destaca o compromisso dos EUA em adotar inovações tecnológicas sem sacrificar a confiabilidade.

Até agora algo como 35 instituições financeiras estão a bordo do projeto e o FedNow tem potencial para democratizar o acesso ao sistema de pagamentos em tempo real, potencialmente incentivando mais transações e, assim, contribuindo para um ciclo econômico mais fluido e dinâmico. Algo que vimos no Brasil com o PIX e com a bancarização em massa quando tivemos a pandemia.

Se traçarmos uma linha comparativa, o Brasil, por outro lado, conseguiu rapidamente implantar o PIX e ele já nasceu como uma reposta moderna às necessidades de uma população que demandava mais rapidez e menos burocracia em seus pagamentos.

Transformação social

Para os Estados Unidos, o desafio está em superar a inércia de sistemas antigos. O FedNow, ao oferecer um sistema mais eficiente, abre caminho para a reinvenção da paisagem financeira do país. A pandemia apenas enfatizou a necessidade dessa inovação. No entanto, é crucial que instituições financeiras de todos os tamanhos, desde gigantes como Goldman Sachs até bancos comunitários locais, adotem e promovam essa mudança.

No Brasil, por sua vez, desde o início, o PIX não foi apenas uma plataforma de pagamento; tornou-se um agente de transformação social. Em um país onde a desigualdade muitas vezes dita o acesso a serviços essenciais, o PIX conseguiu democratizar as transações financeiras. Aliado a isso o surgimento de diversos bancos digitais acelerou mais ainda essa equação. Além disso, comunidades anteriormente desbancarizadas encontraram no PIX uma ferramenta de inclusão, reduzindo a dependência do dinheiro físico e possibilitando um ecossistema financeiro mais seguro e transparente.

Futurismo

Talvez num futuro sua identidade financeira, saúde, educação e até mesmo sua pegada de carbono estão interligadas em uma rede de pagamentos. Se o PIX se mantiver forte como hoje ele poderá servir como portais para um ecossistema digital mais amplo. Poderíamos estar olhando para sistemas de pagamento que se integram perfeitamente com Internet das Coisas (IoT), permitindo pagar os abastecimentos automaticamente ou até que nossas geladeiras reabasteçam automaticamente quando os alimentos estão escassos, tudo isso usando a plataforma do PIX como meio de pagamento B2C, B2B ou P2P.

Se você pensar no PIX como uma super plataforma integrada a blockchain e contratos inteligentes, podemos ver uma hiper conectividade no médio prazo.

Conclusão

É fundamental a contínua e acentuada inovação nos sistemas de pagamento. Tanto os EUA quanto o Brasil têm lições a aprender um com o outro. Enquanto os EUA buscam acelerar sua adaptação, o Brasil pode mostrar como uma nação pode rapidamente adotar e se beneficiar de sistemas financeiros modernos. O futuro promete ser emocionante para ambas as nações. Vejo que temos uma nova corrida a supremacia financeira de pagamentos e ouso dizer que nosso atleta tem feito resultados ótimos em seus treinos.

* CIO da Paschoalotto